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A VIOLÊNCIA POLÍTICA NUM MUNDO CADA VEZ MAIS DISTÓPICO

A VIOLÊNCIA POLÍTICA NUM MUNDO CADA VEZ MAIS DISTÓPICO

Artigo por RED
20/09/2024 00:35 • Atualizado em 19/09/2024 11:11
A VIOLÊNCIA POLÍTICA NUM MUNDO CADA VEZ MAIS DISTÓPICO

Por PAULO TIMM*

O episódio da “cadeirada” do candidato a Prefeito em São Paulo, Datena/ PSDB , num debate entre candidatos na TV Cultura daquele Estado, está não só repercutindo, aliás negativamente, como suscitando maiores reflexões sobre a violência política. A violência física, bofetões e cadeiradas, a propósito, são o corolário da violência verbal, que por sua vez resulta, no campo político, da radicalização de opiniões e situações.

O extremismo, enfim, é, sempre, o resultado de polarizações extremadas , desembocando, inclusive, em atos de terrorismo que marcam a História da Humanidade desde priscas eras. Este é, também, o último recurso de populações e grupos sujeitos à processos de dominação, os quais, impossibilidades de reverberar e encaminhar demandas correspondentes à sua liberdade ou sobrevivência, desembocam em atitudes até suicidas.

A revolta dos escravos liderados por Spartacus, na antiga Roma é um clássico deste processo. Esse tipo de revolta teria levado o grande abolicionista brasileiro, Luiz Gama, a sustentar, num processo em que defendia escravos que haviam assassinado seu amo, que “todo aquele que mata o seu ‘Senhor’, o faz em legítima defesa’. Na antiguidade, os romanos também enfrentaram a ira dos zelotes judeus na ocupação de suas terras: os grupos mais extremistas eram chamados de Sicários, que usavam táticas violentas e furtivas atacando os centuriões com pequenas adagas escondidas sob suas vestes. No mundo moderno, os anarquistas costumavam manifestar sua contrariedade com o mundo burguês emergente com bombas e atentados. Um deles gerou, na Sérvia, a I Guerra Mundial. Nações colonizadas – e neo colonizadas – também desembocaram no uso da violência como manifestação de seu descontetamento.

A Grande Marcha da China, que acabou na Revolução liderada por Mao Tse Tung em 1949, teve início como reação nacional à barbárie da ocupação japonesa de seu território. Várias revoluções do século passado também obedeceram á esta lógica, como a Luta pela Independência da Argélia, na década de 1960, a Revolução Cubana, e vários outros processos de luta pela auto-determinação no resto do mundo, dos quais não se pode esquecer da questão palestina.

Ultimamente, porém, a violência vem ocorrendo, também, em países ditos democráticos e com altos níveis de institucionalização da sociedade e encaminhamento de solução pacífica de conflitos. O caso dos Estados Unidos é um exemplo. A violência grassa não só no campo da Política, vitimando Presidentes e ameaçando candidatos, como se espraia sobre toda a sociedade que vê no direito de usar e abusar das armas um instituto libertário. Agora mesmo, dois atentados já se registraram contra Donald Trump. Nestes casos, a violência não resulta propriamente do última recurso contra formas de dominação autoritária e excludente. Trata-se de um processo mais complexo de acúmulo de frustrações e ausência de auto-contenção social quando, à banalidade da vida em comum se sucede a “banalidade do mal” e desta para a “banalidade da loucura”. Um dos principais fatores neste processo é uma espécie de anomia na perda posições e dificuldades de grupos internos para acompanharem transformações estruturais da economia e sociedade. É o que está acontecendo em várias partes do mundo ocidental, primneiro como resultado da globalização, que levou à degradação de vastas áreas industrais, depois, agora, com o reescalonamento em escala mundial das plantas industriais como resultado da recuperação da ideia de construção de um mínimo de soberania nacional sobre produtos e serviços estratégicos. Isso está reanimando um discurso de ódio oportunisticamente explorado pela extrema direita.

Curiosamente, como demonstrou um autor argentino recentemente, ela recorre a consignas e formas de luta da velha esquerda, hoje institucionalizada, como proselitismo ant-sistema, empolgando as massas com o uso de Redes Sociais hoje disponíveis. Acabam manipuladas por interesses ocultos que sequer eles próprios, protagonistas, muitas vezes desconhecem. Dissemina-se então o ódio , a violência verbal e até física. Pessoas contaminadas por estes discursos perdem a capacidade de agir civilizadamente e chegam até ao terrorismo e assassinato. Vide aquele caso no Paraná, em que um possesso bolsonarista invade uma festa particular e assassina o aniversariante. Aliás, ontem foi posto em liberdade…

A cadeirada, enfim, gera suas reflexões
Aí, pois, entramos num mundo distópico, como afirma Ualid Rabah, líder dos palestinos no Brasil, após as explosões, ontem, de pagers, supostamente planejadas por Israel, sobre supostos dirigentes do Hezbollah, um partido organizado no Líbano, com assento no seu Parlamento.
“Mundo, mundo vasto mundo…”

*Paulo Timm é economista, professor universitário, jornalista e editor.

Foto: Divulgação

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