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Opinião

A polarização social e o dilema de Lula

A polarização social e o dilema de Lula

Artigo por RED
07/04/2023 05:30 • Atualizado em 09/04/2023 09:03
A polarização social e o dilema de Lula

De CARLOS EDUARDO BELLINI BORENSTEIN*

Os números divulgados pela mais recente pesquisa do instituto Datafolha apontam que a polarização social existente no país desde as eleições de 2018 continua sedimentada na opinião pública. No levantamento do Datafolha, a avaliação positiva (ótimo/bom) do governo Lula (PT) atinge 38%. O índice regular é de 30%. E a avaliação negativa (ruim/péssimo) soma 29%.

A sedimentação da polarização fica ainda mais nítida quando analisamos a segmentação da avaliação do governo por renda e comparamos esses números com a pesquisa Datafolha da véspera do segundo turno do ano passado, quando Lula derrotou Jair Bolsonaro.

Apesar dos 38% de avaliação positiva mostrarem que Lula possui um piso de apoio sólido, a popularidade do presidente é sustentada majoritariamente pela fatia da população com renda mensal de até 2 salários mínimos. Nessa faixa de renda, 45% consideram o governo ótimo/bom. O percentual regular é de 31%. E o índice ruim/péssimo soma 21%.

Na faixa de renda de mais de 2 a 5 salários, 36% avaliam o governo negativamente. 32% dos entrevistados têm uma avaliação regular. E 30% possuem uma avaliação positiva. No segmento de renda mensal de mais de 5 a 10 salários, o índice ruim/péssimo atinge 47%. A avaliação regular é de 25%. E o percentual ótimo/bom contabiliza 26%. E entre quem ganha acima de 10 salários, a avaliação negativa registra 50%. O percentual regular é de 20%. E o índice positivo atinge 30%.

Conforme podemos observar, a popularidade de Lula está ancorada no eleitorado mais pobre, com renda mensal de até 2 salários, que desde o realinhamento eleitoral de 2006 se transformou no principal reduto eleitoral do lulismo.

A segmentação da avaliação do governo pela variável renda é muito similar à verificada no segundo turno de 2022, quando o eleitorado de baixa renda foi fundamental para a vitória de Lula.

Na véspera do segundo turno do ano passado, o Datafolha divulgou uma pesquisa, realizada entre os dias 28 a 29 de outubro de 2022, que apontava que Lula venceria Bolsonaro apenas no segmento com renda mensal de até 2 salários (55% a 34% das intenções de voto). Nas demais faixas de renda, Bolsonaro aparecia à frente de Lula: mais de 2 a 5 salários (51% a 42%); mais de 5 a 10 salários (54% a 38%); e mais de 10 salários (56% a 36%).

A quase repetição do padrão de comportamento eleitoral de 2022 nestes primeiros 100 dias de governo Lula mostra que a polarização continua fortalecida no tecido social brasileiro. Mesmo que das quatro faixas de renda analisadas Lula vença em apenas uma, é importante destacar que o segmento de renda mensal de até 2 salários representa 55% da população brasileira. O segmento de 2 a 5 salários corresponde a 32%. E os estratos de renda em que Lula é mais desaprovado, e onde Bolsonaro fez mais votos, de 5 a 10 salários, e acima de 10 salários, representam um percentual mais reduzido da população (7% e 2%, respectivamente).

Embora quantitativamente essa distribuição favoreça Lula, já que a população de menor renda representa a maioria dos brasileiros, o presidente terá que lidar com um dilema. Eleito com um discurso de frente ampla, no curto prazo, o pacto de união nacional esbarra na polarização.

Assim, a atual correlação de forças “empurra” Lula para a polarização. Outro aspecto a ser observado é que a essência do lulismo produz uma polarização classista, já que desde o realinhamento eleitoral ocorrido em 2006 a classe média caminhou para a direita e se afastou de Lula e do PT. Como consequência, o lulismo passou a concentrar sua força nas classes populares em função do sucesso dos programas sociais do período 2003-2010.

Além do cenário de 2023 ser totalmente diferente dos dois mandatos anteriores de Lula, os atos golpistas de 8 de janeiro e as resistências que o governo encontra para realizar mudanças na agenda econômica de matriz liberal reforçam a premissa de que o governo vive um dilema, já que a construção de um governo de união nacional esbarra nos obstáculos impostos pelo bolsonarismo, que permanece enraizado em importantes segmentos sociais do país.


*Cientista político com MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais. Mestrando em Comunicação Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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