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Opinião

A imprensa na mira de agressores

A imprensa na mira de agressores

Artigo por RED
21/04/2024 05:30 • Atualizado em 24/04/2024 17:24
A imprensa na mira de agressores

De EDELBERTO BEHS*

Bastou o macho-alfa cair do poder que os casos de agressão a jornalistas e às empresas de comunicação diminuíram no ano passado, quando foram registrados 330 ataques a trabalhadores da imprensa, uma redução de 40,7% em relação a 2022. As agressões físicas, no entanto, aumentaram, de 32,2% em 2022 para 38,2% em 2023.

Como se explica esse acréscimo? “Os atos antidemocráticos ocorridos em 8 de janeiro de 2023 tiveram reflexos diretos nesses resultados, pois muitos jornalistas foram atacados durante a cobertura do episódio, sofrendo violência física, ameaças, intimidações e destruição de seus equipamentos”, informa o “Monitoramento de Ataques Gerais e Violência de Gênero”, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Esse foi o quinto monitoramento realizado.

Desde 2019, registrou-se uma tendência crescente de violações, que chegou ao seu ápice no ano eleitoral de 2022, com 557 episódios de agressão à imprensa. O ano de 2023 mostrou uma curva de contra tendência, “apresentando, pela primeira vez, nos últimos quatro anos, uma queda nos alertas coletados”.

O relatório dá nome aos bois. “Nos primeiros meses de 2023, os congressistas que proporcionalmente mais atacaram a imprensa foram os senadores Flávio Bolsonaro (87,5% de suas postagens mencionando a imprensa eram ataques) e Magno Malta (72,7%) acompanhados pela deputada federal Carla Zambelli (50%)”. No decorrer do ano, o cenário modificou-se um pouco: Malta apareceu em primeiro lugar (com 56,2%) seguido de Flávio Bolsonaro, com 53,5%. Daí surgiu, também, o deputado federal Filipe Barros (PL-PR), ultrapassando a deputada Carla Zambelli, com 44,1%.

Pelo terceiro ano consecutivo, agentes estatais despontam como os principais agressores de jornalistas no Brasil, presentes em 55,7% dos alertas registrados em 2023.

Até mesmo o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), Paulo Pimenta, também jornalista, é citado no relatório. Ele tentou desqualificar a apresentadora Raquel Landim, em março do ano passado, ao participar em programa da CNN Brasil. Pimenta perguntou à Raquel se ela era jornalistas, depois dela fazer uma pergunta que o desagradou. “Sou jornalista, sim. Meu papel é fazer perguntas; o da autoridade pública deveria ser a de trazer esclarecimento”, respondeu a apresentadora.

Não fica para trás o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que recorreu ao Poder Judiciário para tentar silenciar a imprensa. Em julho, informa o Monitoramento, ele acionou tribunais de Brasília para derrubar, em caráter de urgência, reportagem sobre violência sexual denunciada por sua ex-mulher. A matéria foi divulgada pela Agência Pública. Também pediu a retirada do programa do ICL Notícias do dia 6 de junho, e tentou barrar conteúdo publicado pelo Congresso em Foco sobre o mesmo assunto.

A maioria dos agressores em 2023 foram homens (49,7%). Não ficou fora da listagem o pastor neopentecostal, uma espécie de assessor espiritual do casal Bolsonaro, que chamou a imprensa brasileira de “medíocre, parcial e inescrupulosa” depois das notícias sobre o episódio das joias saudista. Agressores “não identificados” somaram 22,7% dos ataques.

Quanto ao critério “regionalização”, assim como em 2022, também no ano passado as regiões Sudeste e Centro-Oeste concentraram a maioria dos ataques registrados. Mas a ordem se inverteu: em 2023, o Centro-Oeste encabeçou a lista com mais agressões à imprensa, com 43,9% dos episódios registrados. Brasília, o Distrito Federal, com 39,7% dos casos, aparece em primeiro lugar, seguida pelos Estados de São Paulo (16,6%), Rio de Janeiro (7,3%) e Rio Grande do Sul (3,9%).

Todos os dados, informa a Abraji, foram coletados a partir de uma metodologia transparente e replicável, compartilhada por 17 países da América Latina e do Caribe, que integram a rede Voces del Sur. As diferentes categorias de alvos do monitoramento incluem fotojornalistas, editores, executivos e diretores de veículos, jornalistas freelancers, produtores de conteúdo jornalístico e outros trabalhadores da imprensa, como motoristas e demais prestadores de serviço.


*Professor, teólogo e jornalista.

Imagem em Pixabay.

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