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O Brasil é do senhor jesus

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O Brasil é do senhor jesus
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De EDELBERTO BEHS* Em mais uma manifestação conclamada pelo inelegível, a ex-primeira-dama aparece no caminhão do som, no domingo, 21/04, em Copacabana, no Rio, vestindo a “tradicional” camisete verde/amarela com os dizeres: “O Brasil é do Senhor Jesus”. Ou seja, o Brasil voltará a ser do senhor jesus (vamos colocar em minúsculas porque o Jesus do Novo Testamento não se presta a tal manipulação) quando a turma dela, com Malafaia na garupa, retomar as rédeas da nação. Em quatro anos, o país viu o que significa o senhor “mandando” no Brasil. Com toda a certeza, Cristo se envergonhou e se envergonha desse apoderamento de sua mensagem para fins eleitoreiros. Nos quatro anos em que o Brasil “esteve” com o senhor jesus, um ministro, Milton Ribeiro, também pastor, negociava com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moreira a liberação de verbas federais para prefeituras, sob o pagamento de propina. Lembram? Que vergonha para a grei evangélica! Jesus se entristeceu. Teve outro ministro, Ricardo Salles, do Meio Ambiente, que em pleno período da pandemia sugeriu ao governo fazer uma “baciada” de mudanças nas regras ligadas às áreas da proteção ambiental e da agricultura, enquanto a nação e a imprensa se “distraiam” com os casos de covid-19. Era para “passar a boiada” sem chamar a atenção. Lembram? Jesus se entristeceu. Tem uma senadora, ex-ministra, eleita pelo Partido Republicano no Distrito Federal, também pastora, que “ouviu” dizer que na Ilha do Marajó crianças de três, quatro anos, têm os dentes arrancados para fazer sexo oral. Jesus adora fofoca? O messias tripudiou de pessoas acamadas pela covid, imitando-as com falta de ar, dizendo que não era coveiro, menosprezando a vacinação, propondo medicamento não apropriado, sugerindo que a população deixasse de ser maricas. Lembram? Jesus, que curou tantos enfermos na sua vida terrena, ficou perplexo. Mais perplexo ainda ficou quando o messias afrouxou as regras para a aquisição de armas e munição. Era importante “armar a população”. Jesus, que pregou o amor, não entendeu nada, mais confuso ainda ficou quando leu na camiseta da primeira-dama que o Brasil pertencia ao senhor jesus. Com as armas? O senhor jesus passou o maior vexame quando o messias que entendia representá-lo na cadeira presidencial, tentou trazer joias do Oriente Médio por baixo dos panos, tentando ludibriar policiais da aduana do seu próprio governo. Ou seja, presidente fazendo contrabando. Lembram? Ah, tem ainda aquele episódio com jovens venezuelanas da comunidade de São Sebastião, em Brasília, quando “pintou um clima” e o messias pediu para entrar na casa delas. Lembram? O governo do senhor jesus aprontou essas e outras mais. Por fim, nos estertores do seu mandato, na busca de impedir a posse de um capeta, o messias tentou aplicar um golpe, que deixou manifestantes na fogueira, alguns estão presos, enquanto ele se recolhia aos Estados Unidos e olhava de longe os acontecimentos na linha de baixo do Equador. Com muita coragem, claro! Esse foi um trailer de quatro anos do governo do senhor jesus. Repleto de mentiras, divulgação de fake news, agressões a jornalistas, a opositores, porque o messias batia e arrebentava (os mais fracos) e garantia que não teria eleições se o voto não fosse impresso. Perdeu. Jesus se sentiu aliviado por não ter mais que “emprestar” seu nome, tomado em vão, para os senhores da enganação. *Professor, teólogo e jornalista. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia. 

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Legado do MDB gaúcho nas tragédias de Santa Maria e Porto Alegre

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Legado do MDB gaúcho nas tragédias de Santa Maria e Porto Alegre
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De ALEXANDRE CRUZ* Como jornalista político, é meu dever não apenas relatar os fatos, mas também analisar as consequências das decisões políticas sobre a vida dos cidadãos. E é com pesar que devo afirmar que, mais uma vez, vemos o triste resultado da negligência e da falta de responsabilidade por parte da gestão municipal. Recordemos a tragédia que assolou Santa Maria na fatídica noite na boate Kiss, um evento que não apenas ceifou dezenas de vidas, mas também deixou cicatrizes indeléveis na alma da cidade e do país. Naquela época, o prefeito responsável era César Schirmer, cuja administração foi marcada por um dos piores desastres em solo gaúcho, gerando uma repercussão internacional. E agora, como um déja-vu macabro, somos confrontados com outra tragédia sob a gestão do MDB gaúcho. A Pousada Garoa, em Porto Alegre, tornou-se o palco de uma nova catástrofe, onde a negligência e a ganância custaram a vida de dez pessoas. É alarmante constatar que, mais uma vez, a inépcia administrativa tem um preço medido em vidas humanas. A evidência é clara: a prefeitura comprava vagas na pousada, pagando fortunas aos seus donos, mesmo sabendo que o estabelecimento não possuía alvará de funcionamento. Esta é uma falha grave que não pode ser ignorada, pois revela um desrespeito flagrante às normas de segurança e uma priorização questionável de interesses financeiros sobre a vida dos cidadãos. Ao ser confrontado com a magnitude da tragédia, o prefeito Sebastião Melo optou por uma resposta indignante: "não vamos politizar". Não se trata de politizar, mas sim de responsabilizar. É inadmissível que um gestor público tente se esquivar de sua responsabilidade diante de uma tragédia de tamanha proporção. O prefeito Melo tem, sim, toda a responsabilidade sobre o que ocorreu. Suas mãos estão manchadas de sangue daqueles que pereceram devido à sua negligência e à sua conivência com a falta de fiscalização. Mas esta não é uma tragédia isolada. Ela é apenas mais um capítulo em uma narrativa mais ampla de descaso com a segurança pública e de uma política que coloca em risco a vida dos cidadãos em prol de interesses particulares.  A Lei Econômica e os decretos de Sebastião Melo permitem que estabelecimentos funcionem sem alvará, apenas com autodeclaração. Isso é mais do que um erro administrativo, é um crime contra a vida e a segurança da população. O prefeito Melo, com sua ideologia que coloca o lucro acima da segurança, tem sim responsabilidade sobre a morte dessas pessoas. Não podemos aceitar que vidas humanas sejam tratadas como meros números em uma planilha de custos. É hora de cobrar responsabilidade dos nossos líderes políticos e exigir que a segurança e o bem-estar dos cidadãos sejam colocados em primeiro lugar. A memória daqueles que perderam suas vidas nessas tragédias merece justiça, e cabe a nós, como sociedade, garantir que essas tragédias não se repitam. *Jornalista político. Imagem: reprodução redes sociais. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Por que temos que salvar a política?

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Por que temos que salvar a política?
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De ELIS RADMANN* Como pesquisadora que estuda o comportamento da sociedade, tenho visto se ampliar a descrença e a negação da política. Esse fenômeno ocorre associado ao aumento do individualismo e da intolerância, motivado pela influência da tecnologia em nosso cotidiano. Tenho destacado o quanto a política é fundamental para guiar nossa vida em sociedade. A política define as leis (o que podemos ou não fazer) e define a gestão dos serviços públicos (como será o atendimento da saúde, qual será a forma utilizada para combater a violência, se a educação será a prioridade e até o que será ensinado nas escolas). A política define o tamanho do Estado, de uma cidade e influência nos rumos da economia. E também é a política que diz a quantidade de impostos e tributos que devemos pagar e o que será feito com esse dinheiro. A política pode diminuir a tendência ao individualismo e ampliar o sentimento de comunidade. Com a política somos parte, somos inclusos, ela traz o sentimento de pertencimento. A política é a arte do diálogo, da negociação, da capacidade de transformar tese e antítese em uma síntese, de fazer com que o conjunto A e o conjunto B formem uma intersecção. A política fomenta o estabelecimento de regras, a harmonia do convívio social e transforma moral em ética. A política é responsável pelo contrato social entre as pessoas, entre as instituições e entre os governos. A política nos faz evoluir como seres humanos e sociais. Nos faz ver que precisamos uns dos outros, que o direito de um acaba quando começa o do outro. A política nos ensina que somos diferentes e podemos pensar de forma diferente, mas temos que lidar com a diferença de forma respeitosa e fazer isso com tolerância e empatia. Com a política podemos transformar sonhos em realidade. Mas, para que a política seja tudo o que ela se propõe, temos que ter consciência de que o jeitinho brasileiro está impregnado em nossa cultura e que temos que fazer a nossa parte. Que não adianta reclamar dos políticos e continuar praticando o jeitinho ou ficar omisso diante de pessoas que praticam o jeitinho. Temos a missão de salvar a política. Mas para salvar a política temos que ajudar a resgatar e ressignificar a política. E para fazer isso, temos que rever o nosso comportamento e o nosso envolvimento com a política. Se cada um de nós fizer um pouquinho em prol do bem comum, estaremos salvando a política e o resultado dessa ação irá repercutir e influenciar no comportamento e nas práticas dos partidos e dos políticos. *Cientista social e política. Fundadora do IPO – Instituto Pesquisas de Opinião. Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Despedidas sem lágrimas

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Despedidas sem lágrimas
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De SOLON SALDANHA* Se torna muito mais fácil perceber porque a prefeitura não estava nem aí para a fiscalização das condições da pousada que incendiou e de outras que contrata, quando se sabe o que houve nos velórios de quatro das vítimas fatais do incêndio. Nenhum familiar ou amigo compareceu. Após, seus corpos desceram para as sepulturas acompanhados da mesma solidão e do mesmo descaso que tiveram em vida. Eles já não existiam antes da sua morte. Eram ninguém, figuras descartadas pela sociedade. Só mesmo o céu chorou, com a chuva que caía na tarde do sábado. Maribel Teresinha Padilha, Dionatan Cardoso da Rosa, Julcemar Carvalho Amador e Silvério Roni Martin de seu tinham apenas os nomes, que cito aqui em reverência. E deles sobrou ao menos as impressões digitais, que puderam ser comparadas com cópias de documentos que a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) guardava. Também foi sepultado, mas com familiares presentes, Anderson Gaúna Corrêa. Quanto aos outros cinco corpos, está sendo aguardada a realização de exames de DNA ou de arcada dentária para que sejam identificados. A psicologia reconhece a solidão como sendo uma condição associada à dor e à tristeza. Quem se sente só percebe em seu entorno e dentro de si um vazio, uma desimportância, uma não identidade. Pouco importa se a pessoa tem ou não real desejo da companhia de outras, de pertencer. Isso porque não carrega a impressão de que possa vivenciar isso. Acredita não ter ou não merecer essa oportunidade. Já o abandono, esse vem de fora, ele é externo ao indivíduo. É a renúncia consciente ou não de terceiros ou da sociedade em relação ao indivíduo. Trata-se de um desinteresse, uma invisibilidade. Assim como se o “problema” não visto deixasse de existir. O mundo contemporâneo, organizado em torno da estrutura capitalista e da valorização do consumo, não reconhece como digno de viver aquele que não é produtivo. O que não agrega aquilo que a sociedade considera importante só tem valor enquanto possibilidade de gerar ganho indireto para outros. Se não está vendendo seu tempo, seu trabalho, que venda a sua presença, a sua existência inútil. Como ser um número dentro de uma organização que é paga pelos poderes públicos, que o fazem como forma de parecer que se importam, que cuidam de todos de forma igual. O que vive na rua não está sendo acolhido por ser humano, mas porque aplaca consciências e dá lucro com aparência de honesto a quem nem parece ser. Essa foi a triste realidade prévia: ela antecedeu ao incêndio e deve sobreviver a ele, tão logo nos esqueçamos deste “lamentável incidente”. Não quero terminar sem reconhecer aqui a generosidade da Funerária Angelus, na pessoa do seu diretor Ary Bortolotto, que fez os serviços fúnebres gratuitamente, fornecendo os ataúdes e colocando sobre cada um deles coroa de flores com o nome da pessoa. Ou seja, nem isso foi a prefeitura municipal de Porto Alegre que custeou, apesar de todas as manifestações cheias de promessas feitas pelo prefeito Sebastião Melo. Sugiro ainda que a leitura continue mais abaixo, após o bônus de hoje, porque listei uma série de informações relevantes sobre o caso. O bônus do autor é a música Lei da Vida, com a cantora e compositora paulistana Sabrina Lopes. https://www.youtube.com/watch?v=EUOabl_rLYg MAIS COISAS QUE PRECISAM SER DITAS: 1)   Se a lei resultante da comoção pós tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria, não tivesse sido “flexibilizada” pela ação de parlamentares mais preocupados em atender demandas de empresários, ao invés da segurança da população, a intensidade do incêndio da Pousada Garoa teria sido muito menor. Ela previa a obrigatoriedade de a edificação ter hidrantes e revestimento adequado, para dificultar a propagação das chamas. 2)   Matéria da Matinal Jornalismo revela que o proprietário da rede de pousadas Garoa, André Luis Kologeski da Silva, havia sido condenado em dois processos por estelionato. Foi por ter ludibriado pessoas com anúncios de aluguel de imóveis que não eram de sua propriedade. Mas, ao que tudo indica, a prefeitura de Porto Alegre não busca saber dos antecedentes das pessoas responsáveis por empresas com as quais firma contratos milionários. Ou sabe e não se importa com isso. 3)   Cezar Schirmer (MDB), que era prefeito de Santa Maria quando da tragédia da Boate Kiss, é atualmente o Secretário Municipal de Planejamento, na administração de Sebastião Melo, seu companheiro de partido. 4)   O jornal Boca de Rua, que é feito por moradores em situação de rua na capital gaúcha, com o auxílio de profissionais voluntários, foi barrado e não pode participar da coletiva de imprensa na qual a prefeitura procurava se explicar sobre o incêndio. A publicação já havia feito denúncias, no passado, contra a Pousada Garoa e as péssimas condições do serviço prestado. 5) Uma estratégia adotada pelo prefeito de Porto Alegre para afastar de si e dos seus secretários a responsabilidade em relação ao incêndio que teve dez vítimas fatais foi a de transferir para os Bombeiros – e o governador Eduardo Leite, por tabela –, alegando não terem feito corretamente o seu trabalho. Mas, em momento algum falou sobre a falta das vistorias que deveria ter feito e que só agora começarão. Convém lembrar que o encaminhamento do PPCI feito em 2019 sequer informava que o local seria uma pousada. E também que o processo não teve continuidade por parte do solicitante. 6) Quem acessa o site da Pousada Garoa se depara com imagens de quartos que, mesmo simples, são limpos e bem mobiliados. Entretanto, a RBS TV entrou em endereços da rede, com uma câmera escondida, revelando que a realidade é bem outra. Em pensão que fica na José do Patrocínio, no bairro Cidade Baixa, se viu em um quarto apenas um colchão apodrecido e um pequeno armário, bem velho. Segundo a reportagem, o cheiro era forte e desagradável. E havia lixo no corredor. 7) Outro detalhe, esse em pousada na Júlio de Castilhos: não havia sequer um único extintor de incêndio, apesar de um suporte para a colocação do equipamento estar visível. Ou seja, se as vistorias agora prometidas não levarem a mudanças profundas, outras tragédias anunciadas irão se seguir, mais cedo ou mais tarde. *Jornalista e blogueiro. Apresentador do programa Espaço Plural – Debates e Entrevistas, da RED. Texto publicado originalmente no Blog Virtualidades. Imagem: reprodução. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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