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Morte de Dom Mauro Morelli encerra a era dos ‘bispos vermelhos’ que lutaram contra a ditadura militar
Morte de Dom Mauro Morelli encerra a era dos ‘bispos vermelhos’ que lutaram contra a ditadura militar
Sacerdote faleceu na segunda-feira (09), em Belo Horizonte (MG), em decorrência de uma pneumonia
A morte de Dom Mauro Morelli, aos 88 anos, na última segunda-feira (09), virou a última página da história dos chamados bispos progressistas, aqueles que combatera a ditadura e a tortura no país. Bispo emérito de Duque de Caxias, o parco foi um dos religiosos a receber o apelido de “Bispo Vermelho” — uma alusão ao comunismo – dos agentes da repressão.
Morelli era o mais novo do grupo, que ainda incluía dom Paulo Evaristo Arns (arcebispo de São Paulo), Frei Betto, Leonardo Boff e Pedro Casaldaliga (bispo de São Félix do Araguaia). O sacerdote se destacou na luta em defesa dos direitos humanos, na década de 1980, período de reabertura e transição do regime militar para a democracia da nova República. No entanto, seu nome já era monitorado e citado pelo extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) ainda no início dos anos 1970 como “alguém perigoso” para a segurança nacional. Mesmo após o fim da ditadura, Dom Mauro permaneceu sendo monitorado pelos órgãos de segurança até meados dos anos de 1990, quando o SNI foi extinto pelo então presidente Fernando Collor.
Conforme o professor Paulo César Gomes, pesquisador do Núcleo de Estudos Contemporâneos (NEC) da Universidade Federal Fluminense (UFF), Dom Mauro Morelli era seguidor parte da Teologia da Libertação e, mesmo após a chegada do Papa João Paulo II ao Vaticano e de sua tentativa de frear o movimento, continuou a defender as questões sociais dentro da igreja.
Igreja Católica foi decisiva no combate à ditadura
Autor do livro “Os bispos católicos e a ditadura militar brasileira: A visão da espionagem”, Gomes afirma que a atuação dos religiosos de esquerda contribuiu para a luta contra a tortura e a violação dos direitos humanos.
“Embora padres e frades tenham sido perseguidos pelo país, os militares tinham como estratégia não criar um impasse com a Igreja Católica, evitando atacar líderes do alto Clero, o que provocaria uma reação de repúdio por parte do Vaticano às práticas adotadas por investigadores do SNI e por oficiais do DOI-CODI”, explica o docente.
Mesmo assim, o posicionamento das Forças Armadas não impediu, lembra o pesquisador, o atentado contra Dom Adriano Hypólito.
Em setembro de 1976, o então bispo de Nova Iguaçu foi sequestrado, espancado e abandonado em um matagal em Jacarepaguá, com o corpo pintado de vermelho. O carro do religioso, um Fusca, foi levado até próximo à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na Glória, na Zona Sul do Rio, e destruído com uma bomba.
Dom Mauro Morelli morreu na segunda-feira (09), em Belo Horizonte, Minas Gerais. Ele estava internado desde o final de setembro em um hospital para tratamento de uma pneumonia.
Com informações do Jornal O Globo
Foto destacada: divulgação
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