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Opinião

As eleições no Brasil foram assunto mundial

As eleições no Brasil foram assunto mundial

Artigo por RED
31/10/2022 17:57 • Atualizado em 01/11/2022 12:02
As eleições no Brasil foram assunto mundial

De CARLOS SILVEIRA (CAICO)*

As eleições no Brasil foram assunto mundial. Poucos órgãos de imprensa ignoraram o resultado. No mundo Europa/América quase nenhum. A maioria trouxe o destaque para a primeira página.

O que vi, na brevidade deste artigo, na imprensa internacional sobre o resultado das eleições no Brasil?

De modo geral um grande alívio pela vitória de Lula ao lado, entretanto, de uma grande preocupação. O desafogo se dá, sobretudo, pelo olhar do meio ambiente, mas também pela questão democrática. O jornal de finanças francês Les Echos chega a ‘manchetear’ essa ‘unanimidade’: “Vitória de Lula é saudada unanimemente no mundo”. A preocupação é com a força e resiliência do ‘bolsonarismo’ e com a perspectiva seguidamente anunciada por Bolsonaro de não reconhecimento dos resultados eleitorais. Essa apreensão, particularmente traduzida em artigos e comentários, como, por exemplo, num artigo do El País com o título: “Bolsonaro fica com o Estado de São Paulo e a direita controla o poder territorial”. Não há quem defenda Bolsonaro, mesmo a mídia de direita, conservadora, mas sentiu-se sua força, manifesta não só na expressiva votação que teve, como pela ‘bancada’ de governadores que foram eleitos e o apoiaram. Sinal de problemas à frente, indicam.

Outros veículos ressaltaram o imediato e amplo reconhecimento da vitória pelos maiores líderes mundiais, de Biden a Putin, como é o caso do inglês The Independent que destaca em manchete: “Líderes mundiais parabenizam Lula ao derrotar Bolsonaro”. Realçam também o apoio dos líderes latino-americanos, como é o caso do mexicano La Jornada que traz a manchete: Líderes latino-americanos parabenizam Lula por sua vitória no Brasil”. Tanto a imprensa como os líderes correram para tornar irreversível o resultado da eleição, antes que Bolsonaro fizesse qualquer gesto sedicioso.

O retorno de Lula é visto com muita simpatia, mas alguns ressaltam sua prisão por corrupção, sem acompanhamento da observação de que em todos os processos ele saiu livre. Parece uma mancha que não querem esquecer, embora alguns o chamem de ‘fênix’ – aquele que renasceu das cinzas. Um articulista do jornal de esquerda francês Libération, chegou a carregar na retórica afirmando que “seu retorno retumbante assume a aparência de uma ‘tragédia grega’”.

Muitos trouxeram os elementos de seu discurso de vitória e cada um ressaltou um elemento. Uns destacam o combate à fome, outros a questão ambiental e indígena, e a maioria em seu compromisso com a democracia e a busca da pacificação do país. Houve também a discussão sobre os problemas que enfrentará num Brasil em crise e com problemas infindáveis, inclusive devido à força da extrema direita ‘bolsonarista’. Um articulista do The Guardian, por exemplo, escreveu sobre “Pobreza, habitação e a Amazônia: a bandeja de Lula como presidente eleito do Brasil”.

Enquanto Lula goza da simpatia genérica da imprensa, Bolsonaro é amplamente rejeitado. Muitos noticiaram a blitz da Polícia Rodoviária Federal como uma tentativa de ‘supressão de votos’ em Lula, palavra e conteúdo que os estadunidenses conhecem de sobra, por conta das contínuas tentativas dos republicanos de ‘suprimir’ os votos dos negros. E a incluem no rol de sabotagens à democracia praticada por Bolsonaro, daí a apreensão de que ele não respeitasse o resultado da eleição.

Mas é na questão ambiental que o bicho pega mais. E Lula é visto como a esperança de uma mudança vital para a questão. Há quem pense em seu futuro e a possibilidade de prisão, como em matéria do outro lado do mundo, pelo australiano The Sydney Morning Herald que ‘mancheteia’: “Embora alegue corrupção zero, Bolsonaro agora teme a prisão”. Sua herança ‘maldita’ é lembrada como deixando ‘mais pobreza, precarização do trabalho e violência’, como afirma uma matéria do jornal argentino de esquerda, Página 12. A questão da violência é, possivelmente, o segundo aspecto mais criticado em Bolsonaro, perdendo apenas para a questão ambiental.

É frequente, outrossim, a comparação a Trump (um artigo no El Diário espanhol chega a fazer uma troça, escrevendo sobre Bolsonaro: “’Um’Trump tropical’, ou um ‘Chavez de direita’?, o que não ajuda a lhe angariar simpatias, porque, aliás, Chavez não goza da simpatia dessa mesma imprensa. O jornal estadunidense de raiz ‘liberal’ política e anti-Trump, o The New York Times, dá um título corrosivo à sua matéria sobre a derrota de Bolsonaro: “Brasil expele (eject) Bolsonaro e traz de volta o ex-lider da esquerda Lula”. Não há de modo geral qualquer sentimento positivo com relação à extrema direita que avança no mundo ocidental e Bolsonaro é visto como o pior representante dela.

Por fim, apenas registro que junto à simpatia com Lula e o apoio à sua vitória, há uma enorme apreensão com o futuro do país, pela consistência enraizada no país do ‘bolsonarismo’. No dia de ontem não se deteve na questão de que compõe esse ‘bolsonarismo’, mas vários jornais já manifestaram anteriormente, de fato, mais como registro que como apreensão, sobre a questão religiosa a que se associa.


*Economista.

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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