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Opinião

A Vitória de Lula

A Vitória de Lula

Artigo por RED
31/10/2022 18:14 • Atualizado em 01/11/2022 14:46
A Vitória de Lula

De LINCOLN PENNA*

Lula foi eleito presidente pelos seus méritos. Desta vez, sua eleição, ao contrário das anteriores, foi marcada por um grande desafio: o de fazer prevalecer os valores civilizatórios contra um adversário que não poupou o uso indiscriminado dos recursos da máquina pública em seu benefício.

Mais do que isso, Lula cresceu politicamente ao agir com espírito público ao entender a necessidade de somar forças para vencer o candidato do atraso, do falso moralismo e, sobretudo, da regressão aos tempos do regime autoritário e ditatorial que a candidatura adversária tanto bajula e sente saudade.

Nessa eleição, das mais importantes desde a volta das liberdades democráticas após a derrota da ditadura, estava em jogo o futuro da democracia em face de um governo que teve como projeto a desnacionalização e a desindustrialização do país de maneira a recolocar o desemprego e a fome crônica de volta. Governo que tinha um projeto antinacional e que demonstrou total desapreço em relação às grandes massas populares desassistidas e entregues à própria sorte.

Certo de que o adversário batido poderia criar empecilhos diante de um resultado apertado, Lula houve por bem fazer um pronunciamento dos mais felizes, seja pelo conteúdo altamente propositivo ou pela ocupação de espaço a evitar, dessa forma, qualquer contratempo extemporâneo. Some-se a isso a rápida manifestação de vários governos a felicitá-lo pela vitória. Assim, Lula não só ganhou a eleição de fato graças à rapidez das urnas eletrônicas, mas projetou-se definitivamente como estadista.

Venceu Lula e sua vitória foi a do povo brasileiro que soube reconhecer no ex-presidente, que agora retorna ao governo, a liderança capaz de retomar o projeto de emancipação que a nação brasileira diferenciada regional e socialmente necessita para dar o salto qualitativo no que diz respeito à elevação de sua autoestima.

Lula não desconhece a enorme tarefa que tem pela frente. No discurso proferido na Avenida Paulista horas depois do encerramento do pleito e diante de uma multidão, juntou em sua fala a emoção extravasada com a racionalidade de um compromisso do qual jamais se afastou. Aquele que prioriza os mais pobres.

Muito embora não tenha explicitado, estava contido em suas palavras dirigidas ao povo diretamente que ele precisará mais do que nunca do apoio participativo de todos com vistas à redenção do país. Não basta o voto, é preciso o engajamento de todos aqueles que apostam no exercício pleno da democracia. Não apenas a democracia formal e institucional, importante sem dúvida, mas a democracia que instaure definitivamente o povo junto ao governo do povo.

Cabe registrar nesse momento de euforia popular que o bolsonarismo como corrente política não está vencido. Revelou sua força. Lula sabe que terá um adversário que criará dificuldades a serem vencidas. Porém, a origem antipetista de grande parte dessa corrente terá pela frente um governo de união nacional, e Lula saberá com inteligência e perspicácia fortalecer essa ampla frente democrática.

O embate será duro e o panorama internacional ajuda pouco em face das tensões que hoje em dia marcam o cenário perigoso para a ordem mundial. Como grande intérprete que orientou suas duas passagens pelo governo brasileiro, Lula conta com régua e compasso para fazer retornar o Brasil no concerto de um mundo carente de grandes e influentes lideranças. Lula pode e deve ajudar muito para se desfazer os intrincados problemas entre povos e nações.

O Brasil retomou seu rumo. Agora é indispensável que cada brasileiro tenha plena consciência do dever para com a nação, que deve ser compartilhada por todos independentemente das divergências, pois o que mais necessitamos é cultivar o sentido de pertencimento a um país. Isto não deve impedir que os antagonismos no plano político manifestem suas convicções, desde que elas não venham a conspirar contra o futuro das próximas gerações.

Com Lula o povo retoma o seu protagonismo e abre perspectivas para fundar o tão sonhado poder popular almejado por muitas gerações do passado e do presente, dentro da configuração democrática de verdade. Nesta eleição a conciliação foi derrotada, nada a ver que o governo Lula tenha uma relação republicana com todas as instituições, sem abrir mão de suas prerrogativas a do exercício do presidencialismo tal como dita a Constituição.

Por fim, o desejo de que Lula governe com o povo e para o povo, como inspira a sua sensibilidade e o seu compromisso com os excluídos, social e politicamente.


*Doutor em História Social, conferencista honorário do Real Gabinete Português de Leitura, professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Foto – reprodução.

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