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Cenários para a disputa de 2026 ao Palácio Piratini

Cenários para a disputa de 2026 ao Palácio Piratini

Artigo por RED
03/01/2025 12:00 • Atualizado em 02/01/2025 13:49
Cenários para a disputa de 2026 ao Palácio Piratini

Por CARLOS EDUARDO BELLINI BORENSTEIN*

Faltando mais de um ano e meio para as eleições ao Palácio Piratini, temos hoje três campos estabelecidos no tabuleiro: 1) o centro, que será representado pelo candidato do governo Eduardo Leite (PSDB); 2) o bolsonarismo; e 3) a esquerda, que será liderada pelo PT.

Reeleito em 2022, o governador Eduardo Leite (PSDB) tem seu futuro político indefinido. Embora seu nome continue sendo ventilado como um potencial pré-candidato ao Palácio do Planalto, a possibilidade de Leite viabilizar uma candidatura presidencial é complexa. Outra opção seria Eduardo Leite concorrer ao Senado. No entanto, o governador ainda não dá sinais se buscará um mandato de senador. Leite também poderá não concorrer a nenhum cargo público nas eleições de 2026.

Do futuro de Eduardo Leite dependerá o destino da aliança PSDB e MDB, construída em 2022 em torno de Leite e do vice-governador Gabriel Souza (MDB). Embora Gabriel desponte como um pré-candidato ao Palácio Piratini, o MDB está dividido. A reeleição do prefeito de Porto Alegre (RS), Sebastião Melo (MDB), com mais de 61% dos votos válidos, fortaleceu os segmentos mais à direita do MDB gaúcho.

Mesmo que Melo tenha prometido que será prefeito nos próximos quatro anos, uma eventual renúncia para concorrer a governador não deve ser descartada. Vale recordar que Tarso Genro (PT), em 2002; e José Fogaça (PMDB), em 2010 renunciaram ao comando da capital gaúcha para disputar o Palácio Piratini.

Porém, para se viabilizar no MDB, Sebastião Melo teria que enfrentar internamente Gabriel Souza. Outra incógnita envolve o PSDB. Comandando o Piratini desde 2019, e sendo o Rio Grande do Sul (RS) um dos poucos estados onde os tucanos tiveram um resultado positivo nas últimas eleições, poderá levar o partido a não abrir mão da candidatura própria. Caso este seja o caminho, o nome mais forte seria o da prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB).

Neste complexo jogo também poderá entrar na agenda uma eventual fusão do PSDB com outras legendas, assim como uma mudança de partido por parte de Eduardo Leite. Uma ida, por exemplo, ao PSD não deve ser descartada. Caso isso ocorra, haveria impactos importantes na política gaúcha.

O cenário também é marcado por indefinições no bolsonarismo. O forte crescimento do PL nas eleições municipais – o partido elegeu 37 prefeitos, avançando nos grandes centros urbanos do Estado, faz com que o PL seja novamente protagonista em 2026. No pleito de 2022, o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL) chegou ao segundo turno, mas foi derrotado por Eduardo Leite. Hoje, além de Onyx, o deputado federal Luciano Zucco (PL) também aparece como uma possível alternativa.

Também não devemos descartar uma eventual troca de Sebastião Melo do MDB pelo PL para concorrer a governador, embora essa possibilidade seja improvável neste momento.

Outra indefinição envolve o PP. No pleito de 2022, o partido teve candidatura própria, com o senador Luiz Carlos Heinze. O que fará o PP em 2026? Terá uma aliança com o candidato de Leite? Uma composição com o bolsonarismo? Ou a apostará novamente em uma candidatura própria?

No campo da esquerda, também há dúvidas. O mais provável hoje é que o presidente da Conab, Edegar Pretto (PT) concorra novamente ao Palácio Piratini, com o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta (PT), disputando o Senado. Porém, uma eventual candidatura de Pimenta a governador não deve ser descartada. Outra incógnita é a capacidade do PT gaúcho em construir alianças para além do PCdoB e PSOL. Embora o PSB deva apoiar a candidatura petista em 2026, um acordo com o PDT parece improvável. Basta recordar que PT e PDT nunca estiveram juntos já no primeiro turno nos pleitos para governador. Partidos mais ao centro como o PSD e o União Brasil também estão distantes de uma aliança formal com o PT neste momento.

Nas últimas duas eleições ao Palácio Piratini, o PT não conseguiu chegar ao segundo turno, sendo precocemente derrotado no primeiro turno. Os resultados de 2018 e 2022 mostraram uma alteração no padrão de competição entre um campo de esquerda/centro-esquerda contra outro de direita/centro-direita.

Caso PSDB e MDB estejam unidos em 2026 e o PT continue isolado à esquerda, sem construir alianças ao centro, uma nova derrota em primeiro turno poderá acontecer, com o segundo turno sendo disputado entre uma alternativa que represente o governo Leite contra o bolsonarismo, repetindo o que ocorreu em 2022.

Porém, caso Sebastião Melo seja o candidato do MDB ao Piratini, haveria uma reconfiguração do cenário da disputa. Nessa hipotética situação, Melo ocuparia o centro do espectro político, atrairia o bolsonarismo e parte expressiva da direita gaúcha, construindo uma robusta aliança de centro-direita, similar ao que ocorreu na disputa de outubro em Porto Alegre. Já se Sebastião Melo migrar para o PL para ser candidato a governador ou então a direita bolsonarista lançar uma candidatura própria, teríamos a repetição da disputa em três campos de 2022.

Hoje o mais provável é que Melo somente faça o movimento de ser candidato a governador se isso for possível dentro do MDB. Por quê? Para ter candidato ao Piratini, Melo precisaria renunciar à Prefeitura de Porto Alegre, o que já traria desgaste. Se Melo também trocar de partido para concorrer a governador, isso significaria um duplo desgaste.

Por outro lado, se a base de Eduardo Leite se fragmentar, com a aliança PSDB e MDB não sendo reeditada, o segundo turno poderá ser disputado entre o PT contra o bolsonarismo, espelhando o que se desenha no quadro nacional.

Conforme podemos observar, a disputa de 2026 ao Palácio Piratini está em aberto e com muitas indefinições, tornando o pleito bastante complexo.

 

 

*Carlos Eduardo Bellini Borenstein, Doutorando em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Bacharel em Ciência política (ULBRA-RS). Especialista em Ciência Política (UFRGS). Tem MBA em Marketing Político (Universidade Cândido Mendes). Analista político da Arko Advice pesquisas.

Foto de capa: Gustavo Mansur/Palacio Piratini

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