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Opinião

Eita gente que distorce tudo o que a gente fala!

Eita gente que distorce tudo o que a gente fala!

Artigo por RED
04/03/2023 05:30 • Atualizado em 06/03/2023 08:48
Eita gente que distorce tudo o que a gente fala!

De EDELBERTO BEHS*

O vereador macho alfa, inspirado quiçá pelo seu guru que está homiziado na Flórida e que aparece em foto ao seu lado na página do Facebook, viu, depois da fala racista proferida na Câmara Municipal de Caxias do Sul, a m… que fez e tirou do bolso o roteiro bolsonarista do “disse, mas não era isso que eu queria dizer”, “vocês entenderam mal”, “falei por metáfora”, “foi um lapso mental”, “foi no calor da hora” …

Para o jornal O Globo, Sandro Luiz Fantinel, 54 anos, alegou que foi “mal interpretado”, que não tem nada contra os baianos e que inclusive tem primos e amigos no Nordeste. Numa postagem do dia 17 de fevereiro passado, o vereador do Patriota, agora, aliás, ex-Patriota, porque foi expulso do partido político, anunciou o início do ano legislativo: “nosso trabalho será com certeza sempre direcionado pela Direita”.

Então, o ataque aos baianos e a defesa das vinícolas que contrataram trabalhadores “análogos a escravos”, para não dizer escravos, não surpreende, pois vem com o carimbo do “direcionamento pela direita”. E ao fazê-lo, o vereador talvez quisesse agradar o eleitorado bolsonarista da serra, uma vez que ele já concorreu a uma vaga à Assembleia Legislativa gaúcha, mas não entrou. Talvez quisesse com o tal discurso angariar alguns votos para uma próxima tentativa.

A safra bolsonarista na serra ocupada por descendentes de italianos é boa: Em Bento Gonçalves, Bolsonaro fez 75,80% dos votos no pleito passado; fez 74,81% em Garibaldi e 66,43% em Caxias do Sul!

Fantinel tentou colar o seu discurso ao ethos bolsonarista. Mas pela repercussão nacional das falas do edil, que pode perder o seu mandato, e é o que se espera, a cola saiu no lado errado. Daí ter que vir, depois, e alegar que ele foi mal interpretado.

Ora, é evidente que ele foi mal interpretado, às avessas. Quando ele disse que “a única cultura” que os baianos têm é “viver na praia tocando tambor”, o seu entendimento foi bem outro do que a coletividade interpretou.

Oh, povo ingrato, vocês não entenderam nada. O vereador “pessoa de bem”, da direita, quis enaltecer a arte dos baianos com os tambores, que chegam com seus sons até os deuses e pedem perdão pelas falhas que cometemos. Deixem os baianos com essa tarefa espiritual, deixem que eles fiquem na praia pedindo o perdão por nós. Foi isso que ele tentou dizer.

Quando ironizou “agora o patrão tem que pagar empregada para fazer a limpeza para os bonitos também?”, Fantinel quis dizer, e claro que a gente não entendeu, que as vinícolas não podiam arcar com a despesa de diárias de 207 pessoas em hotel cinco estrelas. Compreensível, não é?

Quando o vereador seguidor do seu mito sugeriu que o pessoal de Bento empregasse argentinos, porque são “limpos, trabalhadores, corretos”, ele não quis insinuar que os baianos eram “sujos, preguiçosos e incorretos”. De novo, que povo que não entende o que uma pessoa de bem quer dizer e distorce tudo! Ele quis dizer que o sabonete que os argentinos usam ao tomar banho é mais cheiroso que o dos baianos. E, evidente, é uma tremenda distorção querer inferir que ele tenha chamado os baianos de preguiçosos e incorretos.

Imaginem, como poderiam ser preguiçosos e incorretos se levavam porrada para trabalhar, faziam fartas refeições assim que tinham forças para carregar caixotes de uva até 15 horas por dia, e pagavam um preço justo pelo que consumiam da venda da esquina!

Ora, que ingratidão estão aplicando ao vereador ex-Patriota – nem o partido o suportou -, que declarou, ao O Globo, que o povo baiano é “muito querido” e que ele adora “as praias de lá”. Mas para trabalhar, ele prefere os argentinos. Valeria uma investigação para verificar em que condições esses argentinos queridos estão trabalhando na serra gaúcha. Só não façam leituras erradas do que o vereador afirmou, seus ingratos.


*Professor, teólogo e jornalista.

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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