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Opinião

Brasileiros se posicionam contra o golpe, mas disposição de defender democracia ainda é baixa

Brasileiros se posicionam contra o golpe, mas disposição de defender democracia ainda é baixa

Artigo por RED
30/09/2022 01:49 • Atualizado em 30/09/2022 16:06
Brasileiros se posicionam contra o golpe, mas disposição de defender democracia ainda é baixa

De LEONARDO AVRITZER* e ELIARA SANTANA**

Em 2018, a primeira versão da pesquisa “A cada da democracia”, realizada pelo INCT IDDC, revelou que a maioria de brasileiros era favorável à ruptura democrática em determinadas situações. Isso demonstrou, portanto, que havia ali, àquela época, um sinal de alerta em relação à democracia brasileira. Em 2022, a boa notícia é que, em nova rodada da pesquisa, temos dados melhores do que aqueles de 2018 – há uma maioria bastante clara de brasileiros que rejeita golpe, intervenção militar ou ruptura democrática, tal como mostra o gráfico abaixo, de nossa nova pesquisa realizada no período de 9 a 15 de setembro:

Podemos, com certeza, comemorar a ampla rejeição dos brasileiros a uma ideia de golpe – intermitentemente defendida pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, ao afirmar que, em determinadas situações, não haveria eleição ou que seria melhor fechar instituições como o Supremo Tribunal Federal. No entanto, temos ainda motivos para nos preocupar em relação ao apoio dos brasileiros à democracia, que continua baixo. Na pesquisa de opinião pública aplicada pelo INCT na segunda semana de setembro, um dado importante chama atenção e desperta preocupação.

Nos referimos ao número de brasileiros que se disporia a se manifestar ou a participar de manifestações ou de algum tipo de atividade em defesa da democracia. Esse número, de 27,3%, é significativamente mais baixo do que o número de brasileiros contra o golpe e também é mais baixo do que o número de brasileiros que se proporiam a se manifestar em caso da existência de muita corrupção, que alcançou a marca de 53,1% dos entrevistados. O gráfico abaixo, com esses dados, mostra que, ainda que o brasileiro já perceba a importância da democracia e já se posicione contra o golpe, ele ainda não tem a disposição de se manifestar abertamente em defesa da democracia como uma de suas principais prioridades:

Esse dado relativo à disposição dos brasileiros em se manifestar em caso de golpe é muito importante porque, na verdade, o que nós sabemos é que a democracia brasileira não está sofrendo ataques genéricos. Ela está sofrendo ataques específicos por parte de um ator político, nesse caso, o presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro. Ele tem afirmado recorrentemente que as urnas eletrônicas não são confiáveis ou que, dependendo da inexistência de um processo de auditagem dessas mesmas urnas, ele não reconheceria o resultado eleitoral. Sendo assim, é muito importante saber o número de brasileiros que se dispõe a se manifestar em defesa da democracia.

O fato de que, no Brasil, neste momento, o número de indivíduos que estão dispostos a defender a democracia (27,3%) é praticamente o mesmo daqueles que não estão nem um pouco dispostos (30,9%) ainda aponta na direção de ambiguidades importantes da população brasileira em relação ao tema.

Assim, o resultado da pesquisa mostra o início de uma transição entre dois mundos políticos nos quais o Brasil se dividiu desde 2018. De um lado, o mundo da antipolítica e do ataque à democracia, que defendeu a ideia de golpe e ruptura democrática; do outro, um cenário de respeito ao Estado Democrático de Direito. Tudo indica que essa concepção de política antagônica à democracia estará sendo rejeitada pelos brasileiros nas urnas em outubro. Ainda assim, é necessário perceber que a reconstrução de uma nova ordem democrática será um caminho difícil e que demandará uma grande orquestração política envolvendo os mais diversos atores.

*professor titular do departamento de Ciência Política da UFMG. Autor, entre outros livros, de Impasses da democracia no Brasil (Civilização Brasileira).

**jornalista, doutora em linguística e língua portuguesa pela PUC-Minas.

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

 

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