DE ELIEZER PACHECO*

O maior desafio de Lula, PT e aliados, após vencer as eleições, será fazer um governo que supere nossa herança histórica marcada pelo colonialismo, pelo latifúndio e o escravismo. Isto nos tornou o país mais desigual do planeta e faz com que naturalizemos a violência, a fome, a miséria, os mais odiosos preconceitos, os privilégios e o autoritarismo. Os governos petistas foram um avanço, apesar de serem governos de inclusão, mas não de transformação. Isto foi o suficiente para provocar o ódio das classes dominantes brasileiras, capitalistas na economia, mas escravistas em sua visão de sociedade, contrárias à intervenção do Estado para reduzir as desigualdades, mas parasitas do mesmo quando é para beneficiá-las. Não será uma ação apenas dentro dos limites da institucionalidade ou do governo que possibilitará superar este passado marcado por sangue e injustiça. É necessário ser um movimento muito amplo na tática, nas alianças, construindo uma sólida base de apoio, mas avançando na estratégia, em que o discurso da inclusão seja substituído pelo da igualdade. Um governo de mudanças estruturais inclusive de nossas instituições como o aparato policial-militar que tenta tutelar os governos. O povo pode e deve discutir tudo.

Isto só será possível se for empurrado por um novo tipo de organização popular, baseada em Comitês Populares, politizados, com consciência de classe e de luta. Que conduzam e apoiem o governo nesta direção. Os sindicatos, em sua grande maioria, se transformaram em meras estruturas burocráticas com reduzido poder de mobilização. Mas não bastam as transformações econômicas. É necessária uma verdadeira revolução cultural que comece pela educação e se estenda por todas as áreas da ciência e da cultura, enfrentando o atraso cultural e os preconceitos extremamente fortes em nossa sociedade. Esta revolução deve mobilizar toda a população e as instituições ligadas à cultura, à ciência e à educação. É um processo mobilizatório e não administrativo. Está na hora do Brasil romper com seu passado ou será soterrado por ele.

A vitória de Lula tem potencial pra desencadear isto. Cabe às forças democráticas, progressistas e de esquerda ousarem e tomarem a iniciativa deste processo.

*Eliezer Pacheco é ex-secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC e ex-secretário municipal de Educação em Porto Alegre e Canoas.

Imagem em Pixabay.

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