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Afinal, em que estágio civilizatório estamos?

Afinal, em que estágio civilizatório estamos?

Artigo por RED
19/10/2024 18:00 • Atualizado em 19/10/2024 22:31
Afinal, em que estágio civilizatório estamos?

Por PAULO TIMM*

Até há bem pouco tempo, havia um consenso acadêmico e até mesmo público de que a humanidade estava avançando no rumo da civilização e que para trás ficavam sociedades mais ou menos “atrasadas” neste processo. A Antropologia Moderna sepultou essa idealização “civilizatória”. Podemos ter níveis tecnológicos e, talvez, institucionais, com a emergência do Estado e da Corporações Privadas, com ou sem fins lucrativos, no curso da História Humana, mas isso não nos autoriza a dizer que são mais “civilizadas”. Não obstante, é ainda comum, mesmo nos discursos políticos, ouvir-se qualificativos pouco edificantes para certos grupos humanos. É o que faziam os gregos que chamavam “bárbaros” todos aqueles que não falavam grego e, certamente, não comungavam dos nobres ideais helênicas. Lamentável. Hoje se sabe que, mesmo aqueles povos ditos “bárbaros”, tinham alta complexidade civilizatória. O mesmo se pode dizer dos povos originários do continente americano, dos povos africanos e do Oriente Médio. Não existem, a propósito, “eleitos”. Isso é pura narrativa ancestral, sempre de fundo religioso, para justificar procedimentos discriminatórios. Mas pode-se, talvez, falar em crises de algumas culturas.

Um livro, A CONDIÇÃO DE HOMEM, de Lewis Mumford, um dos grandes sábios do século XX, publicado pela Ed. Globo em 1951 é uma verdadeira enciclopédia para se compreender as visões de mundo (ideologias) – e suas respectivas crises -, desde os clássicos ocidentais até os modernos. Nessa trajetória, o Ocidente imbricou-se, também, com a construção de um modelo de economia de mercado, que acaba misturando reflexões sobre o que seria uma crise estrutural da cultura ocidental e os desafios econômicos do bloco sob hegemonia dos Estados Unidos. Neste sentido, economicista, porque ele o foi, apesar de crítico, um produto do Iluminismo, foi Karl Marx quem primeiro diagnosticou o fim do capitalismo em sua magistral obra “O Capital”. O capitalismo, disse ele, apesar do enorme progresso material, beneficia somente uns poucos, capitalistas, os donos dos meios de produção (as fábricas, os bancos, as minasm as terras e investimentos financeuris), guiados pelo lucro. A massa da população, assalariada, ao contrário, vê-se reduzidos à miséria. Isso gerarua a auto-destruição do sistema.

Num sentido mais geral da cultura, outro respeitado filósofo, aliás, O. Spengler (1880-1936), escreveu há já algum tempo “A DECADÊNCIA DO OCIDENTE”.
A obra A Decadência do Ocidente, de Oswald Spengler, trata de visionar o destino de uma cultura, por sinal da única no nosso planeta a ter alcançado a sua plenitude, a saber a cultura da Europa ocidental e das Américas. O tema estrito é, portanto, uma análise da decadência da cultura ocidental, hoje espalhada pelo globo inteiro. Mas o propósito é expor uma filosofia com seu método característico, o qual consiste na morfologia comparativa da História Universal. Esse método terá de ser posto à prova aqui. O trabalho divide-se, naturalmente, em duas partes. A primeira, “Forma e Realidade”, toma como ponto de partida a linguagem formal das grandes culturas, esforça-se por avançar até as derradeiras raízes das suas origens, e obtém assim as bases de uma simbólica. A segunda, “Perspectivas da História Universal”, estuda inicialmente os fatos da vida real e, pela análise da prática histórica da humanidade superior, procura extrair a quintessência da experiência histórica, à base da qual poderemos empreender o trabalho de plasmar as formas do nosso futuro”.

Outras visões, igualmente estruturais e negativas, têm se seguido, como a do Economista Adolf Kozlick, destacando o CAPITALISMO DO DESPERDÍCIO (El capitalismo del desperdicio. Adolf Koslik | Problemas del Desarrollo). Revista Latinoamericana de Economía (unam.mx): O capitalismo é um sistema econômico que empurra as pessoas, movidas pela propaganda e pelo crédito, ao hiperconsumismo, adquirindo produtos e serviços além do que lhe é essencial à sobrevivência. O resultado mais visível disso nos Estados Unidos é a obesidade, para não falar das montanhas de lixo acumuladas em depósitos, sobretudo pela diminuição planejada do tempo de uso dos produtos. Mais recentemente, outras críticas apontam para a SOCIEDADE DO CANSAÇO. “A sociedade do cansaço” é o nome de ensaio do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han sobre uma enfermidade que está acometendo a sociedade como resposta do corpo para o excesso de positividade e cobrança que a sociedade impõe. Concorrência e seletividade. Finalmente, a SOCIEDADE DE RISCO, título de um livro de Ulrich Beck, 1986, demonstrando que vivemos sob intenso risco em várias esferas da vida. Todas estas reflexões, enfim, apontam para um certo esgotamento do mundo em que vivemos, acrescidas pelo impacto das mudanças climáticas, da vida em megacidades favelizadas e do pavor a uma nova guerra mundial.

Porto Alegre e São Paulo, hoje, são exemplos disso. Salve-se quem puder…Ou como diz a Mafalda: – Parem que eu quero descer!

*Paulo Timm é economista, escritor, professor universitário e diretor da Rádio Cultural FM Torres RS.

Este artigo foi originalmente publicado como Editorial da Rádio Cultural FM Torres RS 

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

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