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Opinião

Onde queremos chegar?

Onde queremos chegar?

Artigo por RED
09/04/2023 05:25 • Atualizado em 11/04/2023 09:21
Onde queremos chegar?

De GILSON LUIZ DOS ANJOS*

Esta precisa ser uma das primeiras perguntas quando nos colocamos a pensar sobre a construção de um país no qual possamos, todos, todas e todes¹, viver num Estado Democrático de Direitos. Enquanto não soubermos qual o nosso destino, não poderemos começar nossa caminhada em sua direção.

O Brasil, assim como qualquer outra nação que deseje se consolidar como um lugar no qual seu povo possa ser feliz, precisa fazer um diagnóstico da sua condição atual e, em ato contínuo, definir o rumo a ser tomado. Ter consciência de que as estradas até então percorridas não conseguiram lhes levar, no plano coletivo, a este espaço onde a totalidade da população se sinta dignamente pertencente.

Com esta certeza precisa-se desconstruir o imaginário instaurado, pois ele, definitivamente, não atende as necessidades da sua totalidade. Iniciar por um grande processo de diálogo e conscientização de que é preciso construir uma nova sociedade, uma nova geografia, uma nova vida coletiva. Sim, coletiva, pois quando se pensa a sociedade a partir de seus indivíduos, comete-se um enorme equívoco pois, nesta metodologia, falta a consciência do que o eu não existe sem o nós.

O pensamento hegemônico atual foi consolidado num passado secular no qual, aproveitando-se da ignorância da maioria da coletividade, alguns indivíduos se associaram para garantir para si e uns poucos parceiros um sistema social no qual somente eles se beneficiavam. Estamos falando da divisão do trabalho, bem como da apropriação dos produtos, dele, resultantes lá no distante Império Romano.

Tal imaginário solidificou a desigualdade social no qual as maiorias populacionais foram e continuam sendo alijadas da condição de dignidade social, pois da sua condição de miserabilidade se sustenta a condição de riqueza de uns poucos. A criação do Estado foi necessária para a construção de espaço de separação entre estes dois opostos² dentro da mesma sociedade, assim, todos os conflitos de interesses nesta sociedade não encontram solução, pois, segundo Antônio Gramsci, foi criada uma ou mais camadas de intelectuais financiadas pela classe dominante, a fim de impedir a destruição do seu status quo.

A democratização do acesso à educação, saúde, segurança, cultura e informação poderão possibilitar as mudanças profundas que a sociedade contemporânea demanda. O avanço nas tecnologias de comunicação tem facilitado parcialmente o acesso à informação, entretanto, há ainda muito trabalho, militância e diálogos necessários para definirmos um novo destino. Recordo neste momento o Fórum Social Mundial³ com o slogan “Um outro mundo é possível” como uma importante ferramenta para alcançar tal objetivo.

Não é tarefa fácil e possivelmente não desfrutaremos do resultado de nossas ações nesta caminhada. Isso, no entanto, não deve ser um impeditivo para seguirmos nesta trajetória. No caso do Brasil, aproveitar o atual governo, não apenas para combater as forças de direita, mas, focar nas politicas de conscientização da massa trabalhadora. Focar na valorização e qualificação dos profissionais de educação na perspectiva de que um outro mundo é possível.

Combater as fake news com valorização dos canais alternativos de comunicação que não estejam a serviço do Capital. Trabalhar a formação através da Educação Popular, de novas lideranças da classe trabalhadora, capacitando-os para a cidadania plena, bem como para a resistência a toda e qualquer ação de governo que possa prejudicar a sua condição de dignidade social.

Propor a construção de uma sociedade igualitária na qual as pessoas sejam importantes pelo “Ser” e não pelo “Ter”, que as crianças sejam estimuladas em suas curiosidades, nas práticas esportivas e culturais. Que os adultos sejam pessoas livres e de bons costumes e que tenham tempo para viver o social com alegria e dignidade.

Proponho que todos, todas e todes associados queiramos e possamos ir e vir em nossa sociedade sem prejudicar os demais. Combinemos que educação, saúde e segurança não sejam mercadorias que poucos consigam acessar, e que se estimule a solidariedade e a alteridade e não a competitividade. Sonho viver nesta sociedade e te convido a sonhar comigo pois, só assim, teremos melhor possibilidade de realizá-la.


*Mestre em Educação. Professor Educação Básica / Lajeado. Email: contato.gilsonanjos@gmail.com

1 “Tod@s”, “Todes”, “Todxs”, é uma tentativa de uma neolinguagem de gêneros gramaticais que seja inclusiva para/com as mulheres, as pessoas não-binárias, as “pessoas T entre gêneros” (Rocha, Coelho, Fernandes, 2020).

2 Classe dominante e classe trabalhadora.

3 O Fórum Social Mundial é um evento organizado por movimentos sociais de muitos continentes, com o objetivo de elaborar alternativas para uma transformação social global. Seu slogan é: Um outro mundo é possível. Fundador: Chico Whitaker. Fundação: janeiro de 2001. Sede: Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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