Opinião
De coturnos e ignorância
De coturnos e ignorância
De EUGÊNIO BORTOLON*
Assaltaram uma agência da Caixa Econômica Federal neste fim de semana em uma praia de Florianópolis. Aparentemente, não é nenhum fenômeno extraordinário neste país de tantos assaltos. A situação trágica começa aí.
O dono da sala alugada pela Caixa ficou louquíssimo e já saiu para as redes mostrando o L de Lula e, ao que se pode deduzir, culpando eleitores do presidente eleito pelo assalto. Esta pessoa, dona do local e de minhas relações próximas, é bolsonarista e exige golpe a qualquer custo e vive postando horrores de que o Brasil patriota dele foi usurpado, roubado, fraudado. Não coloquei mais lenha na fogueira. Fiquei só olhando o ressentimento e as mágoas da figura derrotada nas urnas e que até agora vem pregando uma desgraceira para o país, como golpe, forças armadas, coturnos no palácio e assim por diante. Apoia a anarquia nas estradas e na frente dos quartéis.
E onde estão os vencedores, as pessoas que elegeram o novo presidente democraticamente? Acuados? Amedrontados? Pode até ser. Mas ainda não cheguei a uma conclusão.
Um vizinho de um prédio próximo ao meu colocou a toalha de Lula na janela para saudar o novo presidente. Só faltou ser agredido fisicamente. No mais, sofreu tudo a que não tinha direito. Perdeu conhecidos e confrades. Neste momento da nossa história, vencedor não pode festejar, não pode extravasar a sua alegria, para logo ser chamado de ladrão, chinelão, comunista e ser ameaçado de levar bofetão e até tiro. Onde estamos?
Nas nossas relações pessoais há também fenômenos extraordinários. Amigos, familiares, parentes longínquos ou próximos, se julgam os únicos patriotas, os únicos que amam a Deus, os únicos que sabem o que é liberdade. Saíram do obscurantismo totalmente. Onde andavam estas pessoas que emergiram das tumbas e se julgam agora os donos das verdades absolutas e das concepções mais corretas? Enrustidas, fechadas, escondidas? Não sabem nem o que é comunismo, pátria, liberdade, e nem professam fé alguma, mas taxam a esquerda, que pensa no outro, na dor do outro, na busca de soluções do outro, de todas estas coisas e de arruinadores do futuro deles.
Certamente não estão acostumadas a ler, estudar, apreciar as diversas gamas da cultura, de curtir a vida e o mundo com amor, carinho, compreensão e inteligência. Estão obcecadas, enlouquecidas, furiosas, piradas, tresloucadas, com a vitória da democracia. Só querem saber de fardas. E agora querem chutar sem dó o pau da barraca da democracia a qualquer custo. Querem demolir tudo.
Precisamos defender a democracia com todas as forças da alma e do coração. Não podemos deixar que este movimento golpista avance, que vença a nossa coragem, que derrube os nossos ideais de melhorar, ao menos um pouco, este país de tanta fome, tantas desigualdades e tanta ignorância. Temos que estar vigilantes, cuidadosos.
Querem solapar a nossa incipiente democracia. O que farão? A cada dia distribuem gotas de discórdia, de mentiras e de ameaças. Onde chegarão? Aí é que está o x da questão. Vamos festejar a nossa democracia, os novos tempos que surgem, mas não podemos esquecer esta floresta de ervas daninhas que querem incendiar e destruir a nossa esperança, a nossa fé e a nosso amor por dias melhores.
*Jornalista com mais de 50 anos de trajetória. Destaque na editoria de economia.
Imagem em Pixabay.
As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.
Toque novamente para sair.