Opinião
Câmara de Porto Alegre: O dia do Patriota e a CPI de duas cabeças
Câmara de Porto Alegre: O dia do Patriota e a CPI de duas cabeças
De ELMAR BONES*
Rodrigo Lopes disse tudo no artigo sobre o ridículo da promulgação do Dia do Patriota, pela Câmara de Vereadores de Porto Alegre.
Um detalhe: a desatenção, que Rodrigo justamente cobra do eleitor em relação aos trabalhos do legislativo municipal, tem origem no descaso da própria imprensa com o que se passa no Palácio Aloísio Filho,(sim, esse é o nome) onde os edis mal ou bem decidem os destinos da cidade.
O Dia do Patriota, projeto de autoria de um vereador que foi cassado, promulgado esta semana, diz muito sobre a Câmara. Mas diz também sobre uma imprensa que não acompanha os trabalhos do legislativo municipal (nem do Estadual e nem no federal, se for ver bem).
Nem no tempo da ditadura havia tanto desinteresse pelo trabalho parlamentar nos municípios e nos Estados.
Na Câmara de Porto Alegre, por exemplo, ocorre um fato inusitado, inédito talvez: formaram-se duas CPIs para investigar os mesmos fatos: as compras de livros e materiais didáticos e esportivos pela Secretaria Municipal de Educação, em licitações de carona (sem licitação, na verdade).
A carona em licitações alheias é permitida por lei em situações emergenciais, mas que emergência havia em adquirir os livros e todo aquele material para deixar acumulados em vários depósitos, inclusive pagando aluguel?
Os livros não se enquadravam no projeto pedagógico da Secretaria Municipal e teriam sido adquiridos numa carona em licitação do Estado de Sergipe, junto com outras 15 prefeituras, que compraram um total de quatro milhões de exemplares ao preço médio em torno de 40 reais o exemplar. Como e por que a prefeitura entrou nesta carona? E nas outras?
São alguns dos fatos que precisam ser esclarecidos e há duas comissões de inquérito na Câmara Municipal com esse objetivo.
Uma formada pela oposição que quer explicações do prefeito. Outra da base governista para mostrar que o prefeito já esclareceu tudo, tomou as providências devidas, não há o que explicar.
E a imprensa? Pelo pouco que publicou até agora tende a endossar a versão oficial. A informação bombástica, de que o prefeito se reuniu com os empresários antes da compra, revelada pelo Matinal, foi ignorada pelos demais veículos.
Como é que a população vai se interessar pelo que se passa na Câmara se não há informação sobre o que se passa na Câmara?
*Jornalista. Exerceu funções de repórter, editor e diretor nas redações de grandes veículos da mídia nacional. É diretor da JÁ Editores.
Artigo publicado originalmente em Já Online.
Imagem em Pixabay.
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