?>

Opinião

Emilia Ferreiro, presente!

Emilia Ferreiro, presente!

Artigo por RED
05/09/2023 05:30 • Atualizado em 06/09/2023 15:46
Emilia Ferreiro, presente!

De DÉBORA FERRARI MARTINEZ* e LUCIANE LEITE**

Emilia Ferreiro, pedagoga, linguista e psicóloga morreu no sábado, 26 de agosto, aos 86 anos de idade. Com atuação especial nas pesquisas em alfabetização e educação, é considerada uma das principais teóricas do campo na América do Sul e no mundo, e tem legado fundamental para a área.

Nascida em 1936, Emilia Ferreiro formou-se em Psicologia pela Universidade de Buenos Aires. Realizou seu doutorado na Suíça, sob orientação de Jean Piaget, seguindo a linha de pesquisa da Psicolinguística Genética. As ideias e conceitos das teorias piagetianas foram determinantes para a percepção de Emília acerca da educação e do desenvolvimento infantil.

A obra “Psicogênese da Língua Escrita”, publicada nos anos de 1970, pode ser considerada um marco divisor nos estudos sobre alfabetização na América Latina e no Brasil. Antes da publicação do livro, a discussão centrava-se na análise de métodos de ensino e suas repercussões no ato de alfabetizar. Emilia Ferreiro, juntamente com Ana Teberoski, descreve na pesquisa apresentada no livro o processo de aquisição da língua escrita a partir da perspectiva das crianças. O foco, que antes era em como se ensina, passa a ser em como se aprende a ler e a escrever.

O trabalho das autoras trouxe reflexões fundamentais acerca do desenvolvimento de didáticas que dialogassem com os processos dos aprendizes e com as práticas sociais de escrita trazidas pelas crianças ao ambiente escolar. A existência de um espaço de elaboração do sujeito foi fundamental na revisão de objetivos e planejamentos pedagógicos, até mesmo nos currículos escolares.

Além do comprometimento teórico, nos trabalhos de Emilia Ferreiro percebemos uma preocupação com a realidade social e educacional da América Latina. Ela parte do contexto argentino para depois se dedicar a implementar pesquisas em outros países, com auxílio de colaboradores, inclusive no Brasil. Tal preocupação se deve ao fato desses países mostrarem, especialmente nos segmentos sociais marginalizados, índices de fracasso alarmantes no que se refere à alfabetização. Ferreiro cria redes de trabalho para pedagogos e educadores repensarem o ciclo de fracassos na alfabetização e buscarem alternativas didáticas que olhem para o sujeito que está aprendendo como parte do processo.

Hoje, quase cinquenta anos depois da publicação de suas primeiras obras, o trabalho de Emilia Ferreiro continua sendo apontado como fundamental para compreensão do campo da alfabetização. Com seu falecimento, fica a necessidade de continuarmos comprometidos em proteger o direito à alfabetização de crianças, jovens e adultos.


*Pedagoga, mestre em Educação pela UFSC. **Pedagoga, mestre em Educação pela UFRGS. Ambas docentes do Colégio de Aplicação da UFRGS na área dos anos iniciais do Departamento de Humanidades e  filiadas da ADUFRGS Sindical.

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia. 

Toque novamente para sair.