Porto Alegre, qual o teu Legado?  

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Porto Alegre, RS 22/08/2019: A Prefeitura de Porto Alegre entrega à população as obras de reurbanização do Largo dos Açorianos, nesta quinta-feira (22). Os recursos são provenientes do Fundo Pró-Defesa do Meio Ambiente. O Fundo PróAmbiente tem a finalidade de prestar apoio financeiro a atividades, obras, projetos, serviços e equipamentos para o aparelhamento, aperfeiçoamento, e modernização da gestão ambiental no Município, conforme competência da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade (Smams). Foto: Jefferson Bernardes/PMPA

Por JORGE BARCELLOS*

Depois que refleti sobre os prédios que pegaram fogo no centro de Porto Alegre, encontrei nas redes sociais outros incêndios importantes de prédios históricos: o do próprio antigo presidio, localizado na volta da Usina do Gasômetro, que incendiou em dezembro de 1954, noticiado pela Revista Manchete; o incêndio em maio de 1967, noticiado pelo Correio do Povo, do Edifício General Mallet, o famoso grande hotel das décadas de 20 e 30; outro prédio, o da Casa A Egípcia, nos anos 80. Numa cidade onde seus prédios históricos desaparecem pelo fogo, continuo a pensar na razão pela qual os proprietários daquele prédio do centro da cidade teriam inscrito o ano de criação, 1884, quando então me veio a ideia de que eles queriam deixar o prédio como um legado para as gerações futuras.

Legado é um bom tema de ensaio para encerrar o ano, e ainda que eu vá publicar textos sobre o que li, ouvi e vi em 2025, este parece ser o tema do ano: se deixamos serem destruídos pelo fogo prédios históricos e não os recuperamos, se nosso Plano Diretor propõe medidas que esquecem a proteção social dos anteriores, se a política neoliberal insiste na predação de Porto Alegre, é porque somos uma cidade incapaz de honrar seu legado. É muito provável que os proprietários originais do prédio incendiado também estivessem insatisfeitos com as mudanças que tomavam conta da capital e talvez sentisse algum mal-estar com as mudanças na cidade crescendo em direção aos arraiais; não é impossível imaginar que vissem o transporte por animais sendo lentamente substituído por carros e talvez tenham se sentido perdido na velocidade de transformação de seus dias e tenham desejado deixar uma mensagem as novas gerações, um legado, que o próprio prédio encarnaria. Daí sua data.

Se uma inscrição em um prédio pode remeter ao desejo de um legado, podemos pensar nas diversas formas de constituição da herança de uma cidade. Pensamos nas grandes personalidades de Porto Alegre que deixaram um legado citando a obra de escritores, jornalistas e políticos célebres que construíram valor na capital. Aqui eu faço a pergunta aos administradores do presente com o olhar voltado ao passado. Não se trata de perguntar se alguém que viveu em Porto Alegre deixou um legado, mas de perguntar qual o legado que a cidade deixa para seu futuro. Pois, se há algo de que Porto Alegre do século XIX pode se orgulhar, é de ter sido construída no contexto da economia liberal baseada no desejo de uma cidade onde as pessoas possam viver, se relacionar, se exprimir, diferente da cidade construída no contexto da exploração ultra capitalista neoliberal, que a torna impossível de viver pela total predação que faz sobre a cidade do século XIX:  impossibilidade de viver pela poluição sonora, pelo fim de uma paisagem urbana singular substituída pelo inferno do igual, pela redução da habitação da população nos grandes conjuntos habitacionais de tamanho diminuto que levam ao fim da sociabilidade. Se, como entendo, hoje a cidade está doente, talvez se perguntar por um tempo onde a cidade pode conviver com saúde e dignidade seus dias seja o instante de autoconhecimento neste final de ano pra refletir sobre o seu potencial urbano, de sua capacidade de conectar seus cidadãos e de saber como é possível uma cidade deixar um legado positivo para a próxima geração, algo que na minha visão, estamos nos furtando de fazer.

A experiência como legado

Se o legado de uma pessoa é o que ela deixa para as futuras gerações que transcendem sua vida, o legado de uma cidade a experiência e a paisagem urbana de uma geração deixa para a outra. Por isso, para saber o que a cidade está deixando para o futuro, é preciso que refletir sobre o que ela recebeu do passado, refletir sobre o lugar que a cidade ocupava na vida das pessoas, a base da vida urbana. Porto Alegre não nasceu como uma aldeia de concreto ou um vale de prédios isolados em si,  nasceu como um espaço gregário e coletivo ao redor de praças: a Praça XV de Novembro, a Praça da Alfandega e a Praça da Matriz. Viver em Porto Alegre significou no passado se relacionar com o mundo, mas parece que hoje não sabemos dar o devido valor a esse pertencimento. Ficamos isolados no streaming de casa e quando vamos nas praças, somos incapazes de dar bom dia aos passantes.

Entendo que a sociedade porto-alegrense do século XIX forjou determinadas características culturais; deu peso a determinados fatores mais do que a outros; fez escolhas que resultaram na construção de uma paisagem composta de prédios que aqui, diferentes dos de outras cidades, tinham outras funções a cumprir. Olhar de novo a paisagem construída no passado significa verificar quais coisas os porto-alegrenses davam valor e importância. O porto-alegrense é um ser humano complexo, bio-psicossocial no presente ou no passado, mas acredito que a interação entre estas dimensões agravou-se no presente por inúmeras circunstâncias: uma população maior e desigual, com uma parte dela maior, mais pobre e mais explorada hoje do que no passado;  um sistema com menos formas de exploração e alienação do trabalho no passado do que na atualidade, pois a cidade do passado era um lugar onde a tecnologia ocupava um lugar muito menor na vida dos cidadãos, diferente do atual marcado pela precarização tecnológica que os aplicativos possibilitam.

Para mim, talvez por ser um historiador amante das coisas do passado, que vê a cidade como um ser material, palpável e concreto, entendo que na paisagem da cidade de outrora havia um tênue fio de consistência maior do que no presente. Olho o passado e vejo uma cidade onde os prédios parecem falar entre si, como imagino os cidadãos na rotina de seus dias, nos bares, nos mercados. Falamos que os cidadãos habitam o município, o que interfere na maneira de ser das pessoas, mas não temos acesso ao psiquismo da população porto-alegrense do século XIX, só podemos ter acesso a expressões do que valorizavam, seja na literatura ou na fotografia. Enquanto as pessoas se perguntam como se transformou o seu corpo ao longo do tempo, que fisionomia ele tem quando chega à velhice, talvez devêssemos pensar na face da cidade que habitamos da mesma forma:  não temos saudade de nossos tempos de juventude, “que não voltam mais”, não nos sentimos mais belos no passado do que na atualidade? Se olhamos a cidade atual e nos decepcionamos com suas diferenças frente a do passado, e usamos o turismo como esse subterfugio de volta ao passado como usamos nossos cremes para a pele, eu vejo mais beleza na paisagem da cidade do passado do que na atual. Julgar a beleza de Porto Alegre diz respeito ao gosto, é claro, e por isso não tem fundamento racional. Porto Alegre é bela ou a sua beleza está desaparecendo com a emergência dos grandes arranha céus? É verdade que cada um tem uma forma de avaliar a beleza de uma cidade, e isso é um certo relativismo. Haveria algum motivo para julgar a beleza de Porto Alegre se o objetivo de seus cidadãos hoje é simplesmente sobreviver?

Fim da beleza da cidade

Aqui quero afirmar que a beleza dos prédios históricos da cidade é um valor real e é universal. O senso compartilhado em comum de que vivemos numa bela cidade desempenha um papel na nossa visão do mundo.  Roger Scruton, em Beleza (É realizações, 2013), cita a definição de Alberti de Belo “o belo é aquilo do qual nada pode ser tirado e ao qual nada pode ser acrescentado sem que se consiga algo pior”. Não é exatamente nesse “algo pior”no que estamos transformando Porto Alegre? Deixando prédios pegar fogo, permitimos a destruição o patrimônio histórico ou afrouxando as regras de sua proteção e acrescentando em seu lugar prédios modernos, não estamos acrescentando esse algo para pior na cidade de que fala Alberti? Porque temos dificuldade de reconhecer que ao menos a cidade do século XIX foi capaz de sintetizar a beleza de uma determinada época e nos dizer que ali era uma cidade boa para se viver e hoje, olhando-a mais uma vez, vejo que tudo isso se perdeu.

Os construtores e empreendedores neoliberais poderiam retomar a visão de Francis Hutcheson, do século XVIII, citada por Scruton, de que a beleza “consiste em unidade na variedade”, para justificar a presença de grandes arranha-céus junto a prédios históricos. Essa generalização é apenas uma forma de piedade com que contam nossos empresários da construção civil, já que, por serem vagos e incertos, quaisquer coisas servem, exatamente os prédios que assombram os pesadelos de nossos mortos: por isso, diz Scruton, não é um valor menor, “o juízo da beleza ordena as emoções e os desejos daqueles que o emitem. Ele pode muito bem expressar seu prazer e seu gosto; porém, trata-se de um prazer naquilo que eles valorizam e do gosto por seus verdadeiros ideais” (p. 207).

Quando olho o passado e vejo o nascimento do planejamento urbano de Porto Alegre, com uma preocupação com a circulação, com áreas de lazer, com o nascimento de ruas e praças para seus cidadãos conviverem, eu vejo beleza da sociedade do passado. Quando olho as fotos do passado e vejo seus prédios nos mais diversos estilos (colonial, neoclássico e eclético), eu vejo uma arquitetura harmônica e bela, o que acho fascinante também nas cidades que visito, como Buenos Aires e Montevideu. Mas quando vejo os prédios modernos substituindo os antigos ou intercalados entre si, eu vejo uma perda de beleza da cidade. Nessa transformação, não parece a você que a cidade perdeu algo de sua identidade? Se os cidadãos do passado foram capazes de determinar a construção da cidade e seus prédios com seus gostos, projetando neles estilos de vida e padrões de arquitetura tão diferentes, por que a paisagem da cidade atual evoca o inferno do igual? Por que soa tão diferente quando confrontada no mesmo espaço com o passado? Sabemos que há cidades que souberam impor um estilo de fisionomia que hoje permite que prédios antigos e novos convivam harmoniosamente. Vemos a arquitetura de Gramado e, mesmo com a expansão ilimitada promovida pelo mercado imobiliário, mesmo com certo aspecto falso, ainda assim ela luta para preservar a identidade de seu passado. Por que não conseguimos fazer isso em Porto Alegre?

A singularidade de Porto Alegre

Minha resposta é porque a cidade é produto do movimento dialético da história e não conseguimos escapar as forças que desejam sua predação, como aponto no último artigo. Não há como se furtar ao fato de que, ao longo do tempo, algumas forças econômicas podem ter maior poder do que forças sociais. Construímos e destruímos Porto Alegre por forças de interesses no presente, favorecendo ou prejudicando um modo de construir a paisagem que é, ao mesmo tempo, uma escolha geracional.  Quando Deyan Sudjic, em A linguagem das cidades (Gustavo Gilli, 2019), pergunta o que é uma cidade, ele também está nos sugerindo fazer a mesma pergunta para Porto Alegre. Eu tenho certeza de que Porto Alegre era no passado uma coisa e hoje é outra; falamos de cidades com dimensões de população muito diferentes entre si, é claro, com cultura e formas de expressão muito distintas: uma é artesanato, a outra, indústria. “Cidade é uma palavra empregada para descrever praticamente qualquer coisa”, diz o autor, e exatamente por isso, a definição de cidade corre o risco de significar nada. Ainda que Porto Alegre seja identificada pela aglomeração de seus prédios, ela é mais do que isso, é uma singularidade que só o modo de relacionamento de seus cidadãos com a natureza, com suas origens históricas, com o modo como construiu sua infraestrutura e sua cultura determinam. Uma delas é o fato de que a criação de Porto Alegre nasceu mais por estratégia militar, já que era um porto localizado em um promontório, com ampla visão da entrada do Guaíba, que a dotou de uma singularidade, reforçada no período em que ela atravessou a Revolução Farroupilha e o cerco que se foi feito à cidade.

Porto Alegre nasceu como uma fortaleza, sobreviveu a tudo, menos ao ataque do capital. Sou um saudosista de um tempo que não vivi. Vejo nossa identidade quando olho que Porto Alegre vive na frente de um rio, o Guaíba, e tem outro, o Riacho Ipiranga, que é único para nos distinguir do Sena de Paris e do Tâmisa, em Londres.  Fomos no passado uma cidade comercial tanto quanto Hong Kong, mas as características da arquitetura de uma e de outra são notáveis. Se comparadas com cidades brasileiras do século XIX, o mesmo se realiza; é inconfundível quando comparada com Rio de Janeiro e São Paulo, cujas histórias foram anteriores às de Porto Alegre. As formas como deixamos ser reelaborada a arquitetura que um dia já foi luxo também fazem parte de seu legado: como o teatro em estilo beaux arts, em Detroit, transformado em edifício garagem, Porto Alegre também tem fachadas de prédios históricos preservadas, quando no seu interior tudo é diferente, como no prédio da Rua Duque de Caxias, próximo à Assembleia Legislativa.

Sudjic diz que a vocação de uma cidade é a seguinte: “Uma verdadeira cidade oferece a seus cidadãos a liberdade de se tornarem aquilo que desejam” (p. 10). Não vejo como isso poderia ser possível no passado: basta olhar para o fato de que havia pobreza na capital. Não encontrei dados estatísticos que classificassem a população em geral, mas Sandra Pesavento indica que, no passado, diferente do presente, a população pobre vivia no centro da cidade, nos chamados cortiços ou porões de casas da região central, e que datam do início dos anos 20 as primeiras vilas de malocas em nossa capital, mais afastadas do centro. O fato de que, um século depois, elas tenham se multiplicado em direção a regiões ainda mais distantes diz que a capital fracassou, ao longo de sua história, em realizar esse objetivo.  Se há pobres, é porque a cidade não ofereceu a todos a possibilidade de se tornarem o que desejavam. Mas ofereceu lugares em que poderiam viver melhor, e eu penso no centro como lugar de habitação.

A arquitetura como identidade

Olho o centro de Porto Alegre descrito por Barbara Schäffer em sua dissertação de mestrado em Arquitetura, Porto Alegre, Arquitetura e Estilo, 1880 a 1930 (disponível em https://abre.ai/ohy4 ), que mapeia os exemplares de arquitetura de Porto Alegre no período. Ela constata o predomínio da arquitetura eclética na região central da cidade, enquanto que a arquitetura colonial portuguesa predominou até 1822 e o neoclassicismo, até o final do período imperial.  Ela mostra esses prédios com seus diferentes estilos dão indicações do ideal de cidade e homem de cada época e que herdamos. Helton Bello e Luiz Xavier, em Porto Alegre, Arquitetura e contexto urbano 1772-2018 (Libretos, 2025) caracterizam o período da arquitetura colonial: “Nesse processo, ocorre um crescimento da população, que passa a cerca de 12.000 habitantes. Como capital, a freguesia ganha novos equipamentos com várias funções. Reserva-se a área denominada Alto da Praia (hoje Praça da Matriz) para o estabelecimento do centro cívico, onde se inicia a construção dos prédios civis, da Igreja Nossa Senhora da Madre de Deus (1772-80), da Casa da Junta (conhecida como Antiga Assembleia (1774, ainda existente) e do Palácio do Governo (1774). Em 1773, é fundada a Irmandade de São Miguel e Almas, com a construção de um cemitério atrás da Igreja Matriz. Em 798, conta-se com um correio, bem como a construção de duas fontes públicas em 1779: uma na antiga várzea abaixo da atual Praça Argentina e outra na Rua Jerônimo Coelho, esquina com General Paranhos” (p. 23).  Os autores citam as seis obras do período colonial ainda existentes: Memorial da Assembleia, Santa Casa de Misericórdia, Igreja Nossa Senhora das Dores, Solar dos Câmara, Solar da Travessa Paraíso e Sobrado Colonial.

Olhando a arquitetura colonial porto-alegrense, que ideal de homem expressa? Que o porto-alegrense é um homem prático, que produz uma arquitetura simples adaptada ao meio; que é religioso e hierárquico, e que, portanto, possui influência dos valores de sua colonização portuguesa, que exigia instituições capazes de manter o controle social e simbólico da colônia do sul do país. É um homem prático pois constrói uma cidade ao redor com grande simplicidade de obras, que revelam a simplicidade de ser. É um homem que olharia com desdém nosso universo urbano, com seus prédios repletos de tecnologia e refinadamente espelhados. Nada disso é próximo do legado de nosso passado colonial, a defesa da simplicidade. É também um homem que assume o valor da autoridade, que não a delega a outros, nem a um sistema. É religioso, fora do paganismo de nosso presente: religião vem de religare, de estar ligado com seu próximo. No nosso presente não: vivemos em apartamento e isolados do mundo.   Na visão de mundo daqueles porto-alegrenses, aqueles prédios encarnam a valorização de saberes práticos de mestres de obras e pedreiros locais, bem adaptados aos meios, que mostram que a experiência supera a tecnologia, que é possível viver a pressão de dois mundos, seja da metrópole com a colônia. Para o homem do passado, a mediação é importante. Para o homem do presente não. É preciso destruir um mundo para abrir outro.

Olhando a arquitetura neoclássica de Porto Alegre, que ideal de homem ela expressa? Os prédios continuam sendo caracterizados por certa simplicidade geométrica, mas o aprofundamento da simetria, da proporção e o uso de colunas que remetem aos templos gregos e romanos que simbolizam o aprofundamento do homem racional, objetivo e equilibrado. A novidade é o sentimento de autocontenção e a necessidade da cultura, que preserva a clareza e a monumentalidade como expressão do poder. Schaffer assinala que é uma arquitetura que se vincula mais ao contexto local e regional, retomando as descrições de Saint-Hilaire de que nossa igreja matriz era clara e bem ornamentada, e que “se destacava frente às demais construções locais pelo seu porte em relação ao casario, pelo tratamento da fachada e pela decoração do seu interior, tendendo à arquitetura barroca”, numa clara sinalização de que o homem porto-alegrense é um homem religioso. Para o homem do passado, ocupar o seu lugar no mundo com fé em algo superior importa. Para o homem do presente, ocupar seu lugar no mundo é sinônimo de sobreviver a precarização.

O papel da religiosidade

O passado colonial nos deu como legado uma religiosidade. O que ela ensina ao presente? O sacral apela a uma razão sensível que se contrapõe ao racional, a religiosidade reabilita a importância da partilha entre os cidadãos, enseja a generosidade num mundo de privação. Estamos sendo capazes, em nossa Porto Alegre moderna, de continuar essa herança? A Porto Alegre do passado era uma cidade liberal; a de hoje é ultraneoliberal: vejo ações da Prefeitura de Porto Alegre expulsando os catadores do centro da cidade e propondo multas para quem alimenta os mais pobres. Isso é do espírito do porto-alegrense do passado? Para mim não. Nos temos hoje é o capitalismo como nossa religião, exatamente como previu o filósofo Walter Benjamin em seu fragmento de 1921, apenas celebramos nossa autoexploração nas plataformas, trabalhando incessantemente sem distinguir dias santos, um mundo onde apenas o dinheiro é Deus, nossa nova religião, sem espaço para a solidariedade.

Schaffer assinala que essas construções neoclássicas começaram a ser feitas com a contribuição que a imigração alemã e italiana trouxe de artesãos e mestres de obras, que foram responsáveis pela construção de prédios centrais na paisagem da cidade  “A construção civil teve influência dos modelos europeus trazidos pelos profissionais estrangeiros e também adquiridos por meio de revistas e catálogos estrangeiros vendidos em Porto Alegre”. Ela afirma que a introdução do estilo neoclássico se deve ao trabalho de Phillip von Norman, que elaborou projetos para o Teatro São Pedro (1849) e a Casa da Câmara, além de Frederico Heydtmann (1802-1876), que elaborou o projeto do Mercado Público (1861), Ateneu Riograndense (1850) e Beneficência Portuguesa (1867). Segundo ela, seriam produtos de um neoclassicismo tardio os prédios do Asilo Padre Cacique (1881) e do Hospital Psiquiátrico São Pedro (1884).

Que caracterizam esses prédios? São prédios de grande volume monolítico, com saliências de pouca espessura nas fachadas e trabalho de grande elaboração “nas pilastras, na rusticação das bases, nas cantoneiras das edificações, nos adornos sobre aberturas e no eixo central dos prédios” (p. 28).   São produtos do período imperial, e mesmo que alguns tenham sido demolidos, suas imagens possibilitam ver as características comuns. Para Schaefer “o neoclassicismo caracterizou a primeira mudança estilística na arquitetura de Porto Alegre. A paisagem colonial portuguesa de casas brancas e telhados em projeção passou a exibir as formas eruditas da capital do império, tanto nas residências como em prédios públicos de maior porte. O panorama arquitetônico de Porto Alegre permaneceu apresentando a unidade estilística do neoclassicismo até o final do século XIX. Apenas no final daquele século e no seguinte surgirão construções seguindo as concepções do ecletismo”. É uma arquitetura que remete à construção na cidade por um homem racional, mais objetivo e equilibrado, contido e culto. Para ele, a clareza e sobriedade são expressão da estabilidade, mas existe ainda aqui um signo novo que entendo ser apropriado posteriormente pelo capital: a monumentalidade como expressão do poder. Esse legado será aproveitado pelo capitalismo no século seguinte: suas obras privadas querem retirar das obras públicas a monumentalidade não apenas como expressão da razão, mas como expressão do poder. Os novos prédios que tomam de assalto uma Porto Alegre contemporânea o fazem porque a tradição do passado legou um espaço de admiração ao monumental que tais obras passaram a oferecer. Não se diz que prédios grandes são bonitos? Mas o que havia de diferente na beleza da monumentalidade do passado da atual é que cada obra era singular, não o inferno do igual dos prédios atuais, com seu vidro reluzente e ar-condicionado. A arquitetura do passado, com sua monumentalidade, queria abrir-se para o futuro: ela não imaginava, entretanto, que ele iria lhe pregar uma peça, que sua inocente abertura aos destinos da modernidade e progresso seria a causa da destruição da paisagem que ele mesmo construiu.

Uma cidade eclética

Finalmente, o estilo eclético, tema da dissertação de Schaffer, corresponde ao período mais interessante da arquitetura porto-alegrense, que vai de 1880 a 1930.  A autora aponta a diferença entre os dois estilos: “O ecletismo classicista é distinto da arquitetura neoclássica que o precedeu. Estes dois estilos têm muitos pontos em comum, dentre os quais se destacam o emprego das ordens clássicas e seus elementos complementares. A diferença é revelada na maior profusão de elementos decorativos, tanto da linguagem clássica como de ornamentos aplicados (estatuária, texturas, frisos, etc.). Nos grandes edifícios, nota-se a preferência pelo jogo de planos e volumes (ecletismo), em contraste com o rigor geométrico do neoclassicismo” (p. 34). A autora aponta as principais obras ecléticas de Porto Alegre: o prédio da Prefeitura Velha, o de Affonso Herbert para o Palácio do Governo Estadual, a casa de Júlio de Castilhos, atual Museu, e a Casa Torelly. Cita ainda o projeto da Igreja Nossa Senhora Auxiliadora, como eclético classicista. Ela assinala que “importa destacar que até 1920 o ecletismo classicista predominava dentre os projetos de prédios públicos. Entre 1898 e 1920, foram construídas o Paço Municipal, o Palácio Piratini, a Biblioteca Pública, a Escola de Engenharia, além de ter sido realizada a ampliação do Mercado Público. Na década de vinte, o estilo foi empregado em prédios destinados a diversos usos: educação, religião, comércio e serviços, como o Instituto Parobé, o cemitério São Miguel e Almas, a Livraria do Globo, sede de jornais, etc. Dentre as construções posteriores a 1930, pertencentes já a uma manifestação tardia do estilo, destacam-se duas construções voltadas ao ensino: o Instituto de Educação Flores da Cunha e o prédio do Instituto Porto Alegre (atual Centro Universitário Metodista IPA). Cabe ressaltar, neste grupo, a edificação do Clube do Comércio, em pleno centro da cidade, construído próximo a edificações em estilo mais contemporâneo, como o edifício Imperial.”

Schaffer também menciona manifestações do ecletismo neobarroco da primeira década do século XX em obras de grande porte como a Cervejaria Bopp, atual Shopping Total, a Faculdade de Direito da UFRGS, a Confeitaria Rocco, a sede dos Correios e Telégrafos, atual Memorial do RS, a Alfândega, atual Inspetoria da Receita Federal, a Delegacia Fiscal da Receita Federal, atual Margs, e a Faculdade de Medicina da UFRGS, cinco delas de autoria de Theodor Wiedersphan (1878-1952), que, junto com Rudolf Ahrons e Hermann Menchen, tornou-se conhecido pelo projeto da Casa Godoy, em estilo Art Nouveau, que, segundo a autora, “mostra que estes arquitetos estavam usando diversas linguagens em suas obras” (p. 44). A adoção do estilo barroco ao ecletismo deu-se, segundo a autora, porque “estas características alinham-se harmonicamente à dramaticidade do ecletismo, favorecendo aos arquitetos que adotam o estilo neobarroco a adição das linhas curvas ao desenho de aberturas, frontões e cúpulas. Os elementos da arquitetura clássica participam da ornamentação das fachadas dos prédios neste estilo, com alterações formais, como, por exemplo, os capitéis jônicos da Delegacia Fiscal, que incluem uma carranca no seu centro. Outra característica presente na manifestação deste estilo nas obras construídas em Porto Alegre é a composição de volumes recuados ou avançados em relação ao corpo da edificação, que ocorreu também no ecletismo classicista. Esta articulação acrescentou maior diversidade na composição de planos e volumes, permitindo superposições, ressaltos, planos curvos e sinuosos. A utilização de torreões, cúpulas em forma de bulbos e a exploração da teatralidade da estatuária na decoração das fachadas incrementam o contraste deste estilo frente aos demais estilos ecléticos” (p. 45).

Como primeira manifestação do ecletismo neobarroco, a autora cita o edifício Palacete Chaves Barcellos, antigo Hotel Wien, já demolido, na esquina das ruas Andradas e General Câmara. Quando começamos a aceitar a demolição de nossos primeiros prédios art nouveau? Quando aceitamos que estilos de torreão da esquina edificados sobre cobertura, um prédio com mansardas com frontões em arco aberto construído por Rudolf Ahrons em 1902, pudessem ser destruídos? O ecletismo foi um estilo muito rico em suas obras em Porto Alegre, seja por seus recuos avançados, seja pela presença de aberturas, frontões e cúpulas de grande riqueza visual. E complementa: “Esta articulação acrescentou maior diversidade na composição de planos e volumes, permitindo superposições, ressaltos, planos curvos e sinuosos. A utilização de torreões, cúpulas em forma de bulbos e a exploração da teatralidade da estatuária na decoração das fachadas incrementam o contraste deste estilo frente aos demais estilos ecléticos” (p. 45). É esse estilo que prestamos atenção quando passamos pela cidade, e o fazemos por nos identificarmos a ele.

A cidade do passado exige respeito

A arquitetura neoclássica e eclética moldou a cidade de Porto Alegre. O fato de apreciarmos mais esta arquitetura do que a atual, moldada por prédios lisos, deve ser observado pelos significados que revelam de nosso olhar. Nossa paixão pelas fachadas com detalhes, com os fragmentos delineados no concreto de uma história do passado, mostra uma conexão dos habitantes com a cidade: no passado, apreciávamos que uma cidade bela fosse o espelho que almejávamos para nossas relações sociais. Víamos na cidade essa espécie de comunidade espelhada, e os detalhes eram exatamente para isso: para que a respeitássemos, que lhe déssemos atenção. Quando uma cidade possui detalhes em sua arquitetura, ela é objeto do olhar; quando uma cidade é lisa, não, o olhar não se detém no fragmento. Quem foi o mestre de obras que se deteve em um detalhe do prédio? Que histórias contam seu proprietário para terem feito um prédio de uma determinada maneira? Se os prédios do passado têm uma característica, é exigirem respeito por sua forma. Por isso eles são um elo importante de comunicação entre uma geração e a seguinte: quando uma geração simplesmente destrói os prédios de outra, ela desrespeita uma memória, uma história. Cada detalhe antigo é nostálgico, é uma autenticidade impossível de ser dada pela arquitetura moderna, efêmera e impessoal. Aqueles que construíram os prédios daquela maneira revelam que aqueles porto-alegrenses tinham uma sensibilidade estética muito maior que a nossa, que seu desejo de preservar era sua forma de legar uma herança cultural e garantir uma continuidade histórica.

É o contrário do que vivemos  hoje, uma era de uma arquitetura light. Gilles Lipovetsky, em Da Leveza (Amarilys, 2016), afirma que a arquitetura moderna foi marcada pela adoção da leveza a partir do final do século XIX. “Na arquitetura surgiu uma nova abordagem em oposição aos estilos e gostos dominantes da época, marcados pelas fachadas imponentes decoradas com estuque, pela sobrecarga decorativa, pelas cornijas e pela solidez das construções. Três tipos de fatores abalaram de cima a baixo esse universo e estão na origem da arquitetura moderna. Primeiro, técnicas e materiais novos. Em seguida, um novo pensamento arquitetônico que, prescrevendo a adequação da forma à função, baniu a reprodução dos estilos históricos. Por fim, uma nova sensibilidade que, alimentada por uma nova sensibilidade alimentada por Cezanne, pelo cubismo e pela arte abstrata, privilegiava as formas elementares, planas, as linhas geométricas, as cores e as relações puras” (p. 209). A arquitetura antiga era do ornamento; a arquitetura moderna é sua recusa e substituição pela imagem, “uma arquitetura de sedução superestetizada” (p. 221). A era do arranha-céu substitui o desejo da monumentalidade por seu êxtase, numa estética minimalista linear e repetitiva. Você olha a cidade, mas o olhar não tem mais onde repousar. Essa mudança fala do porto-alegrense do passado e do presente; o do passado valoriza a técnica, o artesanato e a estética presente na paisagem da cidade, pois a estética é também um modo de vida. Ela valoriza o humano. Os prédios modernos não, eles são o inferno do igual, e por isso não expressam nosso reconhecimento pela complexidade cultural, pela história que os antigos carregam. Prédios modernos são feitos sem história. Sem raízes nas comunidades onde são construídos, ao contrário, fazem-se construir no lugar onde já havia prédios enraizados. Por isso dizemos: “tá brotando mais um”.

Sincronia arquitetônica da cidade com o mundo

Para a autora, nossa arquitetura, nosso ideal de cidade a partir do neoclassicismo, teve notável sintonia com a arquitetura europeia de meados do século XIX. Mesmo que o ecletismo aparecesse no Brasil, em Porto Alegre, com uma década de defasagem em relação ao mesmo estilo europeu, o fato é que a partir de 1850, houve uma notável mudança da paisagem da cidade, substituindo-se o estilo colonial por construções estéticas europeias. “Pouco mais de duas décadas depois, as primeiras manifestações do art nouveau na cidade não estão mais distantes do que 13 anos em relação ao respectivo modelo europeu”, diz (p. 93), E completa: “O art nouveau é um episódio concentrado entre 1907 e 1913, constituído por poucas obras de escala menor. Outros exemplares de estilos ou linguagens que não constituíram linhagem na cidade, que foram classificados como “estilos exóticos”, ocorreram em maior número entre 1920 e 1930.”

Na paisagem do século XIX, seus prédios foram os que melhor combinaram urbanidade com modernidade.  Foram construídas num período de grande efervescência política, o período do início da República, transformando-se em monumento de um sistema mais próximo das necessidades das massas do que o atual. Nascemos como um Porto, mas, ao longo de nossa história, extinguimos as fábricas de navios ao nosso redor, como o Estaleiro Só; nascemos como um assentamento urbano, mas foi somente a planta feita por Inácio Montanha, no distante período colonial, que deu unidade cultural ao assentamento da população açoriana na capital. Hoje, nosso Plano Diretor termina, de uma vez por todas, com quaisquer traços da proteção urbana pela qual lutaram seus antepassados, outra forma de negar o legado.

A cidade ao longo do tempo organizou a sua vida urbana e rural. Com suas fontes públicas e lugares de diversão para todos da cidade, a Porto Alegre do passado era mais próxima de uma cidade com urbanidade do que a atual, citinesse de que fala a socióloga Saskia Sassen, a capacidade de um espaço urbano expressar sua inteligência cívica e permitir que grupos e projetos, mesmo os marginalizados, se tornem presentes e visíveis. Hoje, a Prefeitura quer cobrar sobre os banheiros públicos, abrir a Rua da Praia para o acesso de carros, os quais já liberou junto ao Mercado Público. Se no passado tínhamos um ideal de cidade, no presente, temos uma não cidade que convive com a cidade: a não cidade dos excluídos. É claro que a privação dos pobres foi sentida nos dois períodos, mas surpreende que uma cidade moderna como Porto Alegre, com mais condições, conhecimentos e políticas para auxiliar sua população, termine por colaborar mais para com os interesses daqueles que somente querem depredá-la.   Por que me parece que os sinais de decadência de Porto Alegre são mais visíveis na metrópole atual do que na cidade do passado? “As cidades que se encontram em estágio terminal já não conseguem proteger seus cidadãos da violência, aplicar as leis contra a corrupção ou mesmo garantir o fornecimento de água potável e energia elétrica”, diz Sudjic (p. 20).

Porto Alegre foi uma cidade inventiva: adotou estilos notáveis para si mesma, similares aos europeus que tanto admiramos. Mas, num determinado momento, foi incapaz de se reinventar. Ao deixar-se levar pela crescente onda de urbanização, produziu um esquecimento que é o da vida em aldeia. Porto Alegre, em um determinado momento, deixou de ser somente Porto Alegre, conurbou-se e, como a cidade do México, não é mais uma única entidade política, já que a região metropolitana tornou-se presença. Ambos deixaram de ser o que eram, uma espécie de jardim do Éden, mais ou menos no período dos anos 40; os tamanhos das grandes cidades variaram muito então, seja Xangai, Nova Iorque ou Londres, mas a desigualdade acompanhou a consolidação do capitalismo em todas, exatamente como em Porto Alegre. Por isso Sudjic pergunta se há um tamanho ideal para uma cidade ser uma entidade cultural.

O legado é a diferença

O legado de Porto Alegre do passado para o presente é a diferença. Em termos urbanos, diferença é a qualidade ou condição de ser distinto, de Porto Alegre do passado não ser igual a outra cidade, pois possui características próprias em sua paisagem. Esse reconhecimento leva a conclusão de que Porto Alegre é uma cidade singular, que tem identidade própria, que envolve seus cidadãos, que possui uma sensibilidade. A Porto Alegre do presente está se tornando indiferente, isto é, não provoca atenção ou reação de alguém pois está se tornando igual a tantas outras no planeta. Ela não nos envolve mais como a cidade do passado, porque ela se mostra insensível, e seus cidadãos, se mostram cada vez mais distantes emocionalmente.

Do passado, sabemos que o planejamento urbano é melhor que o não planejamento ultraneoliberal ou laissez-faire, apresentado pelo governo municipal. A história de Porto Alegre ensina que cidades com subúrbios dispersos são melhores do que a cidade densa pretendida pelos especuladores e defendido pela Prefeitura: o Estado justo é sempre melhor guia para expansão da cidade do que o mercado. Reformar para expulsar os pobres não é um bom caminho, como a reforma de Paris mostrou. “Uma cidade é, até certo ponto, o produto daqueles que projetam e constroem suas edificações. Ela é determinada pelas transformações na tecnologia e pelas mudanças nos padrões de interação social” (p. 36-37).

Porto Alegre não é uma criação estática, ela muda e se desenvolve. É preciso voltar ao passado mais uma vez, aprender com àqueles indivíduos o motivo que eles construíram a cidade daquela maneira. Não podemos compreender imediatamente o que fez Porto Alegre ser o que é, mas podemos dar linhas para entender a cidade em que vivemos e as melhores formas de prevenir seu crescimento excessivo, para que as pessoas não fiquem tristes na cidade que habitam.  Se fizermos isso, teremos chance de deixar um legado positivo para as novas gerações. 



Publicado originalmente Sler.

*Jorge Barcellos é graduado em História (IFCH/UFRGS) com Mestrado e Doutorado em Educação (PPGEDU/UFRGS). Entre 1997 e 2022 desenvolveu o projeto Educação para Cidadania da Câmara Municipal. É autor de 21  livros disponibilizados gratuitamente em seu site jorgebarcellos.pro.br. Servidor público aposentado, presta serviços de consultoria editorial e ação educativa para escolas e instituições. É casado com a socióloga Denise Barcellos e tem um filho, o advogado Eduardo Machado. http://lattes.cnpq.br/5729306431041524

Foto de capa:: Foto: Jefferson Bernardes / PMPA

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