Nós queremos vivas!
Por SILVANA CONTI*
Nós, mulheres que carregamos mundos, que reacendemos fogueiras onde tentaram apagar a vida, que transformamos dor em coragem e silêncio em voz, nos levantamos.
E nos levantamos com as que vieram antes, as que abriram a vereda no escuro, as que teceram coragem quando o mundo dizia não, as que enfrentaram violência, fome, ditadura, racismo, e mesmo assim plantaram futuro.
Caminhamos com nossas ancestrais, mulheres de resistência, de axé, de fogo e memória, porque é delas que vem a força que sustenta esta luta.
E é com elas que afirmamos: Não recuaremos.
Porque sabemos a verdade dura e necessária: a violência contra as mulheres não é desvio, não é exceção — é sistema.
Um sistema que mata, silencia, controla, que decide quem vale e quem pode morrer.
Sabemos quem mais morre: mulheres negras, mais de 60% das vítimas no Brasil.
Sabemos que o feminicídio mora dentro de casa, que armas multiplicam a morte, que a impunidade dá licença para continuar, que quando o Estado se omite, ele também agride.
Nos levantamos pelas mulheres indígenas, cujos corpos e territórios são atacados pelo mesmo projeto colonial.
Pelas mulheres lésbicas, punidas por amar outras mulheres.
Pelas mulheres bissexuais, tantas vezes apagadas, tantas vezes feridas pelo olhar que não as reconhece.
Pelas mulheres trans, que enfrentam as fronteiras mais cruéis do ódio.
Pelas mulheres pobres, periféricas, trabalhadoras, mães solo, idosas, deficientes —todas marcadas por violências que tentam ditar seus destinos.
Mas nós, herdeiras das que vieram antes, criadoras do que virá depois, não recuaremos.
Transformar a cultura: romper o machismo cotidiano, interromper piadas, silêncios e cumplicidades, educar para o respeito.
Fortalecer políticas públicas reais: delegacias especializadas abertas, casas-abrigo que acolham, saúde que não julgue, assistência social que proteja, justiça que faça justiça.
Colocar no centro quem mais sofre: mulheres negras, indígenas, trans, pobres.
Desarmar a violência: armas não protegem mulheres.
Armas as matam.
Responsabilizar homens:
romper pactos, confrontar amigos,
rever privilégios.
Nós queremos algo profundamente simples: viver.
Viver com liberdade.
Viver com alegria.
Viver com futuro.
E afirmamos, com a força das que vieram antes e das que virão depois: Não recuaremos.
Até que todas vivam.

Seguiremos na luta, guiadas pela ancestralidade, de mãos dadas no presente, abrindo caminho para o futuro.
*Silvana Conti
Porque a vida das mulheres é sagrada.
E nossa luta — antiga, viva, coletiva —não silencia.
Não se curva.
*Silvana Conti é professora aposentada da RME, Diretora de Formação do SIMPA, Membra do CC – Partido Comunista do Brasil, Direção Nacional da UBM na coordenação LBT, Mestra em Políticas Sociais e Doutoranda da Educação/UERGS.
Foto de capa: Silvana Conti




