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Opinião

Além da indignação

Além da indignação

Artigo por RED
25/11/2022 05:00 • Atualizado em 25/11/2022 21:13
Além da indignação

De NUBIA SILVEIRA*

Desde que me reconheço como gente, com capacidade de raciocínio e controle das minhas ações e reações, me impus um teto para indignação, revolta, fúria, sentimentos que jamais deveriam se transformar em ódio. Nem atropelar o respeito, a tolerância e o carinho pelo Outro. Infelizmente, decênios depois desta decisão, o teto que imaginei como o máximo a ser atingido vem sendo furado diariamente, nos últimos tempos. Tento conter o crescimento disparado do limite com o qual convivi em paz e tranquilidade.

Faço grande esforço para entender e respeitar os derrotados na eleição presidencial deste ano. Mas a cada notícia que leio fico mais indignada com a incapacidade do mito e de seus seguidores em aceitarem a derrota, como Lula fez por três vezes, antes de ser eleito presidente. O golpe na democracia vem sendo preparado e anunciado desde 2019, quando o capitão chegou ao Planalto, tendo como vice um general, e trouxe os militares, saudosos da ditadura, de volta à política.

A imaginação golpista do presidente que, por 37 dias ainda, manterá o poder da caneta, é inimaginável e incontrolável. Ele e seus asseclas verde-oliva fazem o possível e o impossível para manter parte da nação controlada pelo medo. Afinal, são eles que possuem as armas. Mais: os civis verde-amarelo, que fecham estradas, gritam, rezam, choram, pedem pela ditadura em frente aos quartéis, sem serem incomodados, foram armados por este governo.

Sinto que os derrotados fazem de tudo para armar grandes tumultos e brigas com os vencedores. Provocam quem usa vermelho. Agridem os que denunciam seus atos violentos. Esperam por uma resposta violenta. Querem ter uma vítima para exibir e deflagrar uma revolta nacional. Não vamos lhes dar este gosto, mesmo sob muito sofrimento e autocontrole.

Os verde-amarelo como os verde-oliva são organizados. Obedecem ordens que vem sendo dadas pelo gabinete do ódio, inspirado num dos filhos do atual mandatário. Permanecem mobilizados, dedicados apenas a protestar, sem trabalhar. De onde sai o sustento destes protestantes? Evidentemente – nem é preciso investigar – sai dos bolsos dos empresários escravagistas e racistas, que não se importam de pagar multas de R$ 100 mil a hora, desde que o Brasil fique livre de um governo preocupado com famintos, sem-teto, desempregados, assistidos pelo SUS.

Ontem, quinta-feira, 24, minha indignação chegou bem pertinho do ódio pelos verde-amarelo e por quem os lidera. Uma amiga, desconhecendo a balburdia golpista, ordenou que Lula desça do palanque. Ou seja, não fale mais sobre políticas sociais para não assustar o tal mercado, apoiador do “Posto Ipiranga” e das política destrutivas da Educação, Cultura, Ciência, Saúde, Meio Ambiente e de proteção à mulher e à infância.

Também nesta quinta, o presidente voltou ao Planalto, pelo segundo dia seguido. Ao receber a notícia de que o TSE
–Tribunal Superior Eleitoral não só negou a proposta golpista do PL, seu partido, de impugnação de 279 mil urnas eleitorais, como aplicou-lhe uma multa R$ 22,9 milhões, decidiu voltar a ameaçar veladamente os opositores. Reuniu-se com os comandantes das Forças Armadas – Exército, Marinha e Aeronáutica, que não levantam um dedo contra os que comem, bebem, usam banheiros químicos, ofendem adversários, gritam palavrões (a exemplo do mito) e imploram por intervenção militar, em frente aos quartéis, ao contrário do que fariam se os protestos fossem da Frente Brasil Esperança.

Da reunião, não se soube nada. Nem precisa dizer. A reunião representa nova ameaça à democracia. Logo após a saída dos comandantes a assessoria presidencial informou que o capitão- presidente irá, no sábado, 26, à formatura de aspirantes na AMAN– Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ), onde tem uma de suas bases de apoio. Outra bem conhecida é o Instituto General Villas Bôas, do ex-comandante do Exército e ex-assessor especial do ministro do GSI – Gabinete de Segurança Institucional, a cargo do general Augusto Heleno.

Não vamos nos esquecer da frase dita pelo presidente ao general, no dia 2 de janeiro de 2019, ao empossar o novo  ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva: “General Villas Bôas, o que já conversamos ficará entre nós. O senhor é um dos responsáveis por eu estar aqui”. É também um dos responsáveis pelo projeto de governo em que previa a manutenção da direita no poder até 2035. No último dia 15, o general mandou um recado aos amotinados contra o resultado das eleições: “A população segue aglomerada junto às portas dos quartéis pedindo socorro às
Forças Armadas. Com incrível persistência, mas com ânimo absolutamente pacífico, pessoas de todas as idades, identificadas com o verde e amarelo que orgulhosamente ostentam, protestam contra os atentados à democracia, à independência dos poderes, ameaças à liberdade e dúvidas sobre o processo eleitoral”.

É ou não é de furar o teto da indignação, revolta e fúria, com esta parcela da população que vive um desvario?


*Jornalista, trabalhou em jornal, TV e assessoria de imprensa, em Porto Alegre, Brasília e Florianópolis. Foi repórter, editora e secretária de redação. É coordenadora do programa Espaço Plural da RED – Rede Estação Democracia.

Imagem em Pixabay.

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