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Opinião

A hora e vez do marreco

A hora e vez do marreco

Artigo por RED
22/03/2023 17:38 • Atualizado em 24/03/2023 15:41
A hora e vez do marreco

De LEONARDO MELGAREJO*

Nesta semana, descoberta e anulada ação criminosa do PCC (primeiro Comando da Capital) , que planejava homicídios e extorsão mediante sequestro de autoridades, em pelo menos cinco estados (Rondônia, Paraná, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e São Paulo), o ex-juiz Sérgio Moro se apressou em dizer que o senador ameaçado de morte seria ele.

Com isso, a grande mídia tratou de amenizar os impactos da magnífica entrevista ao vivo do presidente Lula à TV 247. Nela, além de fazer declarações essenciais sobre seu projeto de governo, como sobre as medidas para a recuperação nacional, o combate a fome, a retomada da credibilidade das instituições e o tratamento que há de ser concedido a todos, o presidente se expôs por inteiro. Afirmou, por exemplo, que Jair Bolsonaro deve receber a presunção de inocência que não lhe foi concedida, e se emocionou às lágrimas, revivendo momentos de dificuldade extrema a que foi submetido ao longo daqueles 580 dias de prisão sem provas e sem culpa. A perseguição midiática e judicial, a morte do irmão, da esposa e do neto dominaram seu espírito e, em determinado momento, revelou que, questionado naquele tempo de prisão, costumava afirmar aos visitantes que –assim pensava na ocasião- as coisas só ficariam bem depois dele “foder com o Moro”.

E esta expressão, que é comum aos milhões de brasileiros que enxergam a ruína nacional provocada pelas ações do ex-juiz venal, merece ser revivida nesta hora. Afinal o ex-juiz, ex-ministro da justiça, ex-super boneco inflável, foi artífice fundamental da destruição de políticas de soberania nacional em geral, em particular de políticas de combate à fome. Basta lembrar que em 2014, graças às medidas de inclusão social do governo Lula, ao fortalecimento da agricultura familiar e à incorporação da sociedade organizada no planejamento de ações da máquina pública, o Brasil saiu do mapa da fome das Nações Unidas.

E em 2018, apenas dois anos depois do golpe que depôs a presidente Dilma, eram 13,5 milhões os brasileiros que já viviam abaixo da linha da pobreza. E em 2022, ao final do governo fascista eleito graças ao desmonte do estado que se seguiu à prisão irregular e inepta de Lula, determinada pelo ex-juiz Sergio Moro, 33 milhões de brasileiros passam fome.

Qual seria o sentimento daquelas pessoas e dos desempregados, dos subempregados, ou daqueles que vivem na condição de semiescravidão, em relação àquele ex-juiz, que viabilizou tudo isso? Creio que eles, como todos aqueles com acesso ao relatório sobre o avanço da fome e sobre a relação entre a fome e o autoritarismo implantados no Brasil haverão de concordar com a punição exemplar dos responsáveis.

Sérgio Moro, enquanto ensaiava para a farsa da Lava Jato, que culminou com a prisão de Lula, patrocinou a operação Agro Fantasma. Nesta, atacando o Programa de Aquisição de Alimentos-PAA, o ex-juiz arruinou a vida de
agricultores, desmontou sistemas cooperativados e destruiu a conexão entre o fortalecimento da agricultura familiar e a distribuição de produtos de qualidade para consumidores de baixa renda e populações em situação de vulnerabilidade alimentar.

Agricultores sem antecedentes criminais, que jamais haviam pisado numa delegacia, foram recolhidos em casa por policiais fortemente armados, algemados e levados para a prisão em Curitiba. Foram pressionados, coagidos a assumir os crimes denunciados e, mesmo comprovando renda de até 2 salários mínimos, foram comparados a criminosos de “colarinho branco” e questionados, pasme-se, até sobre onde estariam escondidos o “iate, dólares e os carros do ano”. Famílias desestabilizadas, safras e saúde física destruídas, associações pulverizadas, vergonha e tristeza decorrentes de processos posteriormente anulados por falta de elementos objetivos que lhes dessem sustentação.

Absolvidos pela justiça, alguns daqueles agricultores passaram a acusar o ex-juiz e ex-ministro, sempre marreco e atual senador Sergio Moro, de promover ações persecutórias que estragaram suas vidas, desmontaram o Programa de Aquisição de Alimentos, levaram à desorganização de processos cooperativos e cortaram vínculos necessários ao enfrentamento da fome.

A última daquelas ações penais, que envolvia a Associação de Hortifrutigranjeiros do Município de Ponta Grossa, onde sete agricultores e um funcionário da Conab eram acusados de formação de quadrilha, estelionato, peculato e prevaricação, foi cancelada por “falta de provas para as acusações”. Depois de quase sete anos, com todos os acusados absolvidos, como o Ministério Público não recorreu a nenhuma das sentenças (e isso ainda durante o governo Bolsonaro), resta supor que a operação Agro-Fantasma de fato se orientava por objetivos políticos, que foram alcançados no rastro da operação Lava Jato. Em outras palavras, a intencionalidade de atacar políticas públicas como o PAA antecipava ações voltadas à desestabilização do governo de Dilma Rousseff, e ia além. Incorporando discursos de combate à corrupção, com apoio da grande mídia e cooptação de movimentos de rua, os golpistas consolidaram a operação Lava-Jato e a imagem “justiceira” de Sergio Moro e seus minions do MPF. Enfim, logo após a prisão de Lula, o ex-juiz assumiu alegremente o ministério da justiça do governo que ajudou a eleger. Literalmente, fodeu-se e foi defenestrado quando acreditou que poderia ser ministro do STF  e disputar com o próprio mito. Mais adiante foi recolhido pelo mito, para figurar de papagaio de pirata nos debates de outubro e, agora, cotidianamente, passa vergonha no senado federal.

Compreende-se, assim, o sentimento de milhões de brasileiros que também entendem o desabafo do Lula. Aliás, eu também quero que o marreco se foda.

Deixo como sugestão de leitura o volume 3 da Revista Ciência Digna.

E também a música “É “, de Gonzaguinha.


*Engenheiro Agrônomo, mestre em Economia Rural e doutor em Engenharia de Produção. Foi representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio  e presidente da AGAPAN. Faz parte da coordenação do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e é colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, do Movimento Ciência Cidadã e da UCSNAL.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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