Opinião
Apagando e subvertendo a história
Apagando e subvertendo a história
De ADELI SELL*
Desde criança, nos cafundós da minha Santa Catarina, nas colônias, o Papai Noel já era vermelho. E assim fui vendo-o ao longo dos tempos. Chego aos 70; e alguns inomináveis querem mudar as cores das vestes do “bom velhinho”, aquele que traz presentes às crianças que “se comportaram”.
O Papai Noel foi, é, sempre será vermelho. Como o Saci Pererê é perneta e fuma cachimbo.
Achei que a essência fosse invariável, pois é a essência que conforta uma pessoa e uma lenda.
Agora, a escumalha que berra pela ditadura, acha que tudo que é vermelho é “comunista”. Sugiro que arranquem seus corações do peito e deem aos cães famintos, doem a camiseta do glorioso Internacional aos “comunistas”.
Em um shopping de Balneário Camboriú o Papai Noel veste dourado. Nas lojas da Havan, o Papai Noel do “Véio” está de azul. A óptica Carol apresenta um de azul e branco listrado, enquanto em Nova Prata uma Mamãe Noela preta, vestida de vermelho, é hostilizada.
Estas confusões tem seus propósitos. No RS, o lenço branco é dos chimangos, do partido oficialista, positivista; tanto que os chamavam de pica-paus. Este é a essência da tradição do Partido Republicano Rio-grandense.
Já o vermelho era dos maragatos, da oposição, tidos como conservadores; o que está longe de ser verdadeiro. Este é a
essência do Partido daqueles.
Durante as últimas eleições quase as adagas foram desembainhadas mais uma vez. Um apoiador do presidente Lula
deu a ele um lenço branco, porque ele, sua família vem de uma tradição castilhista. Alguns se queixaram que o lenço não fosse vermelho. Eu se desse um lenço para o nosso presidente daria um vermelho, por ser a cor de nosso partido, também porque admiro os dissidentes castilhistas que formaram fileiras com os maragatos na Guerra de 1923. Entre o lenço branco de Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros, Getulio Vargas, fico com a dissidência oposicionista de Barros Cassal, Venâncio Aires, Ramiro Barcelos e Assis Brasil.
Que cada qual use o lenço que quiser, mas não faça disto uma disputa que já vai pretérita. Muito menos faça confusão histórica.
Assim como temos que chamar o Golpe militar de 1964 de regime militar e ditadura, pois o resto é o resto. Nada vale para a História, é deturpação.
Este barbarismo, esta “Banalidade do Mal” ambulante, me leva a uma frase do Nelson Sargento (1924-2021) que disse ao presidente eleito de sua Mangueira:
A Mangueira, menino, é uma árvore frondosa, tem raízes, tronco, galhos, frutos saborosos. Você, como Presidente, é galho desta árvore. Não se esqueça: por mais que os galhos cresçam, o tronco sempre será maior e quem sustenta o tronco são as raízes.
Uma singela lição de uma grande mente, fruto de uma comunidade de samba, de aconchego, de respeito. A cada 2 de
dezembro – Dia do Samba – esta frase deveria ser repetida, pois naquele meio já tem aqueles que se acham maiores que o tronco, nem pensam nas raízes. Assim, infelizmente, é na sociedade em geral, por isso surgem os caciques dos partidos políticos.
A raiz, a essência, do “bom velhinho” é esta: ele é vermelho e ponto.
Estes inomináveis se acham acima de tudo, apesar de repetir aquele slogan babaca do mandatário inominável e derrotado.
Não sabem perder, mas querem subverter os caminhos traçados pela História.
Dizem-se cristãos; no entanto, os atos que praticam enterram a história de Cristo, como, com ele, vão os ensinamentos bíblicos e as epístolas.
Para eles, o Papa Francisco e sua Laudato Si são comunistas.
Se o Inferno existir, creio que esta escumalha vá queimar por lá.
Este é o reino deles.
*Escritor, professor e bacharel em Direito.
Imagem em Pixabay.
As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.
Toque novamente para sair.