Levantamento do instituto Datafolha indica que 40% dos eleitores brasileiros se identificam como petistas, enquanto 34% se declaram bolsonaristas. O resultado marca o fim do empate técnico registrado nas pesquisas anteriores e recoloca o petismo como o maior grupo político do país, ainda que as variações estejam dentro da margem de erro.
A pesquisa foi divulgada pela Folha de S.Paulo e realizada entre os dias 2 e 4 de dezembro, com 2.002 entrevistados de 16 anos ou mais, em 113 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Outros 18% dos participantes se classificaram como neutros, 6% afirmaram não apoiar nenhum dos dois campos e 1% não soube responder.
De acordo com o Datafolha, 74% da população se identifica com um dos dois polos políticos, índice ligeiramente inferior ao observado em julho, quando esse percentual era de 76%. O levantamento ocorreu após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, fato que marcou o cenário político do segundo semestre.
Além da identificação política, a pesquisa também investigou como esses grupos se posicionam no espectro ideológico tradicional. Os dados mostram um quadro menos homogêneo do que sugerem os rótulos: cerca de 34% dos eleitores que se dizem petistas afirmam se posicionar à direita ou ao centro-direita, enquanto 14% dos bolsonaristas se definem como de esquerda ou centro-esquerda pasted.
Para especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, o fenômeno revela uma sobreposição entre identidade política e identidade ideológica no Brasil. Segundo o cientista político Bruno Bolognesi, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), muitos eleitores se vinculam mais a lideranças e valores pessoais do que a conceitos clássicos de direita e esquerda. Ele aponta que há petistas com posições conservadoras em temas de costumes, assim como bolsonaristas que defendem políticas de caráter mais estatista, como programas sociais pasted.
O cientista político Elias Tavares avalia que o rótulo “petista” ou “bolsonarista” funciona, muitas vezes, como um marcador de pertencimento em um cenário de polarização intensa. Para ele, a identificação pode estar mais relacionada à oposição ao campo adversário do que a um alinhamento ideológico consistente pasted.
Na mesma linha, o professor Luis Gustavo Teixeira, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), afirma que o eleitorado brasileiro tende a se organizar mais em torno de figuras políticas do que de correntes ideológicas estruturadas, característica comum em contextos de populismo na América Latina pasted.
Já o professor Marcus Ianoni, da Universidade Federal Fluminense (UFF), chama atenção para a metodologia da pesquisa. Segundo ele, a ausência de uma definição clara do que se entende por direita e esquerda pode influenciar as respostas e reforçar ambiguidades nos resultados pasted.
Os dados reforçam que, embora a polarização continue sendo um elemento central da política brasileira, a forma como os eleitores se identificam nem sempre segue os limites tradicionais do espectro ideológico, revelando um cenário mais complexo e fluido.
Fonte: Datafolha / Folha de S.Paulo.
Imagem destacada: Bruno Peres/Agência Brasil




