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Opinião

Código fonte…

Código fonte…

Artigo por RED
22/07/2023 13:44 • Atualizado em 24/07/2023 09:48
Código fonte…

De PAULO TIMM*

George Washington de Oliveira, um brasileiro com vida organizada e regular mas agora condenado a nove anos de prisão por atentado terrorista na Capital Federal compareceu no dia 29 de junho passado à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Recusou-se a cooperar com os trabalhos da comissão. Indagado por que teria vindo a Brasília, envolvendo-se nas manifestações que culminaram no quebra-quebra do 8 de janeiro, explicou que estava indignado com a manipulação do “código fonte” das urnas eletrônicas pelo Ministro Alexandre de Moraes, Presidente do TSE. O deputado Chico Vigilante perguntou-lhe, então, o que era esse “código fonte”. George Washington engasgou, tentou explicar que era o que comandava a contagem dos votos, mas não foi capaz de dizer mais do que isso. Na verdade, não tem a menor ideia sobre o funcionamento, resultados e eficácia das urnas eletrônicas, muito menos sobre informática.

“Código fonte” existe sim, mas sua estigmatização pelo próprio Presidente da República, Jair Bolsonaro, em 2022, teve um caráter mistificador que acabou arrastando milhares de pessoas como Washington ao paroxismo da indignação ativa e destrutiva. O tal “código fonte” é a alma do sistema eletrônico do processo eleitoral mas nem seria o ponto vulnerável do mesmo, já que os ataques externos seriam mais perigosos, nem sobre ele jamais houve qualquer dúvida razoável por parte de especialistas. Washington foi vítima dessa mistificação e vítima, sobretudo, de uma característica dos humanos de sempre se superestimarem em suas potencialidades e crenças, sem cotejá-las com a realidade, acabando se surpreendendo diante desta.

Nestes dias o canal History nos está brindando com um documentário que ilustra este mesmo processo na Alemanha de Hitler: “1945, Os últimos dias”. O documentário devia passar em todas os canais e escolas, inclusive militares do país. A elite nazi fascista, sob a batuta de um cabo do exército, indignado com a derrota de seu país na I Guerra e que a levara a firmar o humilhante Tratado de Versalhes, simplesmente enfeitiçou o que era uma das Nações mais educadas do mundo de então, com o mesmo tipo de mistificação tipo “código fonte”. . Primeiro, a ideia de que as instituições do país estavam corrompidas e se fazia a necessária a intervenção direta do povo, inclusive com o uso da violência das Sturm Apteilung – Sas. – para restaurar a legitimidade do Governo. Daí a proclamação do Fuhrer: Um só povo, um só fúhrer. Deutschland über alles! (Alemanha acima de tudo) , numa reedição extemporânea de Luiz XIV , “ O Estado sou Eu” e contemporânea de Bolsonaro: “Eu sou a Constituiçao”.

Depois, a acusação a todos os que contaminavam o puro sangue ariano e que foram conduzindo a sucessivas perseguições que acabaram condenando 6 milhões de judeus à morte. Finalmente, o rearmamento do país e a conclamação à guerra com as países da Europa como justificativa da busca da hegemonia do III Reich, a tanto predestinado pela superioridade do povo alemão a durar mil anos. Não só o povo alemão acreditou em tudo isso. Sua elite intelectual embarcou na balela, começando pelo grande filósofo Heidegger. Depois da guerra, por exemplo, quando a grande cineasta do Reich, La Rifenstahl foi cobrada pelo fato de ter colaborado com Hitler ela respondeu: -“Não perguntem isso a mim, perguntem aos médicos, juízes, jornalistas…”. Ou seja, o povo foi arrastado ao desastre pela sua própria elite. Quando tudo desabou, ao final de abril de 1945 e Berlim era ocupada pelo Exército Vermelho, aliado, ao lado de ingleses, franceses e americanos do norte e do sul – lá estavam os pracinhas da FEB – , ardendo em chamas, os alemães, ainda assim, não compreendiam o que havia acontecido. Muitos resistiam inutilmente, como lobos solitários, das janelas de seus prédios. Vários filmes relatam os dilemas deste momento. Goebbels, sucidou-se, matando, antes, mulher e filhos. Daí a necessidade dos aliados, logo depois, formularem um Plano de Desnazificação, capaz de restaurar o bom senso sobre uma Nação envenenada por duas décadas de mentiras e promessas vãs. Foi tal o trauma alemão que só no final da década de 1960 que os alemães começaram a falar abertamente sobre o que tinham vivido e sofrido: Mistificação demagógica.

O caso do Brasil só não é igual ao alemão porque, aqui, as instituições travaram o projeto autoritário da extrema direita, sob a exaltação de cores nacionais embaladas por um discurso libertário.Tudo fake. Ainda assim, os estragos feitos por Bolsonaro, levarão anos a serem devidamente compreendidos pela Nação. Ainda subsiste nos bastidores sua influência nefastas. Veja-se o que ocorreu, recentemente no Aeroporto de Roma, contra o Ministro Alexandre e sua família. Isso me leva a sugerir que, tal como houve na Alemanha, devíamos ter um PLANO DE DESBOLSONARIZAÇÃO no país, não exclusivo do Governo e muito menos da esquerda, mas representativo da Sociedade Civil Democrática com vistas ao esclarecimento. Sim, esclarecimento, como ilustração, como luzes sobre este universo lúgubre e sombrio de inverdades,fake news e disseminação de ódios, todos eles voltados à crítica das instituições democráticas e suas conquistas a partir da Constituição de 88. Daí poderíamos ter a esperança de que não veríamos a repetição do 2018.

 

*Economista

Foto: Pixabay

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