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Opinião

Banquete no caminhão de lixo

Banquete no caminhão de lixo

Artigo por RED
28/10/2022 10:12 • Atualizado em 29/10/2022 12:30
Banquete no caminhão de lixo

De ALEX CARDOSO*

Oi, peço licença para conversar um pouquinho com vocês. Espero poder ajudar numa decisão que já deveria ter sido tomada desde 2018, quando escolhemos um despreparado capitão do exército – político sem nenhum projeto de expressão nacional, mas que aparecia na imprensa justamente por se destacar pelo seu mau caráter em relação às mulheres e negros – ao invés de escolher um professor super articulado – inteligente e que anteriormente foi Ministro de Educação, um dos mais brilhantes, conduzindo o Brasil através de caminhos que levavam nossa juventude para as escolas ou às novas universidades e institutos federais.

Eu sou catador desde criança, sei o que é fome. Esse saber infelizmente fez da minha vida algo muito sofrido, muito doloroso, mas o que mais me revolta, é que trabalho infantil e altamente precarizado era algo muito normal para nossa categoria, para o nosso povo da periferia. O meu destino se resumiria à singela arte de trabalhar até quase morrer e com este trabalho não conseguir sequer alimentar-me adequadamente. Mas isso mudou, assim como mudou a vida de milhares de Alex neste Brasil afora, e mudou com Lula.

No ano de 2001 organizamos nosso movimento nacional, o MNCR (Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis). Tivemos nossa categoria reconhecida, leis e projetos de fortalecimento do nosso trabalho e milhares de Associações, cooperativas e redes foram criadas, as crianças pararam de trabalhar e foram para a escola, muitos de nós catadores fomos para a universidade, eu mesmo me formei e agora estou fazendo mestrado como cotista na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), sou autor de alguns livros coletivos e um escrito solo, de título Do Lixo a Bixo, o qual narra meu passado da miséria e meu ingresso na universidade.

Enquanto movimento reuníamos em encontros locais, estaduais e nacionais. Tínhamos reuniões com o Presidente da República, com ministros, e reivindicávamos nossas conquistas. Por causa disso, Lula recebeu o prêmio de amigo dos catadores. Nunca faltou diálogo e, com nossa luta, vinham as conquistas e é isso que chamamos de governo democrático, pois a partir da escuta e do diálogo com os protagonistas, cria programas e projetos que revolucionam vidas. Apenas no projeto Cataforte, com investimentos superiores a 200 milhões de reais, onde foram construídos galpões de reciclagem, caminhões, feita aquisição de equipamentos  e formação profissional com mais de 50 mil catadoras e catadores.

Nestes últimos anos, acabou a parceria com o governo. Bolsonaro nunca nos recebeu, nenhum ministro nunca falou conosco, nenhuma lei, projeto, encontro tivemos. Encerraram os conselhos onde tínhamos participação. Chamamos isso de governo antidemocrático, pois decide as coisas sozinho, neste caso, Bolsonaro chamou como consultora do Ministério do Meio Ambiente a Associação Brasileira de Limpeza Pública e Especiais (ABRELPE). O resultado foi muitas cooperativas fechadas, catadores ganhando menos e retornando às ruas e lixões, leis de proibição do nosso trabalho, perigo da incineração, crianças voltando a trabalhar na reciclagem e na sinaleira, o povo voltando a passar fome. E tudo isso em meio à pandemia que matou mais de 600 mil pessoas em nosso país.

Nunca tivemos tanta gente catando nas ruas para sobreviver, catando resíduos, catando osso, catando comida. Os caminhões de lixo passaram a ser banquetes dos brasileiros.

Eu queria que Bolsonaro fosse nosso apoiador, que ele nos escutasse, que nos apoiasse, mas isso nunca aconteceu, pelo contrário, ele apoiou apenas as empresas privadas do lixo, excluindo ainda mais nossa categoria. Eu queria que fosse mentira, que tivesse coisas boas para nós, mas não teve. Então, tenho muito medo se Bolsonaro ganhar.

Eu sei que o preço dos alimentos, da passagem de ônibus e dos combustíveis me afeta, eu sei que este governo elevou o preço de tudo mas congelou os salários, fazendo com que nosso dinheiro valesse menos e apenas os ricos ficassem mais ricos. Produtos caros e salário baixo, quem ganha são só os ricos.

Eu consigo olhar e ver para quem os ricos estão votando e fazendo campanha, quais carrões carregam as bandeirinhas do Brasil, do Brasil que eles querem – da exclusão, da miséria, da insegurança, da fome e da ignorância.

Eu me pergunto e avalio os governos a partir daquilo que me afeta, que afeta os mais pobres, e penso; se sou pobre, tenho que olhar para os meus iguais, não acreditar em mentiras da internet e dos grupos de zap, mas avaliar o governo a partir da minha vida, da vida dos meus iguais.

Pergunto: Por que os ricos fazem campanha para o Bolsonaro? Eu sou rico? Ganhei o que com Bolsonaro?

A resposta é: o porquê eu quero Lula – pois eu sou catador, pobre, luto pela minha categoria e por um Brasil melhor para todas e todos. Um Brasil que nos valorize. Votarei Lula, e se você apoia as catadoras e o catadores, vote comigo.

Vote pela vida e vamos encerrar este capitulo trágico na vida dos brasileiros que conseguiram sobreviver ao governo Bolsonaro.

Sou @alexcatador, Alex Cardoso, sou Lula.


*Catador, cientista social, escritor e mestrando em antropologia na UFRGS.

Foto de Lula no Natal dos Catadores em 2003 – Ricardo Stuckert.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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