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Diante da ascensão da extrema direita, qual caminho para a esquerda francesa?

Diante da ascensão da extrema direita, qual caminho para a esquerda francesa?

Artigo por RED
12/06/2024 14:17
Diante da ascensão da extrema direita, qual caminho para a esquerda francesa?

De ALEXANDRE CRUZ*

A recente derrota do presidente Emmanuel Macron nas eleições para o Parlamento Europeu trouxe à tona uma série de desafios políticos e estratégicos para a França. Com o avanço expressivo do partido de extrema-direita Reunião Nacional (RN), liderado por Marine Le Pen, e o desempenho sólido do partido de esquerda France Insoumise de Jean-Luc Mélenchon, o cenário político francês está mais polarizado do que nunca. Neste contexto, a esquerda francesa enfrenta um dilema crucial: deve formar uma unidade contra Macron e a extrema-direita ou buscar alianças estratégicas com o centro-direitista Emmanuel Macron?
A performance avassaladora do RN nas eleições europeias, com 31,5% dos votos, mais que o dobro da aliança de Emmanuel Macron que obteve 15,2%, é um reflexo do descontentamento popular com o governo atual. Esta vitória não apenas reforça a posição de Le Pen, mas também sinaliza um possível rearranjo nas futuras eleições legislativas convocadas para o final de junho e início de julho.
A ascensão da extrema-direita não é um fenômeno isolado na França. Observamos uma tendência similar em várias partes da Europa, onde partidos eurocéticos e populistas ganham terreno em meio ao desencanto com as políticas econômicas neoliberais e a gestão da crise migratória.
A esquerda francesa, particularmente o partido France Insoumise, de Mélenchon, conseguiu manter uma base de apoio significativa. No entanto, a fragmentação interna e a falta de uma estratégia unificada têm limitado sua capacidade de se posicionar como uma alternativa viável tanto os ultras quanto a Macron.
Para a esquerda, a questão central é como reagir a esse cenário político polarizado. Alianças eleitorais com Emmanuel Macron podem ser vistas como uma traição aos princípios fundamentais da esquerda, especialmente considerando as políticas econômicas neoliberais do atual presidente e seu papel na aliança ocidental com Zelenski e a defesa da Ucrânia. Por outro lado, uma unidade da frente progressista frente a Macron e Marine Le Pen pode representar uma esperança para muitos eleitores que se sentem abandonados tanto pela esquerda tradicional quanto pela centro-direita.
A formação de uma unidade de esquerda é imperativa para enfrentar os desafios políticos atuais. Isso requer não apenas um alinhamento estratégico entre os diversos partidos do campo, mas também uma reconexão com a base histórica da classe trabalhadora. A esquerda precisa voltar a ser a voz daqueles que se sentem marginalizados pela globalização neoliberal e pelas políticas econômicas que beneficiam principalmente as elites urbanas educadas.
A questão da Ucrânia também complicou ainda mais o cenário. Emmanuel Macron, como um dos principais articuladores da defesa ocidental da Ucrânia contra a Rússia, representa uma postura firme contra a agressão de Putin. No entanto, o apoio a essa política de sanções e alianças militares também alienou uma parte significativa da população que vê essas ações como submissão aos interesses dos Estados Unidos e uma política externa agressiva que não atende aos interesses nacionais franceses.
A esquerda francesa está em uma encruzilhada histórica. Formar uma unidade robusta e coerente contra Macron e a extrema-direita é essencial não apenas para sua sobrevivência política, mas também para oferecer uma alternativa verdadeira ao povo francês. A reconquista da confiança dos eleitores, especialmente os jovens da classe trabalhadora que se sentem abandonados e sem esperança, deve ser a prioridade.
A luta contra os ultras não pode ser travada isoladamente; é necessário um esforço conjunto que transcenda diferenças ideológicas e se foque na defesa dos direitos sociais, da justiça social e da inclusão. Se a esquerda francesa falhar em se unir e oferecer uma visão convincente para o futuro, arrisca-se a ser irrelevante no cenário político, deixando o campo aberto para a extrema-direita moldar o futuro da França.

Foto: AFP

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