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Estresse e indignação
Estresse e indignação
Por NUBIA SILVEIRA*
Sou bombardeada, diariamente, como a maioria dos brasileiros, com notícias verdadeiras e mentirosas. Ambas me deixam estressada e indignada. Passo meus dias pensando qual a saída política para o Brasil, atualmente, entregue aos integrantes do Congresso Nacional, que só pensam em dinheiro e em encaminhá-lo para quem pode garantir que serão eleitos nas próximas eleições. Isto significa, claro, que não teremos mudanças em nenhuma das duas casas – Senado e Congresso. Continuaremos nas mãos de negociadores, que jamais saem do palanque eleitoral. Mal termina uma eleição começam a pensar como obter mais dinheiro do Tesouro Nacional – nosso dinheiro – para satisfazer seus cabos eleitorais e até seus parentes, com recursos para construir, inclusive, estradas que levam a propriedades de seus conhecidos, que assim passam a valer muito mais.
Os bilhões de reais – os congressistas falam deles como se estivessem falando apenas de algumas moedas, já difíceis de encontrar –, exigidos por deputados e senadores, afetam as áreas de educação e saúde, sem que eles sintam a menor ponta de remorso por isto. O que os interessa é se manter no poder e satisfazer as elites econômica. O tema desta turma é “muito para mim e os meus” e nada para os que passam fome, os que esperam por uma cirurgia e morrem antes que ela aconteça, e as crianças que, nas escolas, além de aprender a ler e somar, recebem, muitas vezes, a única refeição, que terão no dia.
Não entendo – e daí vem a minha grande indignação e estresse – como estas pessoas que prometem mundos e fundos, nas campanhas eleitorais, provam que são mentirosos, no primeiro dia de trabalho no Congresso. São políticos – com raras exceções – que não se importam com os problemas dos menos favorecidos. Não têm um pingo de solidariedade. Não olham para as classes inferiores. Se pensarmos bem, não olham para ninguém a não ser para eles mesmos e como manter-se no poder. Esta é uma triste realidade.
Sei que não estou dizendo nada de novo, mas, pelo menos, estou desabafando não apenas por mim, mas por aqueles que não têm meios para mostrar o seu sofrimento. Outra pergunta que me atormenta é onde erramos ao redemocratizar o Brasil. Nos vimos livres de uma ditadura, depois, de 21 anos, e na primeira eleição presidencial livre de censura e outras amarradas, o Brasil elegeu um corrupto. Mas ainda teve forças para tirá-lo do Planalto. Em menos de três décadas, porém, voltamos a cair no fosso da corrupção, do tudo para mim e a minha quadrilha e nada para o outro.
Um dia destes ouvi uma cientista social dizer que os eleitores cansaram de governos dedicados apenas às minorias – na verdade, a maioria que sempre foi invisível para estas pessoas – e por isto os eleitores votaram e deram vitória a candidatos da direita. Se isto é uma verdade, vivemos num pais egoísta, interesseiro, indiferente à dor de crianças, jovens, adultos e velhos, que dependem do Estado para viver com alguma dignidade.
Minha angústia é a de não saber até quando teremos um país comandado por Liras e Pachecos egocêntricos e sem uma gota sequer de generosidade. Não consigo ver a luz no final do túnel. Para este sentimento colabora também a imprensa, a grande imprensa, que, como alertou Alberto Villas no seu O Sol, não são capazes de dar uma boa notícia, sem acrescer a ela um mas. Isto é bom, mas aquilo é ruim. É triste, dolorido e depressivo se ver sem uma saída para o país.
*Nubia Silveira é jornalista.
Foto de capa: Reprodução
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