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Opinião

Dez respostas a Juremir Machado da Silva

Dez respostas a Juremir Machado da Silva

Artigo por RED
20/04/2023 05:30 • Atualizado em 21/04/2023 21:56
Dez respostas a Juremir Machado da Silva

De CARLOS ÁGUEDO PAIVA*

O jornalista Juremir Machado publicou no Jornal Matinal do dia 19 de abril de 2023 dez perguntas que ele gostaria de fazer a Lula. Não tenho qualquer procuração, mas respondi as dez questões da forma como penso e que, creio, não dista muito daquilo que Lula pensa e está fazendo.

1) Qual é mesmo a parte de responsabilidade da Ucrânia na invasão do seu território pela Rússia?

Manter por 8 anos uma guerra em Donbass contra população civil de etnia e língua russa após o golpe de Estado de 2014, baseado no ataque das milícias nazistas do batalhão Azov à população civil e à polícia de um governo legitimamente eleito em Kiev (ataques que nunca foram julgados). Além do não cumprimento dos acordos de Minsky e de permitir o ingresso de tropas e reforços da OTAN por 8 anos postadas a menos de 500 kms das duas capitais russas a despeito das inúmeras declarações da Rússia de que esta era a sua linha vermelha;

2) Dividir as responsabilidades entre invasor e invadido não significa justificar a agressão?

Pretender que o conflito teve início no dia 24 de fevereiro de 2022 é negar o morticínio da população de Donbass de etnia e língua russa durante oito anos de guerra em que tropas do Exército da Ucrânia e de milícias sustentadas com recursos públicos atacavam a população civil de um território do país. Isto é indignação seletiva de viés atlantista e otanista; a indignação de quem toma a Rússia, por princípio, como o Império do mal e não vê crime no uso do Exército para matar civis que se identificam como russos. É a mesma indignação de quem não consegue enxergar crimes no expansionismo do grande império, que desestabiliza governos eleitos e patrocina golpes mundo afora com suas revoluções alaranjadas e pelo bombardeio e ocupação sistemática de países de menor poder bélico e econômico;

3) Dizer que a Europa e os Estados Unidos estão ajudando a prolongar a guerra com o fornecimento de armas à Ucrânia não leva a concluir que sem isso o conflito já teria acabado com a vitória fácil e definitiva da Rússia?

Dizer que a OTAN sustenta e prolonga a guerra e o morticínio significa apenas dizer que a OTAN não está interessada em qualquer negociação de paz; que seu único interesse é sustentar por tempo indeterminado uma guerra contra a Rússia sem o uso de suas tropas, mas tomando os ucranianos com bucha de canhão;

4) O que o Brasil ganha culpando a Ucrânia pela invasão russa?

Nem o Brasil, nem qualquer outro país ou liderança política, culpa a Ucrânia pelo conflito. Quanto mais não seja porque a própria Ucrânia é um país dividido desde o Golpe de Maidan. Ninguém pode culpar a população de Donbass por ter sido morta. O Brasil apenas reconhece o fato elementar de que a Ucrânia, hoje, é governada por um títere dos EUA e da OTAN que apostou no jogo ocidental de fazer de seu país um instrumento da desestabilização da Rússia. O Brasil ganha muito ao adotar uma posição equidistante entre EUA & UE x Rússia & China, ganha autonomia, soberania e independência, torna-se um agente político com capacidade de intervenção no cenário mundial e foge do aprisionamento às malhas do imperialismo único, mantendo uma convivência saudável com o maior importador de nossos produtos (a China, responsável por nossos saldos comerciais positivos e nossas reservas) e o maior exportador de insumos agropecuários (a Rússia);

5) A inclinação do governo pelo lado russo não revela apenas o velho antiamericanismo de parte da esquerda brasileira?

A “velha” esquerda não é anti-americanista, é anti-imperialista e luta por um mundo multipolar. Não se trata de alinhamento tout court com a Rússia ou a China, trata-se de buscar o próprio espaço num mundo que não pode mais ter um único senhor e muitos escravos, e deve se constituir por muitos senhores sem qualquer escravidão;

6) Por que Cristiano Zanin seria o preferido para o STF?

Não sei se ele é o preferido, mas sei que um sujeito muito corajoso, que se dispôs a lutar contra o lawfare num momento em que defender o Lula era algo passível até de assassinato num país enlouquecido pelo bozofascismo;

7) Zanin estava certo em pedir que Sergio Moro fosse declarado parcial, mas dificilmente teria alcançado sucesso sem o trabalho do hacker que capturou as conversas entre o juiz e os procuradores da Lava Jato. Elevá-lo a ministro do STF será um agradecimento pelos bons serviços prestados?

Se Lula efetivamente vier a elevá-lo a ministro do STF não seria para pagar serviços prestados. Estes já foram adequadamente pagos. Se esta for a opção de Lula, ela tem por base apenas o reconhecimento de que um dos maiores perigos para a democracia brasileira hoje encontra-se na possibilidade do Judiciário promover lawfare e sancionar golpes (como o impeachment de Dilma) dando-lhes a aparência de legalidade. Temos que ter uma Suprema Corte comprometida com o enfrentamento do lawfare;

8 ) Com tantos processos da Lava Jato em curso no STF, Zanin terá de se declarar impedido de julgá-los. Não seria melhor indicar alguém menos implicado nas lides até agora?

Uma ínfima minoria dos processos da Lava-Jato que estão chegando ou por chegar ao STF envolvem Lula, seu ex-cliente. Zanin não teria porque se declarar impedido de julgar, por exemplo, a renovação do mandato de prisão de Tacla Duran determinado pela turma do TRF4, que ousa desrespeitar até deliberações do STF em defesa de Sergio Moro e de seus interesses;

9) Lenio Streck não seria um nome mais adequado?

Você tem todo o direito de achar que o Lênio é melhor. Batalhe por isso. Mobilize-se. Faça campanha. Ou, alternativamente, tente se eleger presidente no próximo pleito e indique-o você mesmo;

10) Qual a sensação íntima de estar no poder novamente?

Não me parece que os sentimentos íntimos do Lula sejam de sua conta. Aliás, eles não são da conta de ninguém mais, além dele próprio, da Janja, de seus familiares e amigos mais chegados.


*Doutor em economia e professor do mestrado em desenvolvimento da Faccat (Faculdades Integradas de Taquara).

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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