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Opinião

As senhas do golpe

As senhas do golpe

Artigo por RED
24/10/2022 12:15 • Atualizado em 27/10/2022 11:19
As senhas do golpe

De BENEDITO TADEU CÉSAR*

Certos da derrota que se aproxima nas urnas no próximo domingo, o núcleo duro do bolsonarismo começa a convocar suas milícias para a insurgência antecipadamente anunciada contra o resultado da votação.

Roberto Jefferson, ou Bob Jeff, como ele gosta de se autodenominar para deixar patente seu alinhamento com os “irmãos do norte”, em prisão domiciliar afronta o STF, recusa-se a utilizar a tornozeleira que a Justiça lhe impôs, ofende a ministra Carmen Lúcia utilizando adjetivos próprios do esgoto, e responde à ordem de prisão com a explosão de duas granadas (armamento de uso exclusivo das Forças Armadas) e com cerca de 50 tiros de fuzil, segundo suas declarações, sobre os policiais federais designados para prendê-lo.

Fábio Faria, ministro das Comunicações, convoca a imprensa para o anúncio de um “fato grave” e denuncia que as rádios do nordeste brasileiro estão veiculando muito mais inserções eleitorais de Lula que de Bolsonaro. Denúncia que, caso fosse verdadeira, teria que ter sido encaminhada ao TSE, com a documentação comprobatória, para as medidas cabíveis, e não à imprensa, o que demonstra a intenção de tumultuar o processo eleitoral e desacreditar o Tribunal Superior Eleitoral.

Loucura? Demência? Não. Desespero talvez, mas, mais do que isso, é a senha para a sublevação.

Ainda que Bob Jeff tenha se antecipado de forma atabalhoada para o momento em que a ação foi deflagrada, na última semana da campanha eleitoral, ele agiu em consonância com o que Bolsonaro vem anunciando há meses: se ele não vencer nas urnas, pretende vencer na marra.

Os ataques ao STF e seus ministros e ao TSE e às urnas eletrônicas têm e tiveram o objetivo de açular os ânimos de sua militância miliciana.

Preparado o terreno da desconfiança e da discórdia ao longo do tempo, Bolsonaro prepara-se agora para colher os frutos da discórdia e da violência que semeou, adubou e regou.

Bolsonaro e seu alto comando acirram os ânimos de seus adeptos, muitos deles fortemente armados, para que tumultuem as eleições: façam ameaças, criem instabilidade e tentem instalar o medo.

Quanto maior a desconfiança, maiores as chances de eclodir uma rebelião “popular” contra o resultado das urnas garantidas pelo STF e pelo TSE, indignos de confiança, segundo eles.

A instalação do caos é o objetivo. Caso ele se instale, será dado o pretexto para os segmentos mais reacionários e truculentos das forças de segurança agirem contra a vontade popular, justificando-se pela necessidade de “restabelecer a ordem” por meio do uso da força, suspenderem o resultado das eleições e garantirem a continuidade de Bolsonaro no poder.

Delírio? Sem dúvida, mas quem disse que os que detêm as armas não deliram?

Nem por isso, os democratas podem se intimidar. É preciso denunciar a manobra. É preciso esclarecer que “Bob Jeff” e a violência que ele pratica e propaga estão ligados às posturas e às pretensões de Bolsonaro. É preciso mostrar as fotos, os pronunciamentos e os abraços entre os dois, que Bolsonaro agora renega. É preciso mostrar que ambos são irmãos de alma e de ações.


*Cientista político, professor aposentado da UFRGS e integrante da coordenação da RED.

Imagem de Roberto Jefferson com Jair Bolsonaro, nas redes sociais do ex-deputado.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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