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Opinião

Análise das eleições e desafios para o próximo governo

Análise das eleições e desafios para o próximo governo

Artigo por RED
31/10/2022 09:52 • Atualizado em 01/11/2022 08:53
Análise das eleições e desafios para o próximo governo

De ESTHER PILLAR GROSSI*

É ótimo que Benedito Tadeu do Comitê Suprapartidário Lula /Alckmin tenha me pedido esse artigo, ontem, às 21 horas.

Ótimo,  porque escrever , ao pensar,  amplia as ideias. Infelizmente, essa possibilidade é vetada  a mais de 80 milhões de adultos brasileiros , porque não são alfabetizados.

Evidentemente que já aponto , com esse dado da realidade , que o próximo governo tem pela frente o enorme desafio de incluir esse milhões de compatriotas à condição de cidadãos, pois o domínio da comunicação por escrito é uma das portas de entrada ao universo das pessoas humanas, nesse momento em que acedemos ao nível  da internet.

Mas estou intimada a fazer uma análise das eleições. E vou tentar fazer.

Essas eleições ocorreram na trilha da anterior que foi flagrantemente fraudada. Ela foi conduzida por uma trama articulada que burlou a lisura da atividade jurídica.

Com o governo que tivemos,  nesses últimos quatro anos, nos foi  possível apalpar o quanto o racismo, o quanto o machismo, o quanto a homofobia e o quanto o preconceito contra os pobres está pulsando em tantos e tantos brasileiros. Isso nos foi possível, porque o presidente era o mais claro adepto de tais preconceitos e assim sendo liberou para que viesse à tona algo antes escondido, mas muito vivo e real em muitos.  

Agrega-se ao racismo, à homofobia e  ao machismo o desprezo pela ciência e pela democracia, pela razão que eu ouvi dia 22 de outubro último de um bolsonarista convicto: pobres são vagabundos, não gostam de trabalhar ou são bandidos e votam mal . Por isso uma ditadura é o melhor para o país. 

O próximo governo tem pela frente, tão somente o desafio de fazer frente a esses arraigados , terríveis, desumanos preconceitos que povoam a visão de mundo de uma grande parte de nossa população e que bem se evidenciou com a liderança de Bolsonaro, como presidente.

Como me é diferente, quando aos meus 86 anos , alfabetizando adultos no Morro da Cruz, um bairro numerosíssimo de Porto Alegre, eu apalpo as qualidades de negros, de indígenas, de mulheres, de  homossexuais,  todos pobres, alguns mesmo paupérrimos. Dentre as pessoas mais lindas que eu convivi na minha longa existência  estão pelo menos três  pobres, a começar pela  Comadre Joana e continuando pela também Comadre Santa Celia dos Santos e pela Catia Estanislava Oleseski, as duas últimas minhas queridíssimas empregadas.

Mas os desafios são ainda maiores. É que esses preconceitos são a  base de uma sociedade  onde escravidão é o alicerce. Como substituir a sede de poder econômico dos que só sonham com o lucro de suas empresas à custa da exploração  de trabalho escravo de uma multidão?

Tão bem Boaventura de Sousa Santos já demonstrou que democracia não se coaduna com liberalismo capitalista. Donde é urgente democratizar a democracia.

São demandas que podem ultrapassar os limites de quatro anos de um governo brasileiro. Mas nele precisam começar.

Da minha parte, se o meu desejo me conceder a riqueza da vida, estarei  fazendo o que me compete como pesquisadora nas ciências do aprender para que as grandes novidades, nessa área, realizem  radical transformação, não só nas escolas e universidades, mas nas experiências pessoais, pois aprender  é nossa condição de seres humanos, que não somos dotados de instintos como os animais.

Mas, evidentemente que naquilo que tenho especial competência, que é a pesquisa, a formação e a ação de ensinar a ler e a escrever, estarei embrenhada nessa lindíssima tarefa a serviço do governo Lula.


*Educadora, Doutora em Psicologia da Inteligência na Universidade Sorbonne e coordenadora de pesquisa do GEEMPA – Grupo de Estudos Sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação. Também foi deputada federal e secretária de Educação de Porto Alegre.

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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