Destaque
Elogio à violência
Elogio à violência
De DOMINGOS ALEXANDRE*
O 1% mais rico no Brasil e no mundo pratica a violência e não apenas incita. Não estamos aqui referindo a violência diária comum.
Consta no “Manifesto do Partido Comunista”: “As ideias dominantes de uma época sempre foram as ideias da classe dominante” [1]. Examinando os dez maiores bilionários da Forbes, fica evidenciado que são investidores e/ouproprietários de bancos, petrolíferas, mineradoras, da indústria armamentista, dos grandes jornais e redes de televisão, das grandes cias. Cinematográficas e das Big Techs etc., ou seja, entre aquele um por cento que constitui o topo da pirâmide social, estão aqueles que elaboram e propagam as ideias dominantes, isto é fato. Tudo muito em consonância com as previsões do Lênin em sua obra “Imperialismo, fase superior do capitalismo”.
Sem querer confrontar a legião de seguidores de Marx e Engels, podemos assentir que alguns vaticínios dos pais do materialismo histórico não se confirmaram. Como exemplo podemos citar a convicção que tinham de que a união era o destino dos proletários: “De tempos em tempos os trabalhadores saem vitoriosos. Mas é um triunfo efêmero. O verdadeiro resultado de suas lutas não é o sucesso imediato, mas a união crescente” [2]. Se existe uma fração da população mundial que merece a definição de desunida, certamente é aquela situada na metade de baixo da pirâmide social.
Não há como afirmar que ser de esquerda ou progressista é garantia de virtude e nem que a população pobre seja infensa ao erro. Bem como ninguém em sã consciência pode sustentar que alguém, identificado à direita do espectro político, não tenha apreço à justiça e à solidariedade e que o rico seja incapaz de gestos elevados e de desejar o bem comum. Mas temos que aceitar que a mentalidade neoliberal de “o vencedor leva tudo” é um traço que identifica mais a direita e que o traje imperfeito do egoísmo, o abastado veste melhor.
Contestar estas asserções só seria compreensível para aqueles que não estão familiarizados com as pesquisas do Thomas Piketty e que não leram a obra organizada por Pedro Henrique Pedreira Campos e Rafael Vaz da Motta Brandão com o título: Os Donos do Capital pela Autografia, onde diversos autores narram as manobras e os estratagemas utilizados pelas dez famílias mais ricas do Brasil.
Atentem para a norma jurídica que diz que incitação à violência é crime. Primeiro porque o 1% mais rico no Brasil e no mundo pratica a violência e não apenas incita. Não estamos aqui referindo a violência diária comum, estamos falando das grandes trapaças e corrupções que são a rotina dos governantes e plutocratas. Examinemos os atentados que os sucessivos governos israelenses cometem contra os Palestinos. No fim do século XIX e início do XX iniciaram comprando algumas terras de famílias palestinas, cujos ancestrais ali viviam há vários séculos. Depois que a Assembleia Geral da ONU, presidida pelo gaúcho Oswaldo Aranha sancionou em 1947/48 a criação de dois Estados, os sucessivos governos israelenses passaram a tomar pela força das armas a terra dos Palestinos. Com o respaldo de potências ocidentais e especialmente dos EUA e com um exército poderoso foram sistematicamente expulsando os palestinos de suas terras ancestrais e têm o atrevimento e a falta de vergonha de acusar o Hamas de terrorismo. Na Ucrânia quantos soldados russos e ucranianos já foram dizimados? Dizem que foram mais de duzentas mil o total de vidas perdidas. Quo Bono? Em benefício de quem? Quem lucra com a guerra da Ucrânia ou com qualquer guerra? Sempre aquele 1% do topo da pirâmide que é o mesmo que elabora as ideias dominantes e que cria regras dizendo que incitar a violência é crime. No Brasil o que se vê? Manipulação da taxa Selic por integrantes do BC, tentativa de privatizar a costa brasileira, extinção unilateral de planos de saúde, tudo interesse dos “de cima”.
Segundo porque, se os acontecimentos presentes são terríveis, nada indica que irá melhorar, ao contrário, os abusos das plutocracias tendem a se tornarem insuportáveis chegando ao cúmulo de isolá-las colocando-as fora do alcance das leis e das responsabilidades inerentes à vida em sociedade. A tecnologia potencializa o problema “…no futuro, com digitalização ainda maior e a disseminação de robôs e inteligência artificial” [3]. A grande incógnita é como se portará a fração da população mundial situada entre os 50% mais pobres e os 10% mais ricos. Será que, iludidos com a perspectiva de no futuro virem a fazer parte dos 10% mais ricos, continuarão acumpliciados com a plutocracia? Ou despertarão para a necessidade de se juntarem aos debaixo na defesa de Leis e instituições comprometidas com legislação justa e inclusiva, contemplando toda a humanidade, como já pregam importantes lideranças?
Fique claro que a substituição de uma potência por outra não soluciona a questão. Resta uma tênue esperança de que as classes subalternas e intermediárias façam bom uso da violência de que sempre foram vítimas, afinal toda a riqueza existe por mérito principalmente da força do trabalho e pela exploração das matérias primas extraídas do seio da Terra, sobre às quais todo o ser humano deveria ter os mesmos direitos.
A violência em si não é um mal. É um fenômeno da natureza que, se bem empregada, pode até ser bela e necessária como a que aparece na cena de um filme em que Heitor, filho de Príamo, enfrenta o semideus grego Aquiles, na defesa de sua amada Tróia. Que lindo será o dia em que, com violenta disposição, as classes intermediárias resolverem exterminar com a violência que sempre foi instrumento das classes dominantes.
Notas
[1] Manifesto do Partido Comunista. Karl Marx, Friedrich Engels. Expressão Popular. São Paulo.2008. pág.42
[2] Ib Idem. pág. 24
[3] Depois de Piketty. Org. Heater Boushey, J.B.Delong, Marshall Steinbaum. Estação Liberdade. São Paulo. Cap.08. pág. 242.
*Bacharel em história pela UFRGS.
Imagem: Pixabay
Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.
Toque novamente para sair.