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Eleição de Donald Trump

Eleição de Donald Trump

Internacional por RED
07/11/2024 17:02
Eleição de Donald Trump

Por LINCOLN PENNA*

Quando estive no exterior em 1968 fui indagado sobre as eleições nos Estados Unidos, que estava em curso. Naquele ano, disputavam a presidência três candidatos, a saber: o republicano Richard Nixon, o democrata Hubert Humphrey e o independente George Wallace. Na ocasião e diante de uma indagação que me fora feito de supetão respondi que eram todos representantes de um sistema eleitoral, cuja escolha dos eleitores de cada estado obedecia menos aos eventuais programas a distingui-los do que o que cada um deles possuía de familiaridade com o perfil norte-americano.

Em outras palavras, todos integravam grupos de poder econômico e político. Logo, a opção do eleitor médio, aquele que não segue rigorosamente partidos políticos ou tendências que embalam os debates, costuma prevalecer. Evidentemente, situações de extremas incertezas como os que se passaram por ocasião da Grande Depressão, de 1929 a 1933/34, que emponderou o presidente Franklin Roosevelt, pode vir a dar mais consistência a alguma liderança política. Fora isso, não existiu historicamente candidaturas que questionassem as estruturas do país. As mais progressistas (liberais para os padrões definitórios dos analistas políticos daquele país) sempre foram rejeitadas.

Contudo, há os que julgam que exista duas questões que definiriam as diferenças entre os dois grandes partidos que disputam a preferência dos norte-americanos: a política interna, especialmente a de direitos sociais, mais cara aos democratas; e, a política externa, que tem sido sinalizada por um maior intervencionismo também por parte dos democratas.
Nessa eleição, em particular, tanto a política interna quanto a externa, com as filigranas de sempre, favoreceram os republicanos. A questão econômica afetou como sempre os mais vulneráveis, e Trump e seus marqueteiros souberam tirar proveito dessa situação fartamente presente ao longo da campanha eleitoral.

No que diz respeito à política externa os gastos militares do governo democrata de Biden nos conflitos que têm se efetivado em algumas partes do mundo, particularmente na defesa do governo ucraniano e no reforço para aumentar o poder bélico israelense pesaram no aumento dos gastos públicos e foi bem explorado por Trump. Cabe acentuar as críticas por ele desferidas à manutenção desse poder de dissuasão adotado pelos EUA a sustentar praticamente sozinho os multiplicados arsenais da OTAN, que só se mantém em razão do apoio material e financeiro do mais poderoso parcelo dessa organização criada no imediato pós-segunda guerra mundial.

Para os aliados mais tradicionais dos EUA, a volta de Trump cria expectativas quanto aos compromissos diante do crescimento dos BRICS no que respeita e das muitas ameaças de forças extralegais que têm se alastrado em grande parte pelo não reconhecimento de uma das resoluções da ONU, como é o caso da criação do estado da Palestina e o reconhecimento, portanto, esse direito. A adoção de métodos que violam dispositivos próprios à convivência das diferenças, como o recurso a atos violentos por parte de movimentos pró-palestina como o Hamas acabam criando as condições propícias para o incremento da indústria de guerra com o objetivo de manter intacto o domínio do império do capital com sede nos EUA.

No caso do Brasil, parte de fundamental importância em todos os níveis da América Latina, a eleição de Trump não deve ser tão mais desastrosa quanto se propala. O que deve acontecer, no entanto, é o isolacionismo que Trump irá certamente adotar em relação aos seus vizinhos americanos. Essa política de restrição à imigração é típica de lideranças autocráticas, por isso mesmo antidemocráticas, que pode excitar os saudosistas nazifascistas que a adotaram para justificar uma política expansionista, apesar da sistemática narrativa isolacionista.

É curioso que em sua campanha Trump tenha reeditado e ilustrado o seu slogan “Make America Great Again”, que postou num boné como fizera quando de sua primeira eleição, e que aqui foi imitado pelo candidato à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal. Assim, ganhou também não só a força das redes sociais como as imagens que a rigor não dizem nada, ou melhor dizem apenas tratar-se da crescente miséria da política exemplificada na ausência de um discurso argumentativo capaz de falar aos corações e mentes daqueles que ainda acreditam basta eleger representantes, cujo retorno às demandas dos representados quase sempre inexiste no que é fundamental.

 

*Lincoln Penna É Doutor em História Social; Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (MODECON); Vice-presidente do IBEP (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos).

Foto de capa: Peter Foley / EPA / Lusa

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