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O cinismo do capitão
O cinismo do capitão
Por EDELBERTO BEHS*
Num vídeo que circula pelo Youtube, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro aparece em Ji-Paraná com uma criança no colo e rodeado de outras cinco mais, para criticar o STF que condenou o pai da prole, um tal de Ezequiel, “um trabalhador honrado que nunca se meteu em confusão”, mas que participou da tentativa de golpe de estado do dia 8 de janeiro, em Brasília.
E o culpado pela sentença de 17 anos de prisão proferida contra Ezequiel é o STF, que, pergunta Bolsonaro, se os ministros não têm coração ao condenarem um pai e deixar as crianças como “órfãs de pais vivos”. É uma “grande injustiça feita contra o Ezequiel”, que deve estar foragido no Brasil ou na vizinha Argentina, onde o próprio ex-presidente citou o paradeiro de mais de 200 condenados.
O Brasil era até ontem um país democrático, hoje “é censura para tudo quanto é lado”, definiu Bolsonaro. Ele apelou aos ministros do Supremo para pensarem nessas crianças, “não em mim”.
O cinismo de Bolsonaro vai ao extremo. Ele, um agitador por trás dos panos do golpe, fugitivo, recolhido nos Estados Unidos para tirar, agora, o corpo fora dos acontecimentos do dia 8 de janeiro pois, afinal de contas, ele sequer estava no país.
Mas o capitão insuflou gente como o Ezequiel a servir de bucha de canhão em Brasília, enquanto se refestelava nos States. E agora responsabiliza o STF pela “orfandade” das seis crianças! O Ezequiel foi um pai responsável ao deixar seis crianças aos cuidados da mãe para se aventurar em Brasília e questionar o processo eletivo do Brasil?
Até o fiel escudeiro do ex-presidente, o pastor Silas Malafaia, admitiu, em entrevista para Mônica Bergamo, que Bolsonaro é um omisso e covarde. E o apelo dele, a partir de Ji-Paraná, rodeado de crianças, reforça essa constatação. Seria honesto o messias admitir que a responsabilidade por essas crianças sentirem a ausência do pai cabe mais a ele!
O vídeo do apelo patético:
*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).
Foto: Reuters/Adriano Machado/Diretos Reservados
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