Opinião
Brasil dividido: Entre alta religiosidade e baixos investimentos em educação e saúde
Brasil dividido: Entre alta religiosidade e baixos investimentos em educação e saúde
De ALEXANDRE CRUZ*
O recente censo do IBGE revelou uma realidade alarmante e, ao mesmo tempo, intrigante sobre a sociedade brasileira: o país conta com mais espaços religiosos do que instituições de educação e saúde combinadas. Esse dado, que reverberou intensamente nas redes sociais, não apenas reflete uma inversão de prioridades, mas também suscita reflexões profundas sobre os rumos que o Brasil tem tomado e os impactos dessa escolha.
Em um país onde a laicidade é um princípio constitucional, a proliferação de espaços religiosos em detrimento dos investimentos em educação e saúde revela um desequilíbrio que clama por análise crítica. A sociedade brasileira, outrora marcada por uma diversidade cultural e religiosa, agora parece estar inclinando-se perigosamente para uma esfera onde as crenças têm protagonismo, muitas vezes às custas do bem-estar coletivo.
O impacto desse desvio de foco é especialmente evidente quando observamos as consequências na formação da cidadania e no desenvolvimento do pensamento crítico. A educação, alicerce fundamental para a construção de uma sociedade justa e progressista, está sendo negligenciada em favor de uma atmosfera que prioriza pensamentos mágicos e dogmas. O resultado é uma geração menos preparada para enfrentar os desafios contemporâneos, menos apta a discernir entre informação e desinformação, e mais suscetível a influências fundamentalistas.
Além disso, o descompasso entre o número crescente de espaços religiosos e os recursos destinados à saúde revela uma falha na priorização do bem-estar da população. Enquanto os templos se multiplicam, os hospitais e centros de saúde lutam para oferecer serviços básicos. Esse desequilíbrio não apenas compromete a qualidade de vida dos cidadãos, mas também amplia as desigualdades sociais, afetando principalmente aqueles que dependem do sistema público de saúde.
A questão vai além da distribuição de recursos; ela se relaciona diretamente com a coesão social e a construção de uma sociedade plural. O excessivo enfoque em espaços religiosos pode gerar um ambiente propício à intolerância, fragmentando a sociedade em diferentes grupos que se veem não apenas como distintos, mas muitas vezes como antagônicos.
A construção de um país mais justo e equitativo demanda uma reavaliação urgente das prioridades. É imperativo que a sociedade brasileira reconsidere suas escolhas, direcionando recursos e esforços para áreas fundamentais, como educação e saúde. Somente assim será possível almejar uma nação mais saudável, instruída e, consequentemente, mais unida em sua diversidade. A laicidade, consagrada em nossa Constituição, deve ser respeitada e promovida como alicerce de uma sociedade verdadeiramente democrática e inclusiva.
*Jornalista.
Imagem em Pixabay.
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