Destaque
Caverna de Platão nos dias de hoje: como a internet nos mantém presos às sombras da desinformação
Caverna de Platão nos dias de hoje: como a internet nos mantém presos às sombras da desinformação
Por ALEXANDRE CRUZ*
A internet, com sua revolução na comunicação, transformou profundamente a maneira como interagimos e consumimos informação. Nas redes sociais, tornamo-nos jornalistas de nossas próprias vidas, curadores de uma narrativa pessoal que, em teoria, nos conecta a uma vasta audiência. No entanto, essa promessa de conexão é frequentemente eclipsada por um cenário de egoísmo exacerbado e competição feroz.
O filósofo Platão, em sua alegoria da caverna, descreveu prisioneiros acorrentados em uma caverna, que apenas enxergam sombras projetadas na parede e tomam essas sombras por realidade.
Analogamente, a internet pode ser vista como uma caverna moderna. Dentro dela, interagimos em um espaço virtual que se assemelha a uma Ágora contemporânea, debatendo política e outros assuntos em uma praça pública digital. No entanto, assim como os prisioneiros de Platão, somos frequentemente iludidos por uma visão distorcida da realidade.
A velocidade e o volume de informações que recebemos na internet dificultam a apuração da veracidade das notícias. Esse cenário cria um terreno fértil para as fakes news, que proliferam com a mesma agilidade que a informação legítima. Um exemplo alarmante dessa dinâmica ocorreu nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016, quando 26% dos estadunidenses consumiram notícias falsas, um fator que contribuiu para a eleição de Donald Trump.
A política não está imune a esse fenômeno. Nas redes sociais, campanhas eleitorais são lançadas, e a liberdade de expressão é exaltada como um valor absoluto, particularmente pelos setores mais conservadores que atacam a legislação brasileira, sob a premissa de que a liberdade de expressão deve ser ilimitada.
Contudo, o Supremo Tribunal Federal tem uma visão diferente. A liberdade de expressão, embora fundamental, não é um direito absoluto e não pode prejudicar terceiros. É nesse contexto que surgem figuras como Pablo Marçal, um outsider que adota uma abordagem agressiva tanto nas suas interações online quanto nos debates televisivos. Marçal utiliza sua plataforma para atacar a reputação de adversários políticos, como Guilherme Boulos, explorando a dinâmica da internet para causar danos significativos. O mesmo modus operandi, que ele adota nas redes sociais, é transportado para os debates na TV, onde a exposição midiática amplifica o impacto de suas táticas.
Essa estratégia visa maximizar o dano antes que o sistema judiciário possa intervir. A lentidão e a sobrecarga do Poder Judiciário muitas vezes resultam em uma perda significativa de eleitores antes que qualquer medida possa ser tomada. O desafio contemporâneo é garantir que a liberdade de expressão seja exercida de forma responsável, sem comprometer a integridade e a veracidade das informações que moldam nossa sociedade. A caverna de Platão, com suas sombras e ilusões, serve como um alerta para a forma como a internet molda nossa percepção da realidade e desafia a estrutura legal existente.
*Alexandre Cruz é jornalista político.
Foto: Sladeplayer.com
Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.
Toque novamente para sair.