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Opinião

Casario – desaparecido – da Sarmento Leite

Casario – desaparecido – da Sarmento Leite

Artigo por RED
19/02/2024 05:30 • Atualizado em 21/02/2024 20:29
Casario – desaparecido – da Sarmento Leite

De ADELI SELL*

A rua Sarmento Leite (homenagem ao Diretor da Faculdade de Medicina) começa na Avenida Independência, junto à Praça Dom Sebastião, e termina na Rua José do Patrocínio.

Hoje, de quem vem pela Independência e entra por ela, tem a seu lado direito todo o complexo da Santa Casa de Misericórdia, e dos anos 70 para cá tem o acesso ao Túnel da Conceição.

No entanto, sua configuração nem sempre foi assim. O jornalista Luiz Fernando Gonzalez da Silva conta que no antigo numero 103 havia um casario, no qual nasceu, sendo vizinho do folclorista Paixão Cortes. Este casario seria dos anos 1910. Eis o que nos relata: 

“Ali nasci e vivi até a adolescência.

Era um enorme quarteirão onde hoje é o complexo de hospitais da Santa casa.

Já na época todos os casarios do quarteirão com eiras e beiras pertenciam à Santa Casa. 

Meu pai era filho de um imigrante português, nascido em Timbó (SC) e veio jovem para cá com o ofício de mecânico e indicação de médicos portugueses (católicos) que fundaram a Beneficência Portuguesa e eram também ligados à Santa Casa de Misericórdia.

Todas as casas do quarteirão ficavam num tipo de comodato entre a diretoria da Santa Casa e da Beneficência para uso de seus “vassalos”, caso de meu pai, um trabalhador informal (mecânico) que consertava viaturas e maquinários da Santa Casa, bem como de seus diretores e médicos.

Meu pai e todos as demais 12 famílias que habitavam os casarões tinham o mesmo tipo de vínculo com a tradicional e benemérita entidade. 

Casualmente o casario de meu pai era lindeiro com o do tradicionalismo gaúcho Paixão Cortes, artista afiliado dos dirigentes da Santa Casa.

Quando da obra do Túnel da Conceição, várias casas foram retiradas e os moradores indenizados.

Mais tarde, com a ampliação do complexo Hospitalar Santa Casa, para não ter problemas legais, acordos foram realizados e indenizados os moradores dos casarios do quarteirão.”

O prefeito de então foi o engenheiro Telmo Thompson Flores o gestor mais criticado por sua forma de agir e destruir parte importante de nosso patrimônio histórico e cultural. 

Uma parte da cidade foi “apagada”.  Pela “memória”, pelo relato de um morador, conseguimos resgatar. Há fotos que mostram este casario.


*Professor, escritor, bacharel em Direito, vereador em Porto Alegre.

Imagem da Sarmento Leite antes do Túnel da Conceição, de arquivos históricos disponíveis na internet.

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