Era feriado na administração, o Dia do Servidor Público. O PT fazia a reunião da Executiva para um balanço do desempenho do partido no segundo turno. A reunião apresentava números que marcavam o que o partido avaliava como o “início de uma recuperação do PT” depois da grande crise iniciada em 2016 no processo que levou à cassação de Dilma Roussef, à prisão de Luiz Inácio Lula da Silva e aos demais desdobramentos da Lava Jato. Os dados apresentam avanços nas eleições municipais em comparação com o desempenho petista em 2020. Pouco depois dessa apresentação ser feita, chegou aos celulares dos presentes a informação sobre as declarações que o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, acabara de fazer.
Ao contrário da visão que a apresentação mostrara, Alexandre Padilha declarava no Palácio do Planalto que o PT “continuava no Z4”, o grupo de rebaixamento. A grita foi geral. E acabou ensejando uma dura resposta pública da presidente do partido, Gleisi Hoffmann.
Antes da reunião da Executiva, Gleisi estivera no Planalto, com Lula e Padillha, também para uma avaliação do desempenho do partido. “Convidei-o para vir aqui, mas ele não pode, o que é triste. Como ele disse de forma pública, faço uma resposta de forma pública”, disse.
O que especialmente irritou os presentes na reunião da Executiva é que não deveria vir de um ministro filiado ao partido, que cuida da articulação política, um reforço na linha de interpretar que o PT tinha se saído mal. Argumentos na direção contrária tinham acabado de ser lançados na reunião. O quadro apresentado mostra avanços na comparação com a eleição de 2020. O PT elegeu mais prefeitos (252 agora contra 183); fez mais vices (290 contra 206); mais vereadores (3.129 contra 2.663); um prefeito de capital (Fortaleza, não tinha feito nenhum em 2020); cinco prefeitos em cidades com mais de 200 mil habitantes (antes quatro).
Na visão do PT, então, se deveria considerar que a eleição de Lula em 2022 era ainda um início de processo de recuperação, e não algo que já recolocasse o partido nos mesmos patamares de antes. Num jogo bem mais complexo. Assim, julgava que Padilha em nada ajudou.
Internamente, o que se comenta é que a reação a Padilha não foi um episódio isolado, pelo que disse agora. Mas uma insatisfação que já vinha há tempos. A bancada do PT reclama que ele, na articulação, privilegiaria mais os outros partidos integrantes do governo.
“O governo não faz a disputa política dos seus feitos”, chegou a dizer Gleisi. Ou seja, não alardearia a propriedade dos seus próprios programas. E esse não seria exatamente um problema de comunicação, mas de estratégia política, na sua relação com os demais atores do jogo.
Um jogo que fica mais complicado com o poder que o Congresso ganhou na questão orçamentária. As verbas dependem menos do governo. E as que dependem, os ministérios na área de infraestrutura estão com outros partidos. Quem poderia ajudar a equilibrar? Padilha.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade
Artigo originalmente publicado no Correio da Manhã / Brasília
Foto: Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil | Já há algum tempo o PT não dá bom dia a Padilha | Foto: Fabio
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