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CORREIO POLÍTICO | A lealdade à democracia e a nossa tragédia
CORREIO POLÍTICO | A lealdade à democracia e a nossa tragédia
Por RUDOLFO LAGO* do Correio da Manhã Brasília
Autores de Como as Democracias Morrem, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt retornaram com Como Salvar a Democracia, livro igualmente fundamental para entender os complicados tempos em que vivemos, no planeta inteiro. No nosso caso específico, ajuda a acender luzes sobre nossa tragédia particular. E não apenas no prefácio específico que escreveram para a edição brasileira, sobre o qual já falamos por aqui. Mas em toda a extensão da obra. Leitura durante esse período de férias, me socorro do livro para avaliar questões que emergiram depois da divulgação do impactante inquérito da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe no país, que imputa responsabilidade direta ao ex-presidente Jair Bolsonaro e outros.
Brasil
No prefácio à edição brasileira, naturalmente escrito antes que o relatório da PF fosse conhecido, Levistky e Ziblatt avaliam que o meio político do Brasil teria se saído melhor na defesa da democracia que o dos Estados Unidos, especialmente com relação ao Partido Repúblicano.
Semileais
Talvez tenha havido aí certa precipitação. Os autores apontam muito no segundo livro para o papel dos que são “semileais” à democracia. Aqueles que não apoiam declaradamente a ruína da democracia, mas também nada fazem, ou pouco fazem, para defendê-la.
Colapso começa quando não se reconhece a derrota
Contestação da derrota por Aécio foi primeiro esboço | Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Levitsky e Ziblatt apontam no livro para a existência de alguns compromissos básicos que precisam ser mantidos quando se é democrata. E um deles é o reconhecimento da derrota. Em democracias saudáveis, os grupos reconhecem quando não vencem, e procuram compreender as razões dessa derrota. Quando assim não agem, contestando as regras que até então sempre aceitaram somente porque ela deixou de favorecê-los abrem espaço para a ruína da democracia. É também aí que está a origem dos riscos brasileiros. Quando o PSDB contestou a vitória de Dilma Rousseff em 2014. primeiro esboço que radicalizou.
Violência
O segundo ponto que leva à ruína democrática é quando se começa a admitir o uso da violência. Nos EUA, levou à invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Aqui, à invasão dos prédios dos três poderes em 8 de janeiro de 2023. O próximo passo é a não condenação.
Pano
Os republicanos passaram pano quanto às responsabilidades pelo 6 de janeiro. Não permitiram uma investigação mais aprofundada. Por aqui, hoje se cobra dos partidos que fazem oposição ao atual governo uma posição mais clara sobre o relatório da PF.
Risco
“O comportamento semileal quase sempre parece benigno”, escrevem. “Afinal, costuma ser adotado por políticos (…) que não participaram diretamente de qualquer ataque (…) à democracia”. Mas alertam: “Trata-se, no entanto, de uma percepção profundamente equivocada”.
Conveniência
“A história nos ensina que quando políticos tradicionais tomam o caminho mais conveniente da semilealdade, tolerando ou justificando extremistas antidemocráticos, estes se fortalecem, e uma democracia aparentemente sólida pode desabar sobre si mesma”, concluem.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade
Artigo originalmente publicado no Correio da Manhã
Foto de capa: Não aceitar o resultado eleitoral é o primeiro risco |Paulo Pinto/Agência Brasil
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