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Opinião

Cinco anos depois, o inquérito sem fim não pode falhar

Cinco anos depois, o inquérito sem fim não pode falhar

Artigo por RED
05/03/2024 05:25 • Atualizado em 07/03/2024 10:44
Cinco anos depois, o inquérito sem fim não pode falhar

De MOISÉS MENDES*

Está em fervura há cinco anos a panela em que são cozidas algumas das figuras presentes na origem da estrutura golpista do bolsonarismo. É a grande panela do inquérito das fakes news, que dia 14 de março completa meia década.

São 30 os nomes incluídos na primeira leva do inquérito 4.781, que teve seu momento espetacular com buscas e apreensões dois meses depois, no dia 27 de maio.

Desses nomes, um personagem está preso em um hospital e fora do ar sob a alegação de senilidade, Roberto Jefferson. Outra figura perdeu relevância e sumiu, Sara Winter. Um ex-deputado foi preso e condenado, Daniel Silveira.

Os outros continuam na fervura, com fogo bem calibrado por Alexandre de Moraes, mas sem desfecho de nada até agora, o que inquieta mesmo os mais pacienciosos.

Fala-se a todo momento do empresário Luciano Hang, mas quase nada se sabe dos seus colegas empreendedores Edgard Corona, dono das redes de academia SmartFit e BioRitmo, e Otavio Fakhoury, da área imobiliária e um dos que tentaram ajudar Bolsonaro a fundar o partido Aliança para o Brasil.

Todos estão no inquérito. O blogueiro Allan dos Santos é foragido da Justiça e mora nos Estados Unidos. Outros blogueiros, Winston Lima e Rafael Moreno, também perderam exposição e devem conviver entre os tios que os acompanham no zap.

Os deputados federais que estavam na primeira lista de investigados do inquérito poderiam ser divididos entre as celebridades, os quase famosos e os figurantes.

São eles o então deputado federal Daniel Silveira (já citado como condenado e preso) e seus colegas de Câmara na época Filipe Barros, Bia Kicis, Carla Zambelli, Junio Amaral e Luiz Phillipe de Orleans e Bragança. E os deputados estaduais Douglas Garcia e Gil Diniz.

Alguns são pouco conhecidos fora dos seus círculos, mas Zambelli e Kicis continuam por aí. O panelão foi recebendo mais gente, e Bolsonaro está dentro, desde 2021, por atentar contra a eleição e a democracia.

Em abril de 2022, Moraes disse: “Estamos chegando aos financiadores”. Em dezembro do ano passado, cobrado sobre o fim do inquérito, afirmou: “Será concluído quando terminar”.

O ministro Dias Toffoli disse, depois de deixar a presidência do STF, que a abertura do inquérito foi a sua decisão mais difícil no comando da Corte.

Difícil e controversa, pelo embate com juristas que contestam até hoje o fato de que a iniciativa de abertura das investigações foi do Supremo, e não do Ministério Público, e com a relatoria entregue a um ministro da casa.

Pelo conjunto de virtudes, expectativas e dúvidas que carrega, o inquérito sem fim não pode dar errado. Não há como não oferecer o que promete há cinco anos.

Há muita gente impune dentro do inquérito que abarca tudo o que se convencionou chamar de fake news, atos antidemocráticos, gabinete do ódio e milícias digitais.

Estão no inquérito do golpismo não só os operadores, mas também os financiadores da estrutura que Bolsonaro montou, antes mesmo de assumir, para disseminar mentiras, difamações e todo tipo de agressão.

Do bolsonarismo criminoso, já sabemos quase tudo sobre o núcleo idealizador do golpe, inclusive sobre os militares graduados que dele faziam parte. Sabemos muito dos operadores e instrumentadores, que alcançavam minutas e faziam transitar informações entre as facções.

Sabemos de manés, patriotas e terroristas condenados por terem embarcado no golpe, enquanto seus líderes se acovardavam. Há políticos enredados, que dificilmente escaparão. E temos até financiadores médios do 8 de janeiro que estão presos.

Mas são financiadores do varejo, que mostraram a cara como golpistas por terem certeza de que a invasão de Brasília daria certo. Faltam os grandes financiadores, aqueles dos quais Moraes falou em abril de 2022.

Faltam os que, desde antes do início do governo Bolsonaro, financiaram a indústria de fake news e a disseminação em massa de mensagens fraudulentas e continuaram agindo como golpistas.

Faltam os grandes empresários que foram até para restaurantes de beira de estrada pregar o golpe e bradar que ainda dava para impedir a posse de Lula.

Também estão faltando, nas diversas frentes de investigação, os financiadores dos atos terroristas contra torres de transmissão de energia e os ricaços que financiaram os bloqueios de estradas, entre os quais grandes varejistas e transportadores.

Falta o núcleo empresarial do golpe, mas o núcleo do atacado, de gente com poder político e econômico de alcance estadual (alguns com expressão nacional), e não só paroquial.

Está fechado o cerco sobre os generais, há militares presos e ex-comandantes das Forças Armadas estão com um pé na cadeia.

Mas falta chegar aos milionários que patrocinaram as bandidagens do bolsonarismo durante quatro anos. Que o inquérito das fakes news não passe do cozimento.


*Jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).

Publicado no Blog do Moisés Mendes.

Foto: Carlos Moura/SCO/STF.

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