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Direita adota prática gramsciana
Direita adota prática gramsciana
De ALEXANDRE CRUZ*
Estreia o site da Rede Estação Democracia. Um movimento importante de comunicação. Um outro modo de ver o mundo político. É a pluralidade no meio de um bloco monolítico das versões da mídia tradicional. Os principais rivais políticos da esquerda são os atores midiáticos. Muito mais que os atores convencionais, que são os partidos políticos de direita. Com isso, não quero que me interpretem mal que sou contra a imprensa. A dita liberdade de imprensa. Muito pelo contrário. Sou extremamente a favor do jornalismo. Que busquem a imparcialidade, o equilíbrio. Cito o exemplo do colega jornalista Reinaldo Azevedo, O é da Coisa, na BandNews, que possui um programa de opinião, de análise e de informação onde teve uma postura crítica ao governo do PT quando governou Brasil e hoje faz duras críticas ao desgoverno Bolsonaro com a sua prática fascista. A posição do jornalista Azevedo é honesta. Inclusive, reconheceu erros que ele cometeu nos governos petistas. E este jornalista deixou de ser de direita? De modo algum, mas sabe realizar a diferença quem defende a democracia e quem postula a ser ditador, que é o caso do Jair Bolsonaro.
Quando me refiro que os meios de comunicação são rivais da esquerda é porque banqueiros, empresários que detém esses veículos de comunicação possuem o negócio não é porque seja altamente rentável e sim que buscam influenciar e determinar as eleições como também os governos. Isso me faz lembrar o livro Número Zero, do italiano Umberto Eco, do qual um personagem da classe dominante compra um jornal, contrata um jornalista para dirigir este veículo de comunicação; com a simples finalidade de deixar ameaças aos aliados e rivais do campo político.
Numa sociedade midiatizada como a nossa, com pouco hábito de leitura, quem domina agenda, domina a política. Claro, que isso não ocorre somente no Brasil e sim, também, em outras sociedades. No entanto, aqui, no nosso país, o jogo é mais pesado e muito menos democrático. Portanto, é a mídia que domina agenda. Seja agenda da corrupção, seja agenda econômica etc.
Os partidos de esquerda no Brasil me parecem que não se dão conta desta correlação de força midiática. Pelo menos, eu não percebi: seja no governo Lula como no governo Dilma. Inclusive, as rádios comunitárias tiveram pouco incentivo. Há uma ingenuidade do campo da esquerda quando não compreendem que sem a mudança da correlação de força midiática das forças é muito difícil mudar um país. O líder trabalhista Leonel Brizola foi uma exceção que tinha consciência disso. Talvez, não muita, mas tinha!
Nos Estados Unidos, um dos fatores que levou Trump a governar foi o canal de notícias Fox, que normalizou a notícia como arma política. No Brasil, temos a Joven Pan (São Paulo), que recentemente levou uma multa do TSE e o mesmo Tribunal puniu a Rádio Guaíba (Porto Alegre) por mais de seis dias sem ir ao ar por normalizar as mentiras e divulgar notícias falsas (fake news) de uma forma ciente para o seu público ouvinte. São duas rádios, que renunciaram o jornalismo e vestiram as trajes da mentira do bolsonarismo! Isso demonstra que a maior ameaça da democracia no mundo é a direita e a extrema direita midiática.
Num eventual governo Lula deve se permitir realizar este questionamento. Se a Igreja evangélica pode ser dona de um grupo de comunicação de televisão, rádio, jornal e por que não os sindicatos? Por que não associação de moradores? E por que não o movimento estudantil? Obviamente, é necessário fundos públicos para o direito a informação e o direito a informação é um direito a cidadania. A esquerda brasileira tem que ter bem claro que a direita tem sido mais gramsciana que a esquerda. Quem domina o poder do relato, domina a realidade!
*Jornalista
Foto Valter Campanato Agência Brasil
As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.
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