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Opinião

É hora da civilização da indústria, por Luís Nassif

É hora da civilização da indústria, por Luís Nassif

Artigo por RED
10/08/2023 12:39 • Atualizado em 12/08/2023 23:24
É hora da civilização da indústria, por Luís Nassif

A única saída para o país será reeditar a saga da indústria, não como substituta de importações, mas como inovação e empreendedorismo.

O termo foi cunhado na década de 40 por Roberto Simonsen, fundador da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, e maior líder empresarial da história. Visava criar a utopia de um país se industrializando, com pactos civilizatórios entre empresas e empregados, saindo da economia agroexportadora de então. A ideia era mobilizar corações e mentes em direção a esse projeto.

Em pleno século 21, a única saída para o país será reeditar a saga da indústria, não mais como mera substituta de importações, mas como espaço de inovação e empreendedorismo.

Desde o plano Real, a financeirização acabou com a saga do empreendedor. O empreendedor não era mais o bravo que montava um novo negócio, explorava condições de mercado, obtinha financiamentos do BNDES e gerava novos fornecedores e novos empregos. Passou a ser substituído pela imagem do yuppie da Faria Lima, administrando fundos de investimento preocupados apenas em arbitrar valores, comprando barato, vendendo caro.

Não há termos de comparação entre o empreendedorismo da economia real e as arbitragens do mercado financeiro. O mercado, aliás, só se legitima politicamente quando ajuda na reciclagem da economia, investindo e correndo riscos em novos setores.

Não é isso que ocorre no Brasil e nas economias dominadas pela financeirização. Tome-se o caso das refinarias brasileiras. Havia necessidade de ampliar o parque de produção. Bastaria autorizar novos empreendimentos. Mas o capital financeiro só se interessava em adquirir refinarias já existentes. No caso recente, em operações eivadas de suspeita de corrupção.

Nesses anos todos, abandonou-se a ideia do fortalecimento de setores, de programas de integração de pequenas e médias empresas ou pela opção pelos tais campeões nacionais ou pelo aumento irresponsável dos custos de financiamento do BNDES.

O que estava por trás dessa mudança? Simples. O empreendedor da economia real necessita de capital para implantar seu negócio. Se obtém financiamentos a juros civilizados, quando for buscar capital de risco, terá muito mais fôlego para negociar futuros aportes de capital a preços justos. Sem os financiamentos do BNDES, qualquer aumento de capital é feito na bacia das almas, já que os recursos financeiros tornam-se escassos.

A opinião pública precisa recuperar a figura desse empreendedor, do sistema de financiamento da inovação, das formas de organização da produção dos pequenos.

O Brasil tem larga tradição de organização empresarial, das cooperativas aos Arranjos Produtivos Locais, dos consórcios ao modelo do Movimento dos Sem Terra.

Em outros tempos, experimentou os parques tecnológicos e outras maneiras de aproximar o pesquisador das empresas. A energia de qualquer política desenvolvimentista depende desses novos atores. Não temos mais os capitães da indústria dos anos 90, os Jorge Gerdau, Paulo Villares, Paulo Cunha, Antônio Ermírio de Moraes. A nova saga terá que ser criada, com a volta da ideologia da industrialização que perdeu em algum momento do pós-Real. Não há nada mais significativo dessa massacre ideológico do que o empresário industrial julgar que um país se constrói com uma lógica financeira que liquida com seu próprio negócio.

O fracasso da ultra financeirização, o debate mundial – que uma hora chegará ao país – em breve poderá produzir uma nova mística industrial, capaz de superar a destruição imposta pela Lava Jato e pelo sentimento anti-produção que historicamente marcou o país.


Publicado no GGN.

Foto: Pixabay.

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