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Opinião

Amigos contra a democracia

Amigos contra a democracia

Artigo por RED
20/03/2023 05:30 • Atualizado em 21/03/2023 08:25
Amigos contra a democracia

De NUBIA SILVEIRA*

Preparem-se. Nova tentativa de golpe à vista. Ou quem sabe “apenas” um novo tumulto, com quebradeira. A afirmação/previsão se deve à mais recente incitação a protestos, feita pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump, no sábado (18/3), que deve, em algum momento, agitar também a massa bolsonarista. Trump, como o ex-presidente brasileiro Jair Messias Bolsonaro, anda enrolado com a Justiça e resolveu se antecipar a um possível (ele considera iminente) pedido de prisão, pelo promotor Alvin Bragg, de Nova York. Apesar de Bragg não ter se pronunciado sobre o caso até sábado, Trump acredita que será preso nesta terça-feira e resolveu agitar e colocar em campo a direita conservadora trumpista. Ele é acusado de ter pago 130 mil dólares à atriz pornô Stormy Daniels para que ela ficasse de boca fechada, durante a campanha para a Casa Branca, em 2016, sobre a relação que tiveram. O dinheiro foi entregue pelo seu então advogado Michael Cohen, condenado a três anos de prisão.

Em seu twitter de sábado, ele afirmou, desconhecendo a postura contrária de seus assessores mais próximos: “É hora! Nós não podemos mais permitir isso. Eles estão matando nossa nação enquanto nos sentamos e assistimos. Devemos salvar a América! Protesto, protesto, protesto!!!”. O ex-presidente também enviou e-mails para seus apoiadores, com pedidos de contribuição. De imediato, congressistas republicanos, ligados a Trump, começaram a se pronunciar, como fez o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, no seu twitter: “Estamos de novo frente a um escandaloso abuso de poder de um promotor, que permite que os criminosos violentos andem livre pelas ruas, enquanto prossegue com uma vingança política”. Informou ainda, segundo o espanhol El Pais, ter ordenado a um comitê que “investigue se recursos federais estão sendo usados para subverter nossa democracia, interferindo nas eleições com uma acusação motivada por razões políticas”.

O que resultará do comando do Trump, acusado de promover o ataque ao Congresso em 6 de janeiro de 2021? O que a turba revoltada poderá provocar? E se em Nova York encontrarem-se, protestando, trumpistas e anti-trumpistas? A Trump o que interessa é criar barulho em sua defesa. Ele poderá ser o primeiro ex-presidente dos EUA a ser preso. A prisão também pode ser o destino de Bolsonaro. Os dois líderes populistas de direita andam de mãos dadas. A direita brasileira, como lembra a Folha de S.Paulo, deste domingo, 19, importa todas as pautas da norte-americana.

Bolsonaro, que tem em Trump o seu principal ídolo, já deve estar se preparando para imitá-lo na primeira oportunidade que tiver. Não acredito que o ex-presidente fujão esteja nos Estados Unidos apenas tomando novos ares e recarregando energias. Quando anunciou que estava sem recursos para seguir por mais tempo na Flórida, seus amigos empresários paulistas anunciaram que haviam feito contatos com parceiros norte-americanos (já tinham acertado com dez deles) que pagariam ao brasileiro 10 mil dólares por palestra. Ótimo reforço ao caixa particular.

Naquele momento me perguntei o que Bolsonaro teria a dizer, que valesse tanto dinheiro? Depois, lendo as notícias e vendo as imagens de suas primeiras palestras, me dei conta que para a direita internacional não interessa o que digam seus representantes. Eles estão ali para serem saudados com bandeiras, banners, hinos e muitos aplausos ao dizerem simplesmente good morning. Recentemente, no twitter, o ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc mostrava-se totalmente revoltado com o anúncio de que o ex-presidente será um dos palestrantes do seminário sobre meio ambiente e sustentabilidade, promovido pela Geoflorestas, no próximo 30 de março, na Flórida. Mais uma palestra mentirosa dirigida ao seu público.

Bolsonaro não está parado. Sua rotina, descrita, em fevereiro, pela revista Time, como surreal, começou a mudar. Faz contatos com conservadores norte-americanos, que podem apoiar os seus desvarios político com “alguns dólares”. Fala para evangélicos – os ingressos de 10 a 50 dólares esgotaram em dois dias -, faz novos amigos como o jovem conservador Charlie Kirk, de 29 anos, agitador de extrema-direita, ligado à invasão do Capitólio e “aprende” com trumps e bannons da vida como golpear a democracia. Ele até participou, no início de março, em Washington da CPAC – Conservative Political Action Conference, a maior conferência dos conservadores/direitistas norte-americanos.

O ataque de 8 de janeiro aos três poderes foi uma cópia planejada, com tempo e dinheiro, do ataque ao Congresso estadunidense. Apesar de não ser uma pessoa que vê conspirações em todos os cantos, acho que devemos nos preparar para mais uma reprodução de atos incentivados por Donald Trump. Seu pupilo deve estar ansioso para promover uma nova agitação de verdes e amarelos.


*Jornalista, trabalhou em jornal, TV e assessoria de imprensa, em Porto Alegre, Brasília e Florianópolis. Foi repórter, editora e secretária de redação. Idealizadora do programa Espaço Plural da RED – Rede Estação Democracia.

Foto em Getty Images.

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