Senado reage a decisão de Gilmar Mendes e prepara pacote de mudanças no STF e na Lei do Impeachment

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Brasília 02/12/2025 -O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, informou ao Plenário  que determinou o cancelamento do calendário de apreciação da indicação presidencial do advogado-geral da União, Jorge Messias, para integrar o Supremo Tribunal Federal (STF). Foto Lula Marques/Agência Brasil

A decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, de suspender trechos da Lei do Impeachment e restringir quem pode pedir a abertura de processos contra ministros da corte desencadeou uma reação imediata no Senado. Lideranças do Congresso, especialmente aliados do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), discutem agora um conjunto de propostas que incluem novas regras para impeachment, sabatinas periódicas de ministros e até ampliação do número de cadeiras no STF. As informações foram inicialmente divulgadas pela Folha de S.Paulo.

Decisão de Gilmar acirra tensão entre Poderes

No centro do impasse está a liminar de Gilmar Mendes que:

  • tornou exclusiva da Procuradoria-Geral da República a prerrogativa de apresentar pedidos de impeachment contra ministros do STF;
  • aumentou o quórum para iniciar um processo: deixou de ser maioria simples e passou a exigir dois terços do Senado, o mesmo quórum necessário para a decisão final;
  • barrou solicitações vindas de cidadãos comuns, prática que havia se multiplicado especialmente contra o ministro Alexandre de Moraes.

Gilmar justificou, em evento em Brasília, que havia uma “explosão de pedidos” usados como arma política. O ministro Flávio Dino apoiou a decisão, afirmando que o número de representações evidenciava “perseguição” a integrantes da Suprema Corte.

A avaliação, porém, irritou amplamente o Congresso. Apenas uma ala minoritária — entre eles o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ) — saiu em defesa da decisão.

Alcolumbre mobiliza Senado e põe alternativas na mesa

A cúpula do Senado reagiu rapidamente. Segundo parlamentares ouvidos pela Folha, aliados de Alcolumbre já discutem um pacote de retaliação institucional. Entre as medidas avaliadas estão:

1. Sabatina periódica dos ministros do STF

Proposta discutida entre senadores prevê que membros da Suprema Corte sejam novamente sabatinados a cada cinco anos, passando por reavaliação de sua permanência.

2. Aumento do número de ministros: de 11 para 15

Uma ampliação do colegiado — tema tradicionalmente sensível e com forte impacto político — voltou à pauta como forma de “reorganizar” o tribunal.

3. Estabelecimento de mandatos fixos

Atualmente vitalícios (até os 75 anos), os ministros poderiam passar a atuar por períodos determinados.

4. Retomada da PEC que limita decisões monocráticas do Supremo

A proposta, já aprovada no Senado e parada na Câmara, deve ser acelerada antes do recesso.
Ela restringe decisões individuais de ministros e amplia o controle do Parlamento sobre o impacto de liminares.

5. Nova lei de impeachment: retomada do projeto Pacheco

Alcolumbre articula para votar, ainda em dezembro, o projeto de 2023 elaborado por uma comissão de juristas liderada por Ricardo Lewandowski, então ministro do STF.

Esse texto redefine crimes de responsabilidade e inclui:

  • juízes, desembargadores e membros do Ministério Público entre as autoridades sujeitas a responsabilização;
  • possibilidade de sindicatos, partidos e OAB protocolarem denúncias;
  • prazo para que o presidente da Câmara decida se aceita denúncias contra o presidente da República — hoje, pode engavetá-las indefinidamente.

Segundo a Folha, houve conversa direta de Alcolumbre com o relator, senador Weverton Rocha (PDT-MA), para que o parecer seja apresentado já na próxima semana.

Objetivo: votar tudo antes do recesso

A irritação com a liminar de Gilmar acelerou discussões que estavam paradas desde 2023. A avaliação da cúpula do Senado é que este é o momento de recuperar protagonismo institucional e “recolocar limites” sobre o Supremo.

Senadores afirmam que a oposição, que vinha tentando avançar com PECs mais agressivas — como a que permite que qualquer cidadão apresente pedido de impeachment contra ministros — deve ser contida. O entendimento é de que o foco será atualizar a Lei do Impeachment de 1950, e não ampliar a judicialização das crises políticas.

Crise se conecta à disputa por vaga no STF

Nos bastidores, a crise também tem pano de fundo político. A sucessão no Supremo, após a indicação de Jorge Messias por Lula — escolha que frustrou parte do Senado — deteriorou a relação entre Alcolumbre e o Planalto.

Segundo a Folha, uma ala majoritária do governo avalia que a polêmica sobre impeachment acabou “tirando o foco” da sucessão, abrindo chance para reconstruir pontes. O ministro Alexandre Padilha (Saúde) viaja com Alcolumbre ao Amapá para agendas conjuntas, e interlocutores veem espaço para recomposição.

Clima volta a azedar após fala de Lula sobre emendas parlamentares

A tentativa de aproximação, porém, sofreu novo revés. Durante reunião do “Conselhão”, Lula criticou duramente as emendas parlamentares, chamando de “erro histórico” o fato de o Congresso controlar metade do Orçamento da União.

A declaração repercutiu imediatamente no plenário. Segundo relatos, Alcolumbre recebeu uma ligação de um deputado e reagiu ao vivo:
“Que sequestro?”, questionou, lembrando que o Senado trabalhava para aprovar a LDO desejada pelo governo e medidas que ajudavam os Correios.

Cenário: disputa institucional se intensifica

A crise entre Senado e STF, turbinada pela decisão de Gilmar Mendes, abriu um dos capítulos mais tensos da relação entre os Poderes desde 2016. O Congresso agora move peças para recuperar terreno e tentar reconduzir o Supremo a uma moldura mais limitada.

Enquanto isso, ministros da Corte defendem que a avalanche de pedidos de impeachment promove instabilidade e cria ambiente de intimidação.

O recesso parlamentar começa em poucas semanas — e até lá, a pressão política, legislativa e pública deve aumentar.


Imagem destacada: Lula Marques/Agência Brasil

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