DE VICENTE SELISTRE*

Primeiramente, é importante dizer que o horror fascista, com ataque à nossa democracia, neste 8 de Janeiro, em Brasília, já era previsível e provocou muito leite derramado. Havia sinais claros avisando, como o diálogo inicial conciliador do governo com Ibaneis Rocha, do Distrito Federal, canalha golpista (colado no Bozo e eleito com Damares Alves, na mesma chapa), ou a nomeação, como secretário de segurança de Brasília, de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, o mesmo que ajudou o criminoso Roberto Jefferson no episódio de seu confronto com a polícia. Confirmando os sinais, a polícia conduziu os criminosos à cena do crime e virou as costas ao ataque aos três Poderes, símbolos maiores de nossa democracia.

Imagens e vídeos circulam fartamente por aí, inclusive a gravação que mostra a polícia de choque do DF dentro do Congresso, liberando a passagem, apoiando e indicando o caminho aos terroristas.

Inaceitável! O fim da picada.

Prédios, obras, móveis, todos tombados, patrimônio histórico e cultural do país e da humanidade, testemunhas de décadas e séculos da nossa história, foram destruídos parcial ou totalmente. Muitos não poderão ser recuperados.

Precisamos reagir ao maior ataque contra nossa jovem democracia, contra a soberania do voto popular e contra as instituições públicas, símbolos do ambiente democrático, desrespeitados por essa horda.

Esta é uma vergonha mundial apoiada e financiada pela ultradireita golpista, fascista, escravagista e criminosa do Brasil e suas crias, mentores e líderes, inclusive Bolsonaro – há muitos mais pelo país, como Onix, Mourão, Heinze e outros, aqui no RS.

Esta será, infelizmente, uma página nefasta, que ficará na história de todos nós, brasileiros. Cabe-nos agir também, com amplitude e firmeza, para marcar positivamente a história de nossa democracia e de nossas instituições republicanas.

É preciso repisar que este não foi um dia difícil apenas para a democracia brasileira, mas também um ataque e uma ameaça à democracia no mundo inteiro, justificando reações contrárias em dezenas de países democráticos. Lembremo-nos de que a extrema direita, que despreza a democracia, está organizada de forma internacional e desde sempre influi aqui no país.

Deste grande mal, precisamos extrair o bem, realizando ações e reações fortes, a partir das lições aprendidas. A ordem é desbolsonarizar, é hora de limpar a sociedade desta choldra, deixar na cadeia os vândalos marginais, mercenários e teleguiados, mas ir bem mais longe.

É a hora de seguir pra valer o rastro do dinheiro e pegar milicianos e “empresários” criminais, financiadores do golpe, que vivem de grilagem, do assalto a áreas de proteção ambiental ou indígenas, de exploração de trabalho análogo à escravidão ou trabalho informal, sonegadores, financiadores e assediadores em favor de candidaturas golpistas e fascistas de toda ordem, em todos estados.

Mais do que isso, identificar e denunciar os apoiadores no covil golpista em que se transformaram as redes sociais e nas Igrejas, onde muitas “lideranças religiosas” se utilizam da fé para acumular dinheiro e para a dominação e manobra criminosa a favor do golpismo e do autoritarismo.

Vigilância é nossa obrigação democrática, civil e civilizatória.

Precisamos curar nossa democracia, baseados na Constituição e na legislação penal dos crimes de golpe de estado e tentativas de abolição do estado democrático de direito e demais crimes cometidos no dia 8, processando e condenando exemplarmente a todos que, neste episódio e desde antes, vêm ferindo, enfraquecendo e tentando levar à morte nossa democracia.

É necessária a reação firme e exemplar também do Poder Legislativo. Cabe à bancada de esquerda e da frente ampla no Congresso Nacional, junto com os verdadeiros democratas, propor a abertura imediata de uma CPI para investigar e escancarar para todo o país a escuridão em que estão tentando afundar a nação.

Basta! Sem moleza e sem anistia para esta escória. Lutemos juntos, os socialistas, a esquerda brasileira e os verdadeiros democratas, e inauguremos, de vez, uma era histórica de justiça social com aprofundamento e aperfeiçoamento de nossa democracia.

*Vicente Selistre é sindicalista, ex-vereador de Campo Bom e ex-deputado federal – PSB-RS e membro da direção estadual e do Diretório Nacional – PSB.

Foto: Pedro França/Agência Senado