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É o melhor Natal desde 2013, mas não parece

É o melhor Natal desde 2013, mas não parece

Opinião por RED
25/12/2024 17:43
É o melhor Natal desde 2013, mas não parece

Por VINICIUS TORRES FREIRE*, na Folha de São Paulo

Pesquisas indicam mal-estar, economia não explica pessimismo, que cresce

A leitora diria que o clima no país está bom? É pergunta vaga, que suscita respostas impressionistas. Mas é apenas de um jogo, um exercício mental. Desconsidere, por ora, avaliação mais objetiva sobre condições materiais de vida ou sobre o estado da política, por exemplo. Como parece o humor de seus concidadãos?

Vivemos o “melhor Natal” desde 2013. A expressão vai entre aspas porque costuma apenas descrever balanços de vendas do comércio ou de indicadores como salário médio ou renda per capita. As pessoas podem estar insatisfeitas com sua situação econômica ainda que tenham melhorado de vida. Podem ter insatisfações gerais mesmo que reconheçam melhoras na economia.

Em 2023, a renda (PIB) per capita voltou ao pico anterior, de 2013. Em 2024, será a maior desde sempre. O salário médio será o maior. O nível de pobreza será o mínimo. O consumo médio por pessoa será pelo menos igual ao do recorde de 2013. A desigualdade não mudou a ponto de alterar o peso desses números, se mudou.

A avaliação do presidente Lula está em nível medíocre (35% de “ótimo/bom”, 34% de “ruim/péssimo”), segundo o Datafolha de dezembro. Em relação aos últimos seis meses, a economia está pior para 40% (eram 29% em setembro de 2023), segundo pesquisa Ipec de dezembro. Nos próximos seis meses, vai melhorar para 39% (ante 51% em setembro de 2023).

Deixamos para trás uma década de depressão. O problema é que saímos faz pouco tempo do buraco e talvez não exista segurança de que a melhora persista? A maioria da população não está informada quanto a previsões macroeconômicas ou pacote fiscal. Não vem daí o mau humor.

Uma década ruim deixou traumas? Tivemos Junho de 2013, decepção pós-eleição de 2014, Lava Jato, impeachment, Grande Recessão de 2014-16, prisão de Lula, estagnação de 2017-19, Covid, a grande miséria de 2021 (quando o povo sem emprego foi largado na fome por Jair Bolsonaro).

A confiança do consumidor medida pela FGV (Fundação Getulio Vargas) jamais se recuperou da crise que começou em 2014. É um indicador de avaliação de situação e expectativa quanto à economia, à condição financeira da família etc.

Confiança abaixo de 100 significa que há mais avaliações negativas do que positivas. O índice não passa de 100 desde dezembro de 2013. Excluindo o período da epidemia, foi ao fundo do poço em setembro de 2015 (64,5). Subiu à casa de 95 em setembro de 2023 e em novembro de 2024. Em dezembro, ficou em 92.

Considere-se um indicador aproximado de otimismo com o país, de uma pesquisa do centro Pew (EUA). Em 2010, 53% dos brasileiros achavam que o Brasil “um dia será” “uma das nações mais poderosas do mundo”; “nunca será”: 20%. Em 2017, os números eram respectivamente 31% e 48%.

Neste 2024, 38% e 34%, ainda longe de 2010. A satisfação com o “funcionamento da democracia” sob Dilma 1 era de 66%; em 2024, de 44%.

Há “polarização”, política, cultural, religiosa.

Para quem votou em Bolsonaro em 2022, o país está no “caminho errado” para 82%, segundo pesquisa Ipec; no “caminho certo” para 13%. Para os eleitores de Lula, 23% e 72%, respectivamente.

Década e meia de expansão de redes sociais e a disseminação do ódio e da desrazão não ajudam. O temor de golpe, autoritarismo e violência política, assim como os mitos do risco de comunismo e de opressão “identitária”, pioram o clima.

Ainda assim, o mal-estar é intrigante.

*Vinicius Torres Freire é articulista da Folha de São Paulo

Este texto foi publicado originalmente na Folha de São Paulo, na edição do dia 25/12/2025

Foto da capa:  Ruas e praças de Boa Vista (RO) são decoradas para o Natal – Pinterest

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