Por ANGELO CAVALCANTE*
Demorei para fiar minhas considerações sobre o dito “debate” entre o professor Elias Jabour (UERJ) e o showman Pablo Marçal; meu atraso se justifica por um monte de eventos de dimensões nacionais e que foram se somando, se articulando e atropelando frontalmente nossos sentidos.
Pois sim…
…Sobre o embate Jabour/Marçal confesso que, em primeiro, não havia entendido bulhufas de nada desse insólito encontro posto que estou a tratar de, digamos assim, “água e óleo”.
Ora, não se misturam, não se somam, não dá liga, e não gera síntese!
As razões são óbvias, destacadas e claras; Elias Jabour é um acadêmico, um pensador, dos principais analistas latino-americanos em China e militante atento, afiado, moderno e ligado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) com todos os vínculos e influências históricas e que um partido feito o PCdoB possui.
Na outra ponta, se acha uma das figuras mais bizarras, grotescas e vis do ponto de vista político e que, por lembrança, até cadeirada no lombo já levou por conta dos acintes, ataques e baixarias e que, sem rédeas, perpetrou contra, sobretudo, o jornalista José Luís Datena na eleição municipal de 2024 ao governo de São Paulo.
Bom…
Na refrega, Jabour, na educação que lhe cabe, tratou de economia, Brasil, China, comunismo, socialismo e de possibilidades de existência fora das grades e moendas do capital; na outra parte, Marçal, triunfal e prepotente, desfilava um rosário de autoelogios numa performance nonsense de autopromoção e de um narcisismo para bem adiante dos espelhos de Narciso.
Inacreditável!
A estratégia assumida por Jabour era clara! Sugeria um debate científico, histórico e material; Marçal com a profundidade de um pires, percebeu a estratégia do professor e reagiu.
Como reagiu?
Ora… No de sempre! Com ofensas, disparates e agressões gratuitas e sem sentido.
Eu compreendo! É que o senhor Marçal não podia, de forma alguma e por razões óbvias, adentrar na seara de análise e sutilmente proposta por Jabour posto que seria, claro, vaporizado.
O confronto, desse modo, parecia um cabo-de-guerra onde, Elias Jabour, em inacreditável equilíbrio zen-budista, não perdeu a linha, não se decompôs e incrível, se conteve do começo ao fim; Marçal, por sua vez, seguiu de maneira monótona e maçante, afirmando sua dúbia trajetória onde se aproveitou para lançar luzes sobre certo empreendedorismo pessoal e… Por aí se ancorou.
Foi uma quase perda de tempo!
O pedagógico desse processo e aberto, também, por Elias Jabour, é que a bolha ou a imensa e galática bolha da direita fora rompida.
Lembrei da saga Star Wars, onde o “The One” Luke Skywalker é chamado para o lado odiento da força sem se contaminar pela fúria, pela destruição e pelo desejo de poder. É um “estar/não estar” nesse contexto e, de fato, condição para o ensaio de formas novas de resistência e enfrentamento.
Há também o icônico “Matrix” onde, a resistência entra, ingressa na “Matrix” para resistir e confrontar o “deserto do real” (Zizek). Equilíbrio, concentração e ataraxia!
Pois sim, como já não há sentido em pregar para convertidos, Jabour se atreveu a performar formas próprias de atuação e desempenho político em um campo dominado majoritariamente pelas direitas e, nesse momento, completamente dispostas a incendiar o país com tanto ódio, mágoa e ressentimento.
Nem fogo queima tanto!
Quase havia esquecido… A acidulante parla a envolver Jabour/Marçal já ultrapassa um milhão de visualizações e isso IMPORTA !
Uma saudação ao professor Elias Jabour, pela disciplina, pela retidão e pelo estômago!
Eventualmente, sua qualidade e potência intestinais tenha origem talvez, provavelmente e quem sabe, nos molhos e azeites dos férteis e fragrantes olivais do Líbano.
Ferro nos fascistas!
Hasta!
*Angelo Cavalcante é economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Itumbiara.
E-mail : angelo.cavalcante@ueg.br
Foto de capa: Reprodução




