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Que persona você é na fila da previdência privada?

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Que persona você é na fila da previdência privada?
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De ELIS RADMANN* A palavra persona pode parecer estranha, mas é o conceito mais moderno para falar do perfil do consumidor. Em uma série de artigos venho descrevendo os principais aprendizados extraídos das pesquisas de mercado realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião, em que acompanhamos a jornada de compra e entendemos como o entrevistado se autoclassifica em cada uma de suas etapas de consumo.  Neste artigo, detalho os diferentes comportamentos quando o tema é previdência privada. Até pouco tempo, era comum se pensar na aposentadoria como algo distante. Com a reforma da previdência e as mudanças definidas pelo Congresso Nacional, as pessoas com maior poder aquisitivo estão cada vez mais preocupadas em planejar seu futuro e obter recursos para sustentarem-se na terceira idade. As jornadas de pesquisa com decisores de compra de previdência privada mostram que há, pelo menos, cinco tipos de visões quando o tema é planejamento da aposentadoria: 1) O despreocupado: Praticamente não conhece nada sobre previdência privada pois nunca pensou nisso. Vive a vida pensando no hoje e ter uma previdência privada ainda não é um tema que lhe preocupa. 2) O interessado: Já ouviu falar alguma coisa sobre previdência privada. Pensa em adquirir, mas nunca teve informações suficientes para motivar a tomada de decisão.  3) Investidor iniciante: Tem algum conhecimento ou tem se informado sobre previdência privada e está pensando em adquirir um plano em breve. Neste grupo estão aqueles consumidores que gostam de investir e procuram estar informados sobre assuntos financeiros que possam lhe trazer benefícios no futuro.  4) Investidor cético: São aqueles que não consideram que investir em previdência privada seja um bom negócio. Acreditam que há outros tipos de investimentos a longo prazo mais seguros ou lucrativos. Neste grupo estão aqueles que investem no sistema financeiro, no ramo imobiliário e no agronegócio. 5) O experiente: Se caracteriza por aqueles que têm muito conhecimento sobre previdência privada. Em muitos casos já possuem um plano de previdência privada e pensam até na possibilidade de aderir a um plano de previdência privada para os filhos ou dependentes. Consideram que é uma forma de terem segurança financeira no futuro. Durante a jornada de entrevistas, ficou evidente que a falta de informações sobre o papel de um plano de previdência privada amplia a ideia de que ter um plano é algo caro e instável, criando a percepção de que “posso não conseguir resgatar o valor investido.” A desinformação potencializa juízos de valores sobre o tema. Há uma leitura de que os planos são técnicos, confusos e sem transparência, “às vezes não falam tudo.” A importância atribuída a um plano de previdência privada não está associada ao perfil socioeconômico, mas ao nível de informação e educação financeira sobre o tema.  Por isso, a educação financeira tem sido um tema explorado pelas instituições financeiras, que já perceberam que precisam educar a sociedade, reativando aquela máxima de nossos avós: “quem poupa, tem”! *Cientista social e política. Fundadora do IPO – Instituto Pesquisas de Opinião. Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Imagem em Freepik. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Lula e o obscurantismo

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Lula e o obscurantismo
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De MANUEL DOMINGOS NETO* Nações não resultam de processos “naturais”: são comunidades imaginadas e construídas para legitimar o Estado moderno. Quem estudou a história moderna atento aos processos culturais sabe disso. A construção das nações é trabalho delicadíssimo e perigoso: produz o sentimento coletivo mais potente e mortífero já conhecido. Não há carnificina moderna que não seja conduzida em nome da defesa dessa entidade sacrossanta, também chamada “pátria”. Grandes assassinos do século XIX agiram em nome de Deus, da pátria e da família. Na atualidade, o avanço do ultraconservadorismo ocorre por meio da agitação enviesada dessas bandeiras. Não há regime político autoritário que dispense o uso de sentimentos nobres amesquinhados por obscurantistas. Um mero chefe de Estado não tem autoridade moral para pedir a vida de seus cidadãos. Um “pai da pátria” ou um “chefe da nação”, tem. Em nome dessa comunidade sacrossanta, multidões matam e morrem convictas de que ascenderão ao panteão máximo da glória. Bolsonaro prometeu metralhar reformistas sociais em nome de Deus, da pátria e da família. Aprendeu, no Exército, que “o mais alto valor de uma nação / vibra n´alma do soldado, ruge n´alma do canhão” (Hino da Artilharia, calcado em música do exército alemão, mostrou-me certa vez um amigo atento). (Lembrete aos que defendem a reforma do ensino militar como forma adequada de “democratizar” o Exército: é o cancioneiro, mais que preleções em sala de aula, que deixa os militares convictos da condição de criadores da nação e responsáveis por seu destino). A construção desta comunidade, a nação, é permanente. O mais reconhecido teórico da construção da nação no século XIX, Ernest Renan, cunhou uma frase que seria repetida insistentemente: a nação é uma opção cotidiana. Não há tréguas na disputa pela nação que almejamos. A construção desta comunidade representa uma disputa constante de interesses sociais divergentes. Neste processo, é fundamental “esquecer” determinados fatos e exaltar outros, assinalou Renan, autor usado por fascistas italianos. Hobsbawm, por sua vez, revelou que a invenção de tradições joga peso fundamental na criação das nacionalidades. Hoje se fala em “disputa de narrativas”, mas a luta política sempre foi orientada por interpretações divergentes acerca de experiências vividas. Aos “de baixo” cumpre rechaçar cartilhas dos que lhes exploram. Lula determinou silêncio relativamente ao golpe de 1964. O militar brasileiro acredita que, nesta ocasião, salvou a pátria. Não se envergonha do fato de tal “salvação” ter sido viabilizada pela força militar do Pentágono. O presidente dos Estados Unidos deu a ordem para deter o reformismo protagonizado por João Goulart, um governante legalmente estabelecido. A determinação de Lula é inadmissível. Contraria sua própria história e confronta as forças que garantiram sua eleição. É uma cusparada na cara de Jango. Nega o discurso que legitimou a Constituição de 1988, quando Ulysses crivou que a ditadura merecia ódio e nojo dos brasileiros. A determinação de Lula ajuda a legitimar a traição aos interesses populares ocorrida em 1964. Joga na lata do lixo o empenho de todos os democratas que se engajaram no combate ao regime assassino. Espezinha os que deram suas vidas pela liberdade e pelas reformas sociais. A lista é longa, desde Tiradentes até Manoel Fiel Filho. Passa por Bárbara de Alencar, Bergson Gurjão e Helenira Resende. Conscientemente ou não, Lula endossou a percepção histórica do quartel, que se vê a encarnação de nobres propósitos. Por que Lula tomou tal atitude? A Constituição determina que assuma o comando das corporações. Lula falou como subalterno, não como comandante. Não lhe cabe o posto de porta-voz de fileiras. Em nome da preservação da democracia não faz sentido endossar os que se empenham em destruí-la. Lula falou como obscurantista e deve desculpas aos brasileiros. *Doutor em História pela Universidade de Paris, escreveu O que fazer com o militar – Anotações para uma nova Defesa Nacional (https://gabinetedeleitura.com/). Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Museu Júlio de Castilhos

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Museu Júlio de Castilhos
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De ADELI SELL* Em 2014, aos 111 anos do Museu, Vanessa Becker Souza lança um livro de resgate histórico do Museu Júlio de Castilhos. Em 2024, aos 121 anos, seu prédio é ameaçado pela construção de um espigão ao lado, assim, nada melhor do que resgatar estas Memórias trazidas pelo trabalho de Vanessa. A autora traça uma linha de tempo que vai de sua fundação, com destaque aos momentos históricos vividos, os governos, alguns que se preocuparam mais com nosso patrimônio histórico-cultural, outros que quase desdenharam a História. Destaco o papel inicial de Pereira Passos que busca nas municipalidades ajuda e materiais para iniciar o importante acervo que temos nos dias de hoje, apesar de perdas relatadas, seja pela ação do tempo, intempéries e desdém de algumas gestões. Poucos devem saber o papel que teve a Escola de Engenharia, como o próprio Pereira Passos e depois o engenheiro Francisco Rodolfo Simch que por longos e longos anos dirigiu o museu, sendo um incansável defensor. Há uma avenida no Sarandi que o homenageia, mas a placa não faz referência a esta magnífica função exercida. Na pesquisa da autora chama a atenção as dificuldades relatadas e as lutas para ter um anexo ou outro prédio como existe hoje em dia. Lastimável ver que quase ano a ano se levantava a questão com o silêncio obsequioso das autoridades. Em 1936, saliento um dado: a doação dos importantes arquivos do historiador Alfredo Varela. É importante lembrar a passagem de Alcides Maya pelo Museu, primeiro rio-grandense na Academia Brasileira do Letras. Foi substituído pelo jornalista e educador Emilio Kemp. O professor Dante Laytano foi outro intelectual a dirigir o Museu e em 1940 “festejou” o falso bicentenário da capital, na onda do professor Walter Spalding. Hoje ninguém lembra o poeta Fontoura Xavier – a não ser que é nome de um município pobre do Estado. Mas em 1956 houve evento comemorativo ao seu centenário.  Poucos sabem, porém, houve na década de 70 muitas sessões de cinema no Museu. Pelos relatos, as visitações de escolas eram bem mais frequentes do que hoje em dia. Em 1975, finalmente, o governo faz desapropriação de prédio ao lado, configurando anos e anos de luta para a ampliação do Museu. Pois, pelos exíguos espaços, muitas peças foram a outros museus específicos, ficando o material histórico do Estado, sendo que hoje há mais de 10 mil peças específicas. É um livro a ser lido, com o devido vagar, para poder apanhar passo a passo de sua construção histórica e social. Logo, a defesa do prédio, do seu acervo, é fundamental nos dias que correm. *Professor, escritor, bacharel em Direito, vereador em Porto Alegre. Imagem: divulgação do site da Secretaria de Cultura do RS. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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SALVAR O FOGO, novo romance de Itamar Vieira Junior

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SALVAR O FOGO, novo romance de Itamar Vieira Junior
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De ROBERTO E. ZWETSCH* Esta é apenas uma nota sobre o livro, nota de espanto, de constatação, de euforia, pois analisar este romance, o segundo da trilogia prometida por Itamar, é um desafio imenso, e ainda não tenho condições de fazê-lo. A leitura desse extraordinário romance causa espécie, na linguagem mais antiga, pois remexe com as entranhas de quem o lê e ausculta, desde os sofrimentos de muitas personagens, os sons do vento e das águas do Paraguaçu, das plantas do tabuleiro e das trilhas, dos cantos dos pássaros e mesmo das ervas da roça de seu Mundinho ou dos tristes e abomináveis segredos do mosteiro de Tapera. Ainda não consigo analisá-lo no todo e nem sei se um dia o farei. Mas tenho de registrar meu apreço, minha dor, meu apego, minha exaltação a essa inolvidável personagem Luzia de Paraguaçu, rio que tive a alegria de conhecer anos atrás num evento em Cachoeira e de ter percorrido – por um breve momento – suas margens históricas na Bahia de todas as gentes. Foi por isso que conheci a tal ponte de ferro que o autor menciona numa breve passagem. Luzia de Paraguaçu, registrem este nome, coloquem-no num quadro ou num recanto especial de seu coração. Ela deixará cravada em nossa mente e coração uma luta por dignidade como pouco se viu na literatura brasileira. Digo-o com precaução porque também não sou versado a tal ponto. Mas de tudo o que tenho lido e conhecido, Luzia desponta hoje como – talvez – a maior novidade, a mais densa, a mais linda, a mais corajosa, aquela que – depois de uma vida violada, carregada de trabalho, de preconceitos, de perseguição, de acusações demoníacas totalmente infundadas e insanas, ressurge altiva, livre como o fogo que a habita e jamais se extinguiu. Luzia de Paraguaçu ergue-se dessas páginas como uma mulher que nos enlaça, nos encanta, nos faz chorar e rir com ela, e talvez, alçar voo com seu manto de penas tecido com todo o cuidado por meses, uma ressonância dos tempos dos Tupinambá, cujo manto mais famoso acaba de retornar ao Brasil como uma memória de um tempo perdido, mas não morto! Luzia de Paraguaçu renasce, eis o que entendi, caro Itamar! E cito aqui um de seus parágrafos finais que me fizeram parar com a leitura antes de chegar à derradeira página, ao assombro de confirmar que ela é mesmo uma mulher de coragem, que aprendeu a não temer a morte. Pois sabe muito bem que a morte a espreitou em muitos momentos dramáticos de sua dura vida. Eis o trecho: “Luzia não sabia, mas intuía. Uma torrente de sangue corre em seu corpo e nela viajam memórias antigas de um tempo duro e impenetrável. A epopeia ancestral navega o rio da vida e promove o despertar de sua existência selvagem. Não a transporta para o passado, mas conduz o que há de valioso neste tempo até o presente” (p. 313). Definitivamente, este é um romance não iluminista, um livro que nos mostra que a vida verdadeira está sempre latindo, se insurgindo, se afirmando como um rio – de fogo? – em nossas veias, pois nelas as nossas memórias e as memórias de nosso passado, de nossas gentes ultrajadas, estão presentes, sempre, sem fim, mesmo quando parecemos frágeis, derrotados ou suspirando por liberdade. *Teólogo, professor de teologia, pastor luterano. **Salvar o fogo. Itamar Vieira Junior. São Paulo: Todavia, 2023. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

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Água, disponível em abundância para alguns, falta para outros

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Água, disponível em abundância para alguns, falta para outros
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De EDELBERTO BEHS* Acessar a internet, dirigir perguntas ao ChatGPT, assistir streamings, usar aplicativos online, armazenar fotos na nuvem são atividades que consomem... água. É o que mostra reportagem de Manuel G. Pascual, publicada no jornal espanhol El Pais, replicada no portal do IHU em 17 de novembro de 2023. Para cada 5 a 50 prompts (perguntas ou instruções), o ChatGPT consome meio litro de água! Os centros de dados, informa o repórter do El Pais, comportam torres de computadores que carecem de resfriamento. As megaempresas de tecnologia são, pois, grandes consumidoras de água... potável. Água que depois de refrigerar essas máquinas não pode mais ser consumidas por bocas humanas. “Um estudo recebido de Javier Farfan e Alena Lohrmann, que leva em consideração os dados de consumo atuais e as perspectivas de crescimento econômicos, estima que a Europa precisará de mais de 820 milhões de metros cúbicos de água por ano a partir de 2030 apenas para que possamos usar a internet”, informa o El Pais. Já o relatório “A Criança Mudada pelo Clima”, que o Fundo da ONU para a Infância (Unicef) produziu para a 28ª Cúpula do Clima, revelou que, no ano passado, um total de 953 milhões de crianças estavam expostas a estresse hídrico. Cerca de 45% estavam expostas em áreas com vulnerabilidade hídrica alta ou extremamente alta. Em 2050, estima o Unicef, o total de crianças sofrendo carências hídricas deverá chegar a 988 milhões. A agência aponta que a maior parte das crianças expostas a esta situação vive em regiões do Oriente Médio, Norte da África e Sul da Ásia. “Nessas áreas, os recursos hídricos são limitados e a disponibilidade se reduz por causa do lençol freático ou risco de seca”, diz o informe. O número de países expostos a um nível de pressão hídrica alta ou extremamente alta deve subir de 47 para 58 até 2080, prevê o Unicef. A África Subsaariana terá a maior demanda por água, vindo a América Latina em segundo lugar com maior escassez hídrica, num aumento de demanda estimado em 43% de consumo de água até 2080. Apenas 2,4% do financiamento climático dos principais fundos multilaterais para o clima apoia projetos infantis. O bom (ironia) é que não vai faltar água para esfriar os computadores dos centros de dados e nós vamos poder continuar com o uso de redes sociais nos nossos celulares. Já crianças da América Latina não têm tanta certeza se terão água potável para beber. Hoje 2,4 bilhões de pessoas vivem em países com estresse hídrico. São países que retiram 25% ou mais dos seus recursos renováveis de água doce para atender a demanda de consumo. As regiões mais atingidas estão centradas na Ásia Central, do Sul, e no norte da África. Até 2025, a estimativa é que 1,8 bilhão de pessoas vão sofrer uma “escassez absoluta de água”. A maior parte da água doce para beber e saneamento vem de aquíferos subterrâneos. Muitas dessas fontes estão secando devido ao uso excessivo e estações de seca mais longas. *Professor, teólogo e jornalista. Imagem em Pixabay. Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia. 

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