Por HENRIQUE MORRONE*
No Brasil, a pergunta que costuma organizar o debate é: por que crescemos tão pouco?
Mas talvez a pergunta mais importante seja outra:
quem perde quando o país cresce?
Essa pergunta desloca o eixo da análise.
O país desenvolveu, ao longo das últimas décadas, um temor institucional ao crescimento.
Não se trata de falta de vocação, nem de incapacidade produtiva.
É um medo político e econômico.
Quando o crescimento é contínuo, algo decisivo ocorre:
a renda do trabalho tende a avançar mais rápido do que a renda do capital.
Isso muda a correlação de forças na economia e na sociedade.
Crescimento sustentado costuma produzir:
– mais emprego formal,
– maior participação do salário no PIB,
– ampliação do mercado interno,
– e uma classe média capaz de atuar como sujeito político.
Ou seja: crescimento redistribui poder.
E isso incomoda quem se beneficia quando o país não se move.
No Brasil, há grupos que ganham com a estagnação:
– o sistema financeiro,
– setores empresariais oligopolizados,
– elites políticas que administram o curto prazo,
– e parte do setor da construção civil voltado à alta renda.
Nesse segmento, construir significa reproduzir enclaves privados de bem-estar.
É um modelo de negócio pautado na gentrificação contínua.
A desigualdade não é problema — é insumo econômico.
Há também empresários que evitam inovar.
Não por falta de capacidade, mas porque o ambiente econômico pune o risco produtivo.
Nesse contexto, a classe média se fragmenta.
Sem crescimento, ela se divide entre a defesa de privilégios e o risco permanente de queda.
A pobreza cresce não por falta de riqueza, mas porque a riqueza não circula.
O Brasil não é incapaz de crescer.
É temeroso de crescer porque crescer redistribui poder.
Enquanto o temor orientar o futuro, o futuro seguirá adiado.
Quem lucra com um país que permanece imóvel?
*Henrique Morrone é Economista e professor do Departamento de Economia da UFRGS.
Foto de capa: Reprodução/Shuttrestock economia




