Opinião
TEXTO 9: A dívida da serra (com seu filho de nordestino e com o bombachudo de S. Borja)
TEXTO 9: A dívida da serra (com seu filho de nordestino e com o bombachudo de S. Borja)
De ADELI SELL*
Ho paura che dobbiamo abbandonarlo anche noi.
Ah, se os “gringo” da velha geração e seus filhos que viajam a Bordeaux lessem seus corações diriam: “Os medos que temos, até nós deveríamos abandoná-los”.
Até aqui todos eles (“noi”) continuam com medo (PAURA), amarelando, mas falando grosso. Tem até vídeo de uma “patriota” circulando, que já chegou ao Ministério da Justiça. Amoleçam seus corações. Ainda há tempos de MUDAR. Ou há uma taipa de pedras em vossos peitos?
Voltando ao tema e repetindo: vocês não tem nada de meritocracia. Vocês apenas souberam aproveitar o duro trabalho dos “nonos” de das “nonas”, os imensos investimentos dos governos da Velha República, do Estado Novo, já que tinham o “amor” do caxiense Mário Andreazza (Ministro da ditadura) pela Serra. Parece que não apenas a Severina tinha loucuras pelos seus olhos verdes.
E na democracia vocês tiveram dois governadores (que poderiam ter feito bem mais), vocês tiveram uma ajuda ímpar no governo do Tarso Genro, do PT, este PT que vocês tanto odeiam: busquem os dados. E vocês levaram uma das mais audaciosas Escolas Técnicas do Lula, que forma vossos enólogos, técnicos etc. Este Lula que vocês continuam caluniando.
Vocês são mal agradecidos. Vocês me envergonham.
Os “nonos” e as “nonas” enfrentaram não apenas feras, mas serpentes. É certo que sofreram para derrubar a mata a machado e cortar araucárias com uma serra. Sofreram agruras, chegaram aqui SEM TERRA, ganharam SUA terra, uma parte delas nos morros, mas plantando nenhum italiano (bom ou mau) morreu de fome… E vocês originários sem terra tem hoje ódio dos atuais sem terra.
A indústria vitivinícola da Serra gaúcha não existiria sem o entusiasmo e o incentivo de um filho de pernambucano, que aqui chamavam de baiano: Borges de Medeiros. Borges não é meu exemplo de governo, mas passou quase três décadas “caído de amores por vocês”.
Mesmo Júlio de Castilhos – o ditador e mentor do mesmo – em mensagem à Assembleia Legislativa, em 20 de setembro de 1902 disse: “A viticultura tem melhorado visivelmente, devido aos trabalhos que a Estação Agronômica há empreendido com eficácia.” Aí o Borges – a cada ano – foi ajudando, e vocês melhorando suas vidas,
Não foi só isso… Pensem vocês viverem aí sem as estradas de ferro? Em 10 de junho de 1910 ela chegou até Santa Teresa, onde tem a melhor grapa que conheço, passando além de Bento.
Estes dados estão em longo artigo de Luiz Antônio Araújo, para a BBC. Tem nos documentos a que tive acesso. Ou seja, estas coisas estão voando pelo mundo afora. E só vocês não querem ler, saber, escutar. Será PAURA Meritocracia?
Poupem-me com tal baboseira.
Marisa de Moura, uma digna senhora idosa que mora aí há mais de 60 anos, me falou que antes mesmo da Embrapa, técnicos e agrônomos da Secretaria de Agricultura do RS começaram um projeto para que as parreiras que produziam uva Isabel e outras cepas americanas fossem substituídas ou plantações ampliadas para produzir viníferas. Na Fazenda Souza, em Caxias, havia experimentos. O laboratório do vinho e a Delegacia Regional da Secretaria da Agricultura em Bento foram fundamentais.
Ela diz que acompanha a trajetória da uva e do vinho desde 1960: “Meu falecido marido Ormuz Rivaldo foi agrônomo da Agricultura e depois da Embrapa como pesquisador em Bento. Então tem um trabalho de 60 anos ou mais, bancados pelos governos estadual e federal que não pode ser desprezado, jogado no lixo”.
Marisa me pede que volte a lembrar que as duas cooperativas tem centenas de pequenos agricultores cooperativados, e que eles não podem penar pelos CEOs de nariz empinado, que mandam e desmandam nestas instituições de caráter social e coletivo. Nada como uma dica de quem viveu e vive a região e ama sua terra, ou vocês não querem o amor dos Outros?
Nenhuma prova da meritocracia até aqui. Mentira grosseira, soberba total.
Nem o “gringo” que veio com o papo de que o governo é sócio oculto dele. Ora, bolas, vocês sempre mamaram nas benesses do governo. Vocês são todos mal agradecidos. Vocês me envergonham.
Vamos nos respeitar.
Pela Portaria nº 58, de 12 de março de 1969, a Estação de Enologia de Bento Gonçalves ficou transformada em Estação Experimental.
A lei n° 5.851, de 1972 cria a Embrapa, assumindo as funções do Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária. A Embrapa é uma empresa, com autonomia administrativa e financeira e personalidade jurídica de direito privado.
Em 26 de agosto de 1975, foi criada a Unidade de Execução de Pesquisa de Âmbito Estadual – UEPAE de Bento Gonçalves. Em 04 de março de 1985, através da Deliberação 008/85, um ato atribui-lhe a denominação de Centro Nacional de Pesquisa de Uva e Vinho.
A Unidade também possui duas Estações Experimentais. A história da Estação Experimental de Fruticultura de Clima Temperado (EFCT), em Vacaria/RS, começa em 1981, com a implantação da subunidade de Pesquisa de Vacaria, vinculada à UEPAE-Cascata, pertencente à Embrapa Clima Temperado (Pelotas/RS). Em 1984, foram inaugurados os primeiros laboratórios de pesquisa e a estrutura passou a ser denominada Campo Experimental de Vacaria, vinculada administrativamente à Embrapa Clima Temperado. Em 1993, passou a ser uma Estação Experimental e a integrar a estrutura administrativa da Embrapa Uva e Vinho, ampliando a missão da Unidade pela inclusão da fruticultura de clima temperado na sua área de atuação.
Tive que abusar da paciência de vocês, mas era minha obrigação ética de provar que quem sabe das coisas não são os arrogantes que dizem que tudo é fruto da meritocracia deles. Mentira deslavada.
Viva as verbas públicas, viva a pesquisa, viva a Embrapa, viva os agrônomos, químicos, técnicos agrícolas, enólogos e outros que fizeram da cadeia da Uva e do Vinho ser o que é.
Sou obrigado a falar do batismo do vinho, da sonegação praticada ao longo dos tempos. Uma leitora nascida e criada em Garibaldi me disse que ali morou e trabalhou com a família para entregar uvas às vinícolas, quando a pesagem era sempre duvidosa. Que vergonha, hein?
Mas há tempos para mudar vossas atitudes.
Vocês tremem de PAURA? Ou ainda não desceram do pedestal de “vossas façanhas”?
Vocês deveriam ter a coragem de vossos antepassados, sem medo de serpentes, sem vergonha de sentar à mesa com os peões, de ser gente como qualquer pessoa.
Vocês tem como se redimir. Façam um PACTO CIVILIZATÓRIO. Não sou padre, nem pastor, nem tenho autoridade de qualquer santo ou entidade, mas abaixem a cabeça, percam este nariz empinado e façam o vosso dever de casa; CUMPRAM AS LEIS!
Mas parece que há quem tenha “senza paura”, pois uma dita “jornalista”, gravou em 6/3, à noite, na frente do Quartel, um vídeo atacando a “canhota” (ridícula denominação para a esquerda), citando que em Caxias tem dois deputados do PT, um senador do PT. Fala da CUT. Ou seja, a culpa, agora, é dos outros. Ela fala o tempo todo de “patriota”. O vídeo já está com o Ministério da Justiça, como deve chegar a outras autoridades, porque seu conteúdo é criminoso.
Se continuarem com este “topete”, com esta arrogância, pois esta senhora fala dos “sinistros”, falando do evento que o Fux não pode vir falar…”Sinistro” é o uso de mão de obra escrava contemporânea, ou melhor, o Direito, para minha leitura, configura o que aconteceu como “tráfico de pessoas”.
Falou do “sempre Presidente” para se referir ao Inominável.
Vocês me envergonham.
A série continua. Vai ter uma comparação entre os pobres antepassados vindos do velho mundo e os baianos vindos do Nordeste. Vamos fazer um apanhado dos políticos da região ao longo dos tempos.
*Escritor, professor e bacharel em Direito.
Este artigo é o nono da série “Dossiê Bento Gonçalves”, composta por 10 artigos inéditos de Adeli Sell que serão publicados diariamente.
As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.
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