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Opinião

Desafio político-eleitoral para o segundo turno no Rio Grande do Sul e no Brasil

Desafio político-eleitoral para o segundo turno no Rio Grande do Sul e no Brasil

Artigo por RED
02/10/2022 17:55 • Atualizado em 05/10/2022 13:04
Desafio político-eleitoral para o segundo turno no Rio Grande do Sul e no Brasil

De ALEXANDRE COSTA*

A eleição mais importante da história recente do Brasil trouxe muitos ensinamentos para o chamado campo popular e progressista. O principal deles está relacionado à unidade dos partidos de esquerda, tanto em âmbito nacional quanto no Rio Grande do Sul. Edegar Pretto e Pedro Ruas demonstraram que as diferenças políticas entre PT e PSOL são pequenas se comparadas aos desafios que se impõe para o futuro do país. Antes de tudo, no entanto, é preciso fazer referência a Olívio Dutra, que provou mais uma vez seu idealismo e a sua grandeza como cidadão. Apesar do luto pelo recente falecimento da sua esposa, o “Galo Missioneiro” não titubeou jamais, entrando de corpo e alma na disputa ao Senado. A presença do ex-governador deu ainda mais vigor aos nossos candidatos ao Piratini, à Câmara dos Deputados e à Assembleia Legislativa.

As urnas mostram que a relação dos eleitores com os partidos de esquerda melhorou substancialmente em termos gerais. O PT, por exemplo, tinha 54 e pulou para 80 deputados federais. O PSOL elegeu a maior bancada da sua história, com 14 deputados federais. Em solo gaúcho, o PT passou de nove para 11 deputados estaduais. Na Câmara dos Deputados, o PT do RS também cresceu: passou de cinco para seis deputados, além da cadeira conquistada pelo PCdoB, o que faz da Federação Brasil da Esperança, a maior bancada do estado.

A eleição da primeira deputada federal negra do Rio Grande do Sul para a Câmara dos Deputados é uma resposta, ainda que tardia, ao conservadorismo e ao preconceito. No segundo turno, Eduardo Leite, do PSDB, enfrentará Onyx Lorenzoni, do PL, um dos mais ferrenhos seguidores do presidente Jair Bolsonaro. As diferenças ideológicas entre os partidos de esquerda e as políticas assumidas pelo ex-governador são bem conhecidas. No entanto, não devem impedir o apoio, principalmente do PT, que será fundamental para que ele derrote o candidato de Bolsonaro aqui no estado.

Derrotar o fascismo de Bolsonaro e de seu discípulo é fundamental para a democracia brasileira. Leite revelou coragem ao protagonizar a luta contra o preconceito e a liberdade de opção sexual. Também neste sentido, é extremamente importante vencer o representante de Bolsonaro no Rio Grande do Sul. O ex-governador Eduardo Leite, para ser coerente, deve sacudir sua indecisão e apoiar claramente a candidatura de Lula à Presidência.

ABSTENÇÃO E DERROTADOS

A busca por apoios no segundo turno será imprescindível para vencer a eleição. A vitória de Lula ou de Bolsonaro pode ser decidida pelos votos dos candidatos derrotados no primeiro turno, como Simone Tebet (MDB) ou Ciro Gomes (PDT), que juntos somaram mais de 7% dos votos válidos. No entanto, os candidatos devem buscar votos entre os 20,9% dos eleitores que se abstiveram de participar do processo eleitoral, apesar de estarem aptos a votarem. No total, mais de 32 milhões de pessoas deixaram de votar no primeiro turno das eleições de 2022. É o maior percentual desde 1998, quando 21,5% dos eleitores não compareceram às urnas. É importante mostrar a estes milhões de brasileiros que seus votos são fundamentais para a democracia e podem ter um peso considerável na luta contra o fascismo de Bolsonaro.

DESAFIOS DE LULA E A VIOLÊNCIA DE BOLSONARO

Para quem acha que Lula vencerá Bolsonaro com facilidade, infelizmente a tendência é de que tenhamos uma das disputas eleitorais mais acirradas desde a redemocratização do Brasil. Os desafios de Lula serão gigantescos. O bolsonarismo tende a transformar a disputa eleitoral, literalmente, em uma guerra. Além dos discursos de ódio, o cenário até o final deste outubro de 2022 já está desenhado: ambiente agressivo, ameaças sistemáticas e violência física. A tendência da campanha de Jair Bolsonaro será bater forte em Lula. Mais do que demonizar a esquerda, trazendo novamente para o cenário eleitoral o medo do comunismo, Bolsonaro e seus seguidores devem usar e abusar do termo ex-presidiário e condenado por corrupção. Importante que a esquerda não caia em armadilhas e provocações, pois há uma enorme quantidade de argumentos contra a política bolsonarista, a principal delas relacionada à pandemia da covid e aos prejuízos pela indecisão quanto às vacinas.

DIFERENÇA GRITANTES

Em âmbito nacional, o segundo turno vai deixar ainda mais evidentes as diferenças entre Lula e Bolsonaro, não apenas em relação aos projetos, às políticas e à visão de sociedade. Os brasileiros terão a oportunidade de observar o que cada um deles representa para o futuro do Brasil. Lula defende a democracia, a distribuição de renda, a defesa das conquistas dos trabalhadores, um estado forte e capaz de garantir saúde, educação, moradia e dignidade para os mais necessitados. Já Bolsonaro representa a ameaça permanente à democracia, a volta do autoritarismo, o desrespeito aos direitos humanos, ao meio ambiente e à vida. Tal qual em 2018, Jair Bolsonaro seguirá idolatrando Brilhante Ustra, defendendo a tortura e enaltecendo os preconceitos contra homossexuais, mulheres e negros.

GENOCIDA E NEGACIONISTA

Acusado de ser um genocida, Jair Bolsonaro é um negacionista convicto, tendo sido denunciado, inclusive pelos organismos internacionais, por não seguir as determinações da Organização Mundial de Saúde. Além das 684 mil pessoas mortas pela covid, a omissão do seu governo trouxe inúmeros prejuízos à economia do país. Porém, é ingenuidade imaginar que Bolsonaro e seus seguidores utilizarão os meios convencionais para derrotar Lula. Não será uma disputa dentro dos padrões éticos. Para os bolsonaristas, será uma eleição do vale tudo.

DIREITA CONSERVADORA E O FASCISMO

É preciso ficar atento à aliança dos setores mais atrasados da classe dominante. Novamente, o Brasil verá empresários ameaçando reduzir postos de trabalho, caso Lula seja eleito presidente do Brasil. Ou, como sempre, distribuindo dinheiro, comprando votos, coagindo, ameaçando e agredindo opositores. Ainda que com menor intensidade, parte da imprensa será tão omissa quanto foi em 2016, quando do golpe travestido de impeachment que destituiu Dilma Rousseff da presidência da República. Ou como em 2018, na campanha que elegeu Bolsonaro presidente, em que relativizou o comportamento do candidato que já mostrava os traços fascistas que se confirmaram durante o seu governo.

Por tudo isso, o cenário político deste segundo turno requer não apenas uma estratégia eficiente para vencer o bolsonarismo e barrar o avanço do fascismo no Brasil. Além de denunciar os inúmeros crimes praticados pelo presidente Jair Bolsonaro, a campanha de Lula deve ressaltar os apoios que vem recebendo de políticos, de artistas, de ex-presidentes, de líderes de estado e personalidades mundiais.

A luta do verde e amarelo contra os vermelhos não pode ser banalizada ou ser chamada de espetáculo da democracia. A bandeira brasileira e todos os símbolos pátrios não pertence à direita e aos conservadores e sim representam um patrimônio de todos os brasileiros. Nossa Constituição também deve ser seguida e respeitada. É preciso deixar bem claro que Bolsonaro defende as milícias, representa o agro mais atrasado do país, os empresários sonegadores, a exploração das reservas naturais, a defesa do desmatamento para ampliar as plantações de soja, a poluição dos rios em favor do garimpo de ouro ilegal.

Os eleitores precisam saber o que realmente está por trás do voto deste segundo turno. O que está em jogo é muito maior do que o interesse de cada um nós, mas o dia 30.10.22 nos coloca como indivíduos capazes de escrever a história de nosso país, com base na pregação de ideias de solidariedade, de paz, de progresso, de mais educação, de harmonia e de um Brasil melhor para os brasileiros de hoje e de amanhã.


*Jornalista responsável pelo www.esquinademocratica.com.br .

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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