Opinião
Desenvolvimento sustentável e a noção de sustentabilidade
Desenvolvimento sustentável e a noção de sustentabilidade
De NAIA OLIVEIRA*
O grande desafio deste século é reverter os efeitos nocivos do conflito entre sociedade e meio ambiente. A sobrevivência da espécie humana depende de que a natureza não seja mais considerada como doadora de recursos a serem explorados, como mero instrumento gerador de riqueza. Ao mesmo tempo, não se pode deixar de contemplar o atendimento das necessidades dos seres humanos, na perspectiva de um desenvolvimento, q estabeleça uma dinâmica distributiva e não concentradora..
Pretendendo contribuir com esse texto para uma rápida reflexão sobre o desenvolvimento sustentável, ressaltando a importância da mudança de visão de mundo, com a respectiva aplicação de novos paradigmas que vem complementar a abordagem científica – tecnológica convencional.
Um ponto importante é a noção de sustentabilidade. Sabe-se que apesar da Terra ser um organismo vivo, inteligente e auto-regulado, ela tem seus limites, já que seus recursos naturais são finitos. A natureza age através de fluxos circulares sempre possibilitando a renovação dos recursos do planeta, de outra parte, nós utilizamos os fluxos unidirecionalmente, retirando de circulação esses recursos e devolvendo poluição. Entende-se que, desta forma, muito em breve enfrentaremos o esgotamento dos ecossistemas.
Já em 1987, foi estabelecida uma definição para desenvolvimento sustentável pelo Relatório Brundtland: “é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades” Este relatório é fruto de um trabalho da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento criada em 1983 por deliberação da 38ª Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas. Desde esse período temos diversas atividades em defesa do ambiente terrestre e marinho coordenadas pela ONU.
Viabilizar na prática a noção de sustentabilidade implica, também, na mudança de comportamento individual e social, e fundamentalmente transformações nos processos de produção e de consumo. Para tanto se faz necessário o desencadeamento de uma ampla discussão, o comprometimento de toda a sociedade e a incorporação destas questões pela arena política.
No contexto da globalização econômica mundial em curso observa-se a tendência forte e dominante de desregulamentação, entretanto a crise ambiental aponta para uma necessidade incondicional de regulamentar a relação sociedade com o meio ambiente.
As reformas neoliberais e os processos de mundialização econômica, não mais centrados na produção, mas no setor financeiro, desmantelaram, em parte, as capacidades reguladoras públicas para controlar a degradação ambiental, bem como para lidar com problemas sociais como o desemprego, a pobreza e as consequências da urbanização desenfreada e outros. Contraditoriamente, surge, na maioria dos países, a tomada de consciência para impulsionar um desenvolvimento socioeconômico sustentável através da incorporação dos recursos naturais como patrimônio.
A expressão desenvolvimento sustentável apresenta legitimidade nos discursos dos diversos segmentos da sociedade mundial, bem como interpretações diversas, que vão desde mecanismos de desenvolvimento limpo até experiências mais amplas como as ecovilas, que são assentamentos humanos, orientados pelas dimensões de sustentabiliade, incluindo, entre outras questões, as da economia solidária, que busca incrementar um sistema produtivo e um consumo mais equilibrado, inclusive ambientalmente.
É importante guardar uma postura crítica com relação às dinâmicas socioeconômicas concretas para implementação das transformações necessárias, já que estão em jogo grandes interesses internacionais. Porém, frente à crise ecológica, as políticas ambientais que dão respostas aos problemas pontuais, como poluição industrial, contaminação do ar, solo e das águas, buraco de ozônio, chuvas ácidas, aquecimento global etc, também são necessárias.
Não podemos esquecer, no entanto, que o ponto chave do desenvolvimento sustentável reside na criação e legitimidade de novos paradigmas científico-tecnológicos e de novas realidades materiais, somente obtidas através da ampliação dos espaços da cidadania, com a implementação de regimes democráticos e o decorrente aperfeiçoamento de suas instituições.
*Socióloga e pesquisadora.
Foto em Pixabay.
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